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Brasil

Inspirados em Isadora, 'Diários de Classe' se multiplicam no Facebook

05 setembro 2012 - 11h00Reprodução / Facebook

Em menos de dois meses, a estudante Isadora Faber, de 13 anos, conseguiu, por meio das redes sociais, pressionar o governo para conseguir melhorias importantes em sua escola. O sucesso da iniciativa da aluna, que conseguiu uma reforma de emergência na escola onde estuda e uniu pais, alunos e professores, tem servido de inspiração para crianças, adolescentes e jovens de todas as partes do país.

Desde a quarta-feira (29), dezenas de páginas semelhantes foram criadas no Facebook para expor problemas como janelas quebradas, salas de aula sem ventilação e falta de professores. Muitas páginas tentam seguir o modelo do diário de Isadora.

Desde que ganhou notoriedade, a estudante catarinense passou a receber também milhares de mensagens no seu perfil. A maioria é de alunos parabenizando-a e pedindo dicas de como criar uma página semelhante. Na tarde de terça-feira (4), por exemplo, Isadora tinha mais de 3 mil mensagens não lidas. Ela disse que às vezes tenta ler tudo. “Eu tento ler o máximo possível. Sempre tento responder para não ser mal-educada”, afirmou. Às vezes, ela também faz um único post respondendo às dúvidas de várias pessoas.

Outros "Diários de classe" surgiram no Facebook após a sua página ganhar destaque. São páginas criadas pelos internautas com o objetivo de mostrar os problemas de suas escolas de cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Pará, Paraná, Paraíba, Minas Gerais e Santa Catarina.

Um deles foi criado pela estudante Sâmia de Souza Araújo, de 15 anos, que cursa o 1º ano do ensino médio no Liceu de Humanidades de Campos, em Campos de Goytacazes (RJ). "Eu vi a reportagem no Fantástico de domingo e achei muito interessante. A Isadora é tão nova e teve coragem de fazer isso, falar sobre a escola dela. Não é só porque a escola é pública que não temos o direito de ter melhorias", afirmou Sâmia.

A página foi criada por ela na noite de domingo (2) e, no dia seguinte, ela começou a angariar o apoio dos colegas. Já conseguiu a ajuda de uma amiga para produzir as fotos e vai contar com a divulgação dos alunos que coordenam a rádio do colégio e o grêmio estudantil.

Sâmia conta que nunca teve aula de química, mesmo já tendo cursado mais de meio ano no ensino médio. "A gente pergunta e eles só dizem que não tem professor para dar aula", conta a aluna. Outra crítica é quanto à ventilação nas salas de aula. Segundo a adolescente, a direção diz que não pode instalar ar-condicionado porque o prédio do Liceu, fundado no século 19, é histórico. "Eles dizem que não podem, mas na secretaria tem ar-condicionado. E nós queremos ar-condicionado, podem colocar ventiladores. Na minha sala, tem só um ventilador, e ele está quebrado."

A mãe de Sâmia, a depiladora Giselle Pessanha de Souza, de 33 anos, afirmou que a história de Isadora a aproximou dos problemas da escola da filha. "Nem sabia que a escola estava com uma situação tão trágica quanto a da Isadora. Se ela não tem aula de química, como vai passar no vestibular? Falei para a Sâmia: 'Faz a página, quem sabe muda alguma coisa na sua escola'", disse ela.

Segundo Giselle, o Liceu é um dos colégios mais conhecidos da cidade. "É um patrimônio histórico. Ela não tem todos os professores, mas tem professores muito bons. O Liceu não é 100% ruim, tem muita coisa boa. Eu não queria que ela saísse da escola, mas ela precisa melhorar."

Em nota, a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro (Seeduc-RJ) afirmou que há carência de professor de química em apenas uma turma da 1ª série do ensino médio do Liceu. A Seeduc diz que já está tomando as providências necessárias para suprir esse déficit, convocando professores concursados e liberando o pagamento de horas-extras e que o prédio do Liceu de Humanidade de Campos é tombado. Portanto, é proibido instalar aparelhos de ar-condicionado nesta unidade, mas todas as classes têm ventilador.

Sobre a iniciativa da estudante em registrar na internet os problemas da escola, a Seeduc-RJ diz: "A Seeduc apoia todo e qualquer tipo de manifestação que venha contribuir para a melhoria dos espaços escolares. Contamos com a participação da população, pois a rede estadual conta com 1.358 escolas distribuídas por 92 municípios do Estado. É importante que toda a comunidade colabore na preservação e denuncie à Seeduc quem deteriora o bem público."

Fiação exposta
Na segunda-feira (3), um dia após criar seu "Diário de Classe", o estudante Pablo Emanuel Ferreira, de 15 anos, caminhou pela escola estadual em que estuda, em Jaraguá do Sul (SC), e registrou em fotos problemas de infraestrutura como fiação elétrica exposta caindo de buracos no teto, janelas e portas quebradas e paredes com pintura improvisada. “Eu acho que a gente talvez não consiga uma solução, mas pelo menos as pessoas vão ficar sabendo do que realmente está acontecendo. O patrimônio da escola está bem descuidado.”

