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Entrevista A

“Dilma não tinha mais a condição de gestora”

Confira a entrevista com o presidente da Fiems, Sérgio Longen

15 maio 2016 - 07h10

Jornal de Domingo - O senhor foi o "fiador" do impeachment em MS junto ao empresariado. Por quê?

Sérgio Longen - O Brasil passa por dificuldade extrema, empresas fechando, juros nas alturas, perda de competitividade é total, com a indústria nacional extremamente desprestigiada. Nós não temos nenhum motivo hoje para manter aquela equipe de comando que tínhamos e aquela condição de falta de esperança. Qual expectativa podemos ter em uma equipe que mostra os números todo dia negativos, que fecha 2015 com déficit de R$ 90 bilhões e já se planeja no início de 2016 um déficit de R$ 120 bilhões e essas contas, esses descontroles, são transferidos para a sociedade via impostos. Nessa condição, as empresas vão fechando, porque não têm condições de transferir esse custeio para o consumo, que também está de certa forma reprimido. Nessa soma de esforços negativos, a solução no nosso entendimento é que a política deveria ser parecida com o setor empresarial: não tem condição de fazer a gestão dentro da necessidade, troca de profissão, troca de ramo. Dentro da política não vemos isso. A presidente Dilma não tinha mais a condição de gestora quer na gestão política, quer na gestão de governante e fica insistindo em manter seu cargo com discursos que não convencem mais. Nós apoiamos o impeachment, nós trabalhamos pelo impeachment e estamos hoje pelo menos com esperança de algo novo que possa acontecer.

Jornal de Domingo - A Fiems articulou abertamente com movimentos de rua. Era um clima de conspiração?

Sérgio Longen - Em hipótese nenhuma. O Brasil é uma democracia plena hoje, não existe conspiração. Foi muito bem fundamentado o processo de impeachment, que foi validado pelo Supremo e questionado inúmeras vezes pelo Planalto. Todas as vezes o Supremo se manifestava na mesma condição de que o processo é legal, ou seja, nós temos instrumento na Constituição e temos de entender que no Brasil o Judiciário funciona e demonstrou com clareza sua maturidade em avaliar que o país realmente passa por dificuldades e que se está previsto na Constituição não temos motivo para não usar esse instrumento. O Supremo validou todo o processo de impeachment, quer na primeira fase na Câmara, quer na segunda fase, no Senado.

Jornal de Domingo - A indústria será tão dura com o Temer como foi com a Dilma em suas reivindicações?

Sérgio Longen - A indústria na verdade está com esperanças hoje. O Brasil foi desmantelado nos últimos anos e nós também sabemos que não vai acontecer a semana que vem que a indústria nacional ou a economia vão voltar a “surfar” ou voltar a grandes oportunidades que tivemos no passado. Entendemos que a dificuldade do país hoje é grande e que algo va ser feito, esperamos que seja feito, que é exatamente os cortes nas despesas que o Governo Federal não vinha fazendo. Não tinha ninguém no mundo que convencesse o Planalto de que se não cortasse as despesas, as contas não fechavam. Nós esperamos então que esse governo consiga fazer esses cortes e não se dobre pelo populismo e o assistencialismo que mantêm as pessoas no poder.

Jornal de Domingo - O Temer precisará de um tempo para se organizar. Quanto demoraria isso na sua visão?

Sérgio Longen - Nós não temos tempo. O que eu sei é que nos últimos dez anos pelo menos já tínhamos sinais muito claros de que a economia brasileira precisava de mudanças, ajustes, e esses ajustes foram cada vez mais postergados para que as eleições ficassem mais fáceis. Na última eleição da Dilma, em 2014, foi vendido um Brasil que era uma Suíça e a conta está aí. Agora nós brasileiros vamos pagar essa conta e não tem aí nenhuma ação muito clara de que isso possa ser mudado por algum decreto ou mesmo por algum aumento de imposto, como uma CPMF de 1%. Isso não vai resolver o problema do Brasil. Então entendo que precisamos dar um tempo para esse governo, para ajustar essas ações para que de novo o Brasil possa fazer com que as contas se encaixem e o governo volte a ter a austeridade que é aquilo que sempre demandamos.

Jornal de Domingo - A combinação de empresariado, ruas e sociedade civil que se associaram nesse episódio cria uma nova realidade na sua visão ou foi algo momentâneo?

Sérgio Longen - Se pegarmos as últimas eleições e somarmos as pessoas que votaram contra a Dilma e aquelas que não votaram, somaram um grande número. Se somar as que  não votaram na Dilma e as que estavam decepcionadas com a política, chegaremos a um número perto de 70%. Naquela época já tínhamos pessoas revoltadas com a política. Hoje temos um Brasil muito alinhado, tirando, claro, meia dúzia de gato pingado, o Brasil inteiro hoje sonha com um Brasil resolver principalmente o desemprego, que é algo que preocupa muito. Dados oficiais falam em mais de 11 milhões de pessoas desempregadas e não tem muito esforço para fazer que se chega facilmente a 10% da população brasileira desempregada e pessoas que de certa forma nunca trabalharam. Não tem país no mundo que possa evoluir ou criar riquezas com esse número de desempregados e pessoas que nunca trabalharam. O que nós precisamos hoje é de um país que volte a pensar que é via trabalho que as pessoas podem melhorar sua qualidade de vida e não via assistencialismo. Essa é a diferença do Brasil que nós buscamos.

Jornal de Domingo - Quais os próximos passos?

Sérgio Longen - Os próximos passos são apoiar as ações que estão sendo construídas. Não adianta ficarmos a partir de hoje julgando, criticando... Não vamos conseguir um consenso em hipótese nenhuma na sociedade com a política econômica. Entendo que precisamos apoiar, dar um tempo, deixar maturar esse governo que está aí e tentar fazer com que suas ações possam tentar trazer equilíbrio pelo menos às contas públicas, que é o primeiro passo, e depois disso, sim, criar as políticas de desenvolvimento. Entendo que temos aí um bom relacionamento com o Governo Federal, essa nova gestão que tomou posse na quinta-feira (12). O próprio ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio é uma pessoa bastante comprometida com o setor e eu entendo que outros ministérios hoje têm a mesma direção.

Jornal de Domingo - Teremos um Brasil melhor depois do impeachment?

Sérgio Longen - Pelo menos esperança. Temos de avaliar que o crédito nós conquistamos, porque crédito não se compra. O Brasil precisa mostrar ao mundo que nós temos oportunidade de melhorias. Esperamos que os investimentos ao país voltem a acontecer, trazendo também esperança para a população. Temos uma equipe de governo que tem intenção de construir um Brasil diferente do que tínhamos até ontem e esperamos e vamos acreditar e colaborar para que esse governo dê certo, para que o país volte aos trilhos e consigamos fazer com que o Brasil discuta grandes gargalos que tem, como reforma política, reforma tributária. A situação hoje que preocupa muito são os salários dos trabalhadores, dos aposentados, a própria previdência hoje é um problema nacional e muitas vezes as políticas não colocam na mesa por questões eleitorais.  Acho que é hora de apoiarmos as reformas. Vejo um momento de otimismo, acredito que o Brasil precisava disso e classe política respondeu. Temos de agradecer à nossa bancada federal aqui de Mato Grosso do Sul, que foi muito coesa e madura nas decisões, entendendo que o Brasil precisa de mudanças e quero aqui destacar a importância da união da classe política nesse momento.  

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