"O Brasil é um mercado estratégico para a nossa empresa." A frase é repetida quase como um mantra por executivos de grandes montadoras.
Com a venda de veículos em queda na Europa e a receptividade da economia brasileira, os fabricantes globais se preparam para intensificar sua atuação no país - vários importadores estão erguendo fábricas por aqui com o objetivo de nacionalizar seus modelos mais populares.
Entre eles estão as chinesas JAC Motors e a Chery, e a sul-coreana Hyundai.
As recentes medidas promovidas pelo governo, que elevaram os impostos de carros estrangeiros para até 55%, catalisam essa tendência.
A Folha consultou especialistas para saber até que ponto a nacionalização trará vantagens ao consumidor.
Com relação aos preços, a maioria acredita que a "tropicalização" não irá baratear os automóveis que passarão a ser produzidos aqui, porque a maioria já é comercializada a preço competitivo.
A principal explicação para esse fenômeno é creditada ao alto custo de produção local. Estudo da consultoria PwC feito em 2011 e patrocinado pela Anfavea (associação dos fabricantes) revelou que fabricar um carro no Brasil sai 60% mais caro do que um confeccionado na China, onde a mão de obra é farta.
A nacionalização, no entanto, desonera o produto de impostos e o livra do frete internacional, que exige logística sofisticada (e cara).
"E, mesmo que haja alguma redução [de custos], será preciso cobrir os investimentos na construção da fábrica", diz Luís Curi, vice-presidente da Chery. A marca está construindo uma linha em Jacareí, no interior do estado.
Para Sérgio Habib, presidente da JAC Motors, quando o volume de uma marca estrangeira chega a 100 mil carros por ano, "não dá para depender do câmbio ou ficar sujeito a mudanças repentinas nas regras de importação". Além disso, a logística para trazer esse volume de carros do exterior se torna mais complexa, diz.
Segundo José Carporal, da Megadealer, consultoria especializada no mercado automotivo, a chegada de novos fabricantes deve estimular a concorrência no setor.
Com produção local, o veículo tende ainda a deixar de sofrer com a carência de peças de reposição. Outra benesse é que ele passa a incorporar tecnologias regionais, como o motor flex.
Lucros
Apesar de os fabricantes afirmarem que o preço elevado dos carros feitos no país deve-se ao alto custo de produção e impostos, no ano passado, a indústria alcançou recorde histórico de lucros e dividendos remetidos ao exterior. Segundo balanço do Banco Central, em 2011 foram enviados US$ 5,58 bilhões -- 36,1% a mais que no ano anterior.
O governo avalia a possibilidade de cobrar reduções mais agressivas de preços, sobretudo quando houver incentivos como o anunciado em maio, que reduziu o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Por lei, companhias de capital fechado, a maioria do setor, não são obrigadas a divulgar balancetes.
Via Folha
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