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Entrevista A

Omar Aukar fala da revitalização do Centro

30 maio 2011 - 05h04Roberto Medeiros

O empresário Omar Aukar foi empossado como presidente da ACICG (Associação Comercial e Industrial de Campo Grande) no dia 12 de maio e destaca que um dos projetos prioritários para a cidade é a revitalização do Centro. Para ele, assim como a necessidade de transformar as fachadas de lojas para ficar mais atrativas para os clientes, os trabalhadores também devem se qualificar. Veja a entrevista na íntegra:

Jornal de Domingo – As grandes empresas que trabalham com a venda de produtos pela internet recentemente ganharam uma ação contra o governo de Mato Grosso do Sul para o não pagamento do ICMS. Qual é o problema do comércio local em competir com esses estabelecimentos comerciais?

Omar Aukar – Esse modelo operacional dessas empresas do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, elas tiram competitividade da empresa de Mato Grosso do Sul. Nós da Associação Comercial daqui somos favoráveis a um equilíbrio nessa disputa para que as empresas daqui possam ser competitivas da mesma forma. Não quero entrar na briga do tributo, entendeu? Mas eu gostaria de apoiar os empresários que integram a Associação Comercial no intuito de buscar um equilíbrio entre o mercado. O tributo é uma fatia muito grande na parte da venda e a partir do momento que você está brigando com alguém que tem um regime diferenciado, acaba-se perdendo o negócio. Por exemplo, você que é consumidora se você tiver que comprar uma roupa que em Mato Grosso do Sul custa R$ 12 e em São Paulo R$ 8, você não está interessada se aquela diferença é por conta de uma tarifa diferenciada de aplicação de ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços), a cliente está interessada no melhor preço, e, no caso é que ela vai pagar R$ 8. Ela vai sempre ao lugar mais barato. Na realidade, em função da incidência dos impostos sobre o valor final das vendas, acaba sim, tirando a competitividade das empresas daqui. Eu não acho justo.

Jornal de Domingo – O que falta para o estado ser tão competitivo quanto São Paulo e Rio de Janeiro com relação a esse sistema?

Omar Aukar – Na realidade, os governos de todos os estados tem um órgão que concentra a Secretaria de Fazenda de todos os estados, o Confas, aonde eles discutem essa parte tributária em nível de Brasil. O que acontece hoje é o seguinte: os estados que detém os maiores fornecedores desses produtos que é Lojas Americanas, Submarino, entre outros, que se situam em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, eles não querem abrir mão do negócio. Eles argumentam que a venda é realizada no estado deles, mas é para o consumidor de Mato Grosso do Sul. Hoje pela internet você compra tudo onde você quiser! Então, o que falta é haver um bom senso da parte desses estados reconhecendo que na verdade, eles deveriam partilhar os impostos desse tipo de venda.

Jornal de Domingo – Como está a revitalização do Centro de Campo Grande?

Omar Aukar – Na terça-feira (24) houve uma reunião na Explanada Ferroviária aonde foi apresentado o resumo final do projeto que está sendo colocado em prática. Nós entendemos que com esse crescimento vertiginoso que está ocorrendo aqui na Capital, por exemplo, o nosso Shopping Campo Grande que é o Shopping antigo, ele está expandindo a área dele. Ou seja, está aumentando o número de lojas. Ontem, foi inaugurado o Shopping Norte Sul Plaza que é uma construção maravilhosa e que a imprensa disse é que os consumidores tomaram conta de lá. Então, a informação é de que ali na rua 26 de Agosto haverá um novo shopping também. O Pátio Central Shopping foi ativado há cerca de dois anos atrás, mais para baixo dele, existe a promessa de outro empreendimento desse porte.

O que acontece: os shoppings de uma maneira geral, eles apresentam para o cliente uma ambiente agradável, climatizado, protegido do tempo, lojas bonitas, em que você entra no local e encontra tudo. Se o pessoal do Centro não se conscientizar que a oportunidade da revitalização é tornar o Centro uma área bonita, quase um shopping a céu aberto, de forma organizada, bonita e harmonizada, a tendência é que os consumidores passem a consumir mais dentro dos shoppings e os estabelecimentos do Centro vão perdendo espaço e valor. Ao conversar com os donos de comércio, eles reclamam que vão gastar, mas na realidade, o comerciante estará investindo no negócio dele para que possa continuar vivo e sobrevivendo. Senão vai morrer.

