Menu
Menu
Busca sexta, 25 de abril de 2025
Brasil

PF leva drible de empresa e ganha sede fantasma na fronteira

02 abril 2013 - 10h54Maria Anffe/Folhapress
São Julião

Um esqueleto de paredes sem reboco chama a atenção de quem passa ao lado da acanhada sede da Polícia Federal em Cáceres (MT), município na fronteira com a Bolívia considerado uma das principais portas de entrada de drogas, contrabando e armas ilegais no país.

A estrutura é o símbolo de um drible que a PF levou de uma empreiteira do estado, e hoje serve somente como garagem improvisada para carros quebrados da polícia.

Iniciada em 2009, a obra se destinava a abrigar uma nova delegacia - com dois pavimentos, amplos e modernos gabinetes, auditório, estande de tiro e até heliporto.

Passados quatro anos, porém, o mato tomou conta do terreno, e a placa oficial, anunciando um investimento de R$ 5,5 milhões do Ministério da Justiça, desabou.

A empreiteira contratada, Salomão Construtora e Terraplenagem Ltda., abandonou o canteiro em março de 2010, deixando dívidas com dezenas de operários e fornecedores locais e uma série de dúvidas sobre a licitação conduzida pela Polícia Federal.

À ocasião, segundo dados do Portal da Transparência do governo federal, a empresa já havia recebido um total de R$ 1.029.712,65, dentro do programa chamado "Modernização da Polícia Federal".

"A empresa tinha sido contratada pela PF. Como é que eu iria desconfiar? Forneci toda a madeira e quase fui à falência", disse Francisco do Prado Junior, dono de uma madeireira que afirma ter levado calote de R$ 150 mil.

O advogado que representa 23 operários da obra em ações na Justiça do Trabalho chegou a obter a penhora de uma fazenda que, segundo o contrato social da construtora, representava 88% de seu capital social.

A propriedade nunca foi localizada. "Foram feitas diligências por oficiais de Justiça, mas a fazenda existe só no papel. Não há registro em lugar algum", diz o advogado Eduardo Sortica de Lima.

Com o valor declarado de R$ 3 milhões, a propriedade passou a constar do patrimônio da Salomão cinco meses antes da abertura da concorrência pela PF. "Sem essa mudança, a construtora não teria nem se habilitado a disputar uma obra daquele tamanho", afirma o advogado.

A PF rescindiu unilateralmente o contrato. Em dezembro passado, uma nova empresa foi contratada para retomar a obra, mas a partir de um projeto mais modesto.

Por falhas na execução, a parte já concluída não suporta um segundo pavimento.

"Não haverá mais estande de tiro ou heliponto ", diz o delegado Leonardo Machado, chefe da delegacia local da PF.

Ainda assim, segundo ele, a mudança vai favorecer a atuação da equipe, hoje sediada de modo improvisado em uma casa doada pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

No ano passado, a delegacia, responsável por 800 km de fronteiras, apreendeu mais de 1.200 quilos de pasta-base boliviana.

A PF em Mato Grosso informou que as obras foram retomadas em março e devem ser concluídas em outubro.

Disse ainda ter aplicado multa de R$ 500 mil à construtora Salomão por descumprimento de contrato.

Outro lado
O empresário Wagner Salomão, diretor-geral da Salomão Construtora e Terraplenagem Ltda., disse que sua empresa é que foi lesada durante a execução da obra para a Polícia Federal. Segundo ele, o abandono do canteiro foi o "último recurso".

"Se alguém levou baile nessa história, fomos nós. Recebemos um projeto cheio de erros e tentamos cumprir. Mais tarde, usaram esses mesmos erros para bloquear nossos pagamentos. Ficamos quatro meses sem receber", disse.

Segundo ele, a empresa está na Justiça para tentar obter cerca de um R$ 1 milhão da PF. "Projeto, planilhas, formas de execução, tudo foi feito pela PF. Nós pegamos o projeto e o executamos a risca, sob os olhos de 11 fiscais todo o dia. E agora não querem pagar?"

A área agrícola que passou a constar do capital da empresa, segundo ele, existe e está registrada no cartório de Paranatinga (MT). "É uma posse, mas está registrada." Ele admite, porém, que a propriedade fica dentro de uma área possivelmente indígena.

Mesmo sem o aporte de capital, afirmou, a empresa conseguiria se habilitar à concorrência. "Você acha que a gente iria tentar um golpe justamente em cima da Polícia Federal?"

A superintendência da PF em Cuiabá negou que tenha havido atraso nos pagamentos à construtora. Das 6 medições realizadas, segundo a assessoria de imprensa do órgão, 4 foram pagas regularmente antes do abandono do canteiro.

"Na quinta medição foi emitida uma nota fiscal em 19 de fevereiro de 2010 e não foi quitada porque a contratada abandonou a obra (...) acumulando um atraso de 48,96% [no cronograma]", disse a superintendência.

Via Folha

Reportar Erro
São Julião

Deixe seu Comentário

Leia Também

Fernando Collor de Mello -
Justiça
Moraes manda prender Collor por esquema com a BR Distribuidora; veja decisão
 Foto: Cristina Aparecida Almeida Candini/Arquivo Pessoal
Brasil
Celular explode no bolso e homem fica gravemente ferido
Foto: Pixabay
Brasil
Governo prorroga regra que garante "água grátis" em grandes eventos
Escândalo no INSS: AGU promete ação para recuperar bilhões desviados
Brasil
Escândalo no INSS: AGU promete ação para recuperar bilhões desviados
Ricardo Lewandowsk, Davi Alcolumbre, presidente Lula, Hugo Motta e Gleisi Hoffmann
Brasil
Lula entrega PEC da Segurança Pública ao Congresso
Em Campo Grande, os manifestantes se concentram na Praça Ary Coelho -
Educação
Professores de MS se unem em paralisação em defesa da educação pública
Praça sera restruturada
Brasil
Praça dos 3 Poderes será reformada até o ano que vem
Plataforma de petróleo na Bacia de Campos pegou fogo
Brasil
Incêndio atinge plataforma de petróleo na Bacia de Campos
Lula decretou luto
Brasil
Lula decreta luto oficial de sete dias pela morte do Papa Francisco
Mulher que envenenou ovo de Páscoa que matou criança agiu por ciúmes do ex
Brasil
Mulher que envenenou ovo de Páscoa que matou criança agiu por ciúmes do ex

Mais Lidas

Èder está desaparecido desde o feriado de Tiradentes em Campo Grande
Cidade
Viu o Éder? Rapaz desaparece e preocupa família em Campo Grande
Jorge, caseiro morto por onça em Aquidauana, é sepultado em caixão fechado
Geral
Jorge, caseiro morto por onça em Aquidauana, é sepultado em caixão fechado
Jorginho alimentava onça que o matou, afirmam autoridades
Polícia
Jorginho alimentava onça que o matou, afirmam autoridades
Onça-pintada mata caseiro em MS
Meio Ambiente
Onça que matou 'Jorginho' pode ter sido cevada e perdeu medo de humanos, diz especialista