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Opinião

Jogos de azar: será que realmente vale a pena legalizar?

02 outubro 2017 - 15h59Sálua Omais

O dinheiro na mente do jogador representa vários sonhos, entre eles o sonho da valorização dentro do círculo social, da aprovação social e do respeito. Os principais motivos que levam uma pessoa a jogar são: diversão, entretenimento, ganhar dinheiro, evitar a tristeza e fuga dos problemas diários. De início o jogo funciona como uma forma de recreação, até o dia que ele começa a perder, e começa a apostar ainda mais para reparar suas perdas, o que acaba levando-o a adquirir um sério problema: o jogo patológico. Estudos confirmam que, para cada indivíduo com o transtorno, aproximadamente quatro dentro do seu círculo social sofrem algum tipo de prejuízo em função do jogador, dentre eles os cônjuges, filhos, pais, avós, amigos, colegas de profissão e terceiros, tanto do ponto de vista jurídico, econômico como psicossocial.  

A ação procurada pelo jogador significa emoção e tensão. Isso faz com que muitos jogadores passem dias sem dormir, sem comer e até mesmo sem ir ao banheiro. As estruturas cerebrais ativadas enquanto a pessoa está jogando são as mesmas que uma pequena infusão de cocaína ativaria, o que demonstra que ambos o jogo e a droga ativam as mesmas estruturas cerebrais. O jogador, quando chega perto de uma vitória no jogo, não percebe que na verdade “perdeu” o jogo, mas tem a falsa ilusão de que está “quase-ganhando”, e por isso faz novas tentativas, mesmo sabendo-se que as chances de sucesso matematicamente são pequenas.

Psicologicamente o jogador passa a apresentar estados de animo negativos, irritabilidade, stress, ansiedade atitudes defensivas, perda da auto-estima e da autoconfiança, chegando a experimentar sentimentos de fracasso, impotência e desesperança, além de outros problemas como fobias, comportamento antissocial, depressão,  uso de drogas e alcoolismo. Com relação a família, as principais consequências decorrentes do jogo são a degradação da condição financeira da família, as mentiras, indiferenças, negligência no cuidado com os filhos, a perda de confiança dentro do ambiente familiar, discussões frequentes, violência doméstica, separação e divórcio. No âmbito profissional, o jogador tem vários prejuízos como faltas e atrasos frequentes, baixa qualidade do trabalho, baixo nível de concentração, mau humor, conflito com os colegas, perda de boas oportunidades no cargo, e perda do próprio emprego. Alguns precisam recorrer a mentiras para justificar as faltas, atrasos e as “escapadas” do serviço.  Do ponto de vista legal, alguns jogadores se engajam em fraudes a companhias de empréstimos, de seguro, sonegação, furtos, comportamentos antissociais, venda de drogas, e crimes de colarinho branco. 

Jogadores patológicos apresentam maior risco de desenvolver problemas com uso de drogas do que a população em geral, além do envolvimento com comportamentos sexuais de risco, com alta exposição a doenças venéreas, além das tentativas de suicídio, as quais podem alcançar um índice 5 a 10 vezes maior do que o da população em geral. Alguns jogadores recorrem à prostituição, em virtude das dificuldades financeiras, como um meio de obter dinheiro para pagar seus débitos, ou então, a financiar mais jogo, e por sua vez, a compra de drogas. 

O consumo de álcool é um dos fatores que mais influencia negativamente no autocontrole, pois mesmo pequenas doses já possuem um efeito significativo, enfraquecendo ainda mais a capacidade racional e de julgamento do jogador ao jogar. A bebida pode ser usada tanto como um meio de evitar a culpa pelas perdas do jogo, como o jogo pode ser usado como uma maneira de se obter dinheiro para a compra de mais bebidas, e, ainda que o indivíduo consiga se afastar do uso do álcool, os problemas familiares, profissionais, financeiros e emocionais por si só, podem ser suficientes para fazer com que o mesmo tenha novas recaídas sobre o vício, além do fato de que geralmente bebidas estão de alguma forma presentes na mesa de jogo.

Vários estudos que relatam que a legalização dos jogos de azar tende a aumentar os índices do problema na sociedade, pois à medida que a oferta de jogo aumenta, o número de jogadores aumenta também, em virtude da facilidade de acesso. Assim como o álcool, algumas formas de jogo são legalizadas, e isso faz com que o jogador pense que, por ser uma atividade legal, ele só a usa para recreação, além do fato de que alguns ganham boas quantias de dinheiro, trazendo presentes e dinheiro aos familiares, o que mascara os efeitos das perdas. 

O custo do jogo nos EUA, é de 5 bilhões de dólares ao ano, fora os custos com desemprego, tratamento médico, psicológico, campanhas de prevenção de uso de drogas e suicídio, entre outros. Além disso, essa estimativa de prejuízo financeiro ainda não é totalmente fiel, visto que o sofrimento emocional e psicossocial não podem ser totalmente quantificados materialmente, como no caso por exemplo de suicídio, ou de um divórcio, a perda de confiança entre os cônjuges, as lágrimas, o sofrimento, o ressentimento, a vergonha, e todos os outros sentimentos que deixam profundas cicatrizes emocionais, provocando impactos não só sobre o indivíduo, mas sobre o cônjuge, pais, filhos, prejudicando e fragilizando toda a estrutura familiar.

Sálua Omais é Psicóloga com Mestrado em Psicologia da Saúde e Saúde Mental, Master Coach e Trainer Internacional em Psicologia Positiva, Neurossemântica e PNL. É titular do site www.psicotrainer.com.br onde escreve artigos diversos sobre Psicologia Positiva, Coaching e Inteligência Emocional.

 

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