Eu acho que o comerciante que está inserido nesta área que abrange o projeto, subdividido em quatro etapas sendo que a primeira etapa vai de julho até setembro de 2011 e a quarta etapa termina em setembro de 2012, eu te digo se eu tivesse inserido nesse contexto e dentro da quarta etapa, eu ia me virar e me traria para a primeira etapa. Assim eu posso oportunizar mais o meu negócio. Porque quem manda nesse processo não são os comerciantes e nem o prefeito [Nelson Trad Filho], quem manda nele são os consumidores. Se hoje, você perguntar a qualquer cliente aonde ele prefere fazer compras duas, três horas da tarde com aquele sol quente, as pessoas vão dizer no shopping. Agora, o Centro, até por uma questão de legislação, fecha às 18 horas, todos nós trabalhamos até esse horário, você vai comprar a que horas? O shopping já fica até às 22 horas, aí é mais um motivo para procurá-lo. Se as pessoas não entenderem o processo e não começar a abraçar a oportunidade de revitalização do Centro, infelizmente, a tendência é que o movimento do Centro vá cair e o negócio de todo mundo ali fica menos interessante.

Jornal de Domingo – Há uma migração para novos centros dentro de Campo Grande. Descentralizados inclusive, qual é a sua opinião?

Omar Aukar – Há pelo menos dez anos o comércio de Campo Grande deixou de se dividir entre o comércio do Centro e shopping porque? Hoje, a Coronel Antonino tem um corredor comercial fortíssimo. A Júlio de Castilho também tem um comércio consolidado para atender a região. A avenida das Bandeiras é muito forte e lá nas Moreninhas, o comércio já está consolidado. Há outras áreas que não estou citando que também tem o seu comércio estabelecido. Não dá mais para dividir o comércio de Campo Grande entre Centro e shopping. O comércio da capital se descentralizou e esparramou para tudo quanto é lugar! Um projeto antigo. Só que em relação a esse padrão de lojas de calçados e roupas que predominam ali no Centro, se analisarmos o perfil da Coronel Antonino, ou da Júlio de Castilho, ou da avenida das Bandeiras são comércios mais voltados para construção e infra-estrutura. Não que não possa ter uma loja de roupas. Tem. Mas, não é a prioridade. O Centro da cidade não. Ali você vai ter ótica, jóias, roupas, calçados e prioritariamente esse tipo de comércio que predomina dentro dos shoppings. Não se acha dentro do shopping loja de material de construção, em shopping há lojas com o mesmo padrão das do Centro. Competição é em função disso, do perfil de comércio que está focado no Centro e o perfil que está nos shoppings.

Jornal de Domingo – Faltou planejamento infra-estrutural no comércio de Campo Grande?

Omar Aukar – Eu te diria que o planejamento de Campo Grande foi parcial, não como o de Brasília que foi total, tendo inclusive área de atuação de cada estabelecimento. Campo Grande foi planejado no sentido de cidade com ruas amplas, fácil escoamento de tráfego, agora dizer que nós tivemos um planejamento com setor de indústrias, de comércio, gráfica, nunca teve esse planejamento aqui. Na realidade, a cidade foi se expandindo e as coisas foram acontecendo de acordo com o interesse de cada pessoa e de cada investidor. Mas ainda não há área definida. Agora que nós estamos definindo quando se constrói o Pólo Industrial aí sim você terá uma região onde há só indústrias, porque fica definido ali como sendo Pólo Industrial. Muito diferente daquilo que nós conhecemos de Brasília. São Paulo Também não tem esse planejamento. Ele é modelo Campo Grande.

O comércio foi crescendo de acordo com o interesse das pessoas dos investidores. São situações diferentes. Uma tendência em todas as cidades é alguns segmentos se atraírem para uma determinada região da cidade. Assim como você tem a 25 de março que atraiu aquele monte de pequenos shoppings e lojas de confecção na região, na Teodoro Sampaio se encontra qualquer tipo de instrumento musical e móveis de toda qualidade. Aqui na cidade começa acontecer isso também, está incipiente e fraco, mas já começa a acontecer isso. Aquela região próxima ao Parque de Exposições Laucídio Coelho, você já viu a quantidade de madeireiras que tem na região? Porque? Porque teve um empresário forte que foi para lá, ele começou a fazer sucesso e aí, muitos começaram a colocar seu negócio ao lado para poder concorrer. Diferentemente de supermercado.

Os hipermercados fazem uma avaliação dos bairros da cidade e procuram ver aonde há uma grande concentração de população que não está sendo atendida com um bom supermercado. Ali que eles vão procurar para colocar o negócio. Na Euclides da Cunha a Mara Lima montou uma das primeiras lojas de roupa de grife e daí vieram outras. A rua tem algumas características que favorecem o comércio. Mão dupla, calçadas largas e comércio que vai do Hospital da Criança até a avenida Ceará, um espaço curto que é importante para o comércio. Nesse modelo, o comércio tende a prosperar. Uma das reivindicações que a Associação fará ao prefeito é que ele revitalize a Euclides da Cunha, deixar com a cara da prefeitura com arborização, jardinagem e iluminação diferenciada como é a rua das Flores em Curitiba. E, transformá-la naquilo que é o real propósito numa rua de comércio