Pablo afirma que já conseguiu o apoio de vários colegas, mas ainda não teve coragem de comunicar os professores. “Não levei a ideia para frente ainda pelo receio de ter alguma briga, alguma coisa assim”. Morador do mesmo estado de Isadora, ele conta que teve a ideia ao ver a reportagem sobre a menina no Fantástico, mas afirma que a repercussão do diário da garota e o debate sobre a qualidade da educação e a participação dos estudantes na exigência de melhorias ainda não chegou à sua escola.

Medo de prejuízo
No Espírito Santo, uma estudante de 16 anos também teve a ideia de usar as redes sociais para denunciar as necessidades de melhorias em sua escola. Mas ela e a mãe, uma balconista de 39 anos, temem identificar a si mesmas e ao colégio para não sofrerem represálias. "Eu admiro a coragem e a atitude dela, mas desde que seja uma coisa que venha em melhoria da escola. Não quero que prejudique a escola, os professores e nem ela mesma", contou a mãe.

A aluna, atualmente no segundo ano do ensino médio técnico em informática de uma escola estadual considerada de qualidade em Castelo (ES), diz que, quando entrou na escola, no início de 2011, ela já estava em uma reforma que ainda não acabou. "Só um terço da reforma está pronta", afirmou a aluna. "Todo mundo acha que o ensino lá é muito bom, porque é uma das melhores escolas. E é, mas ela também tem muitos problemas que têm que ser resolvidos."

Durante todo o primeiro ano do ensino médio, a turma dela estudou em uma sala de aula improvisada no pátio do colégio. "Era uma estrutura de plástico com areia, não sei bem, e ficava perto das árvores. Quando chovia, entravam uns bichinhos que tinham um cheiro forte e ruim. Como o ginásio está em reforma, a educação física era sempre no pátio, e a única coisa que podíamos fazer era jogar vôlei", contou.

Neste ano, a turma dela já foi instalada na parte renovada da escola, mas um problema ainda persiste, sem perspectiva de solução. A estudante faz parte de um grupo de cerca de 40 alunos de cursos do ensino técnico, que têm aulas em período integral duas vezes por semana, entre 7h e 12h e 13h25 e 17h30. Porém, o cardápio da escola estadual inclui duas merendas, às 9h e às 15h, nas quais é servido um almoço, com arroz, feijão e mistura. "Isso desregula totalmente a nossa alimentação, comemos almoço de manhã e à tarde e, na hora do almoço, às vezes recebemos um lanche, que geralmente é um biscoito e um suco."

A mãe conta que já precisou levar comida para a adolescente. Segundo ela, hoje em dia apenas cerca de 10 alunos almoçam na escola, inclusive ela. "Os estudantes tentam encontrar parentes que moram perto para almoçar lá. Como eu moro longe, não tenho tempo de ir até em casa."

A garota explicou que os alunos já tentaram conseguir melhorias diretamente com a direção, mas sempre ouviam as mesmas respostas. "A maioria dos problemas de que a gente reclama, a diretoria diz que está tentando resolver, mas que não pode porque o assunto é com a secretaria do estado", conta. Por isso, ela decidiu tentar conseguir o mesmo apoio público de Isadora para pressionar o governo a agir.

As dicas de Isadora
A estudante Isadora Faber achou válida a iniciativa dos alunos de mostrarem os problemas em suas escolas e deu algumas dicas para quem quer fazer uma página como a dela. "Tem que colocar fotos para poder provar o que está sendo falado. E é bom ir postando o material aos poucos, e não tudo de uma vez, para não ficar chato."

A criadora do "Diário de classe" afirmou que não conhecia a página criada pela estudante Sâmia, sobre os problemas da escola Liceu de Humanidades de Campos, em Campos de Goytacazes (RJ). Ela diz que a página ainda tem pouco material. “Mas está no sentido da minha, mostrando o que está quebrado”.

Sobre a página da escola de Jaraguá do Sul (SC), Isadora disse "está no caminho certo". A menina afirmou ainda que o diário sobre a escola de Castelo (ES) ainda precisa de ajustes. "As fotos não têm muitas explicações."

A única página que a garota já conhecia era a da Escola Estadual de Ensino Médio Profº Pedro Augusto Porto Caminha (Eepac). Segundo ela, um professor da escola, que fica em João Pessoa, na Paraíba, a contatou via Facebook. Ela entrou na página e pediu que eles curtissem o "Diário de Classe" dela. “Os professores estão apoiando, isso é muito bom.”

A menina explicou que é preciso evitar expor alunos e professores, e só citar nomes se for mesmo necessário. Um exemplo de quando foi preciso foi durante os posts sobre as aulas do professor de matemática, que acabou afastado pela Secretaria de Educação de Santa Catarina.

Via G1

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