A trama gira em torno do tráfico de drogas no circuito Colômbia-México-Estados Unidos e tem o colombiano Pablo Escobar (1949-1993) como um dos personagens centrais. "A série vai permitir que a gente fale sobre a natureza da política antidrogas", disse à Folha em São Paulo.
"É uma história colombiana, mas também americana porque Pablo Escobar virou quem é por causa da demanda dos EUA", diz Padilha sobre a série, que deve ser falada em inglês e espanhol.
Para interpretar o traficante, pensou em Wagner Moura. "Conversaremos na quinta [hoje] sobre isso. O Netflix quer e acha genial ele ser o Pablo Escobar. E eu acho que o Wagner vai arrebentar como Escobar. É um ator do nível dos melhores do mundo."
Moura confirmou à Folha a participação na série de José Padilha.
Outros quatro projetos dividem, com o de Pablo Escobar, a atenção do diretor. O primeiro é uma ficção científica para o estúdio Warner Bros, que espera dirigir.
Padilha desenvolve ainda um filme a partir do roteiro sobre a tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, escrito por Nick Schenk ("Gran Torino", 2008) e dirige uma das histórias do longa "Rio, Eu te Amo".
Por último, tem entrevistado pessoas de destaque nas manifestações pelo Brasil desde a morte do cinegrafista da Band Santiago Andrade. O trabalho é feito em parceria com o diretor de fotografia Walter Carvalho e Felipe Lacerda, codiretor de "Ônibus 174" (2002).
Esta última atividade é a mais incerta: Padilha diz que não tem ideia sobre qual será o produto final. "A gente decidiu não ficar dizendo o que é o filme. Vamos documentar, apenas. Aconteceu uma coisa, apareceu uma pessoa chave, a gente vai e filma", afirma o cineasta.
Já sobre as imagens das manifestações, Padilha diz que espera usar o material feito pelos próprios manifestantes e pela polícia. "É um pouco como é o 'Ônibus 174', eu não filmei aquilo."
Entre os já entrevistados estão o advogado dos acusados pela morte do cinegrafista, Jonas Tadeu Nunes, seu estagiário e a ativista Elisa Quadros, conhecida como Sininho. O cineasta espera gravar entrevista com Marcelo Freixo, deputado estadual (PSOL-RJ), de quem é amigo.
Questionado se a proximidade com o político determinaria uma posição sobre os eventos, Padilha diz que não precisa "concordar com as pessoas para conversar e ser amigo", embora "às vezes" concorde com Freixo. "Eu gosto de ter minha posição, não preciso ter um lado. Tenho a minha opinião."
Barril de pólvora
Quando as primeiras manifestações ocorreram no Brasil, Padilha estava entre EUA e Canadá, com as gravações de "RoboCop" em curso. Após a morte do cinegrafista da Band, resolveu acompanhar de perto para entender melhor o que acontecia.
Padilha acredita que as manifestações estejam ligadas a problemas reais, como má qualidade do serviço público e a má locação de recursos. "Invariavelmente eu simpatizo com os manifestantes e acho que eles têm razão. É inegável que o Estado brasileiro funciona muito mal."
Ele diz entender também a violência dos protestos. "É natural, com a polícia que a gente tem. Houve truculência policial antes da violência dos manifestantes."
E a violência de seus filmes? "É um dado da realidade. Antes de estar no meu filme, está na rua. O Brasil parece um barril de pólvora."Reportar Erro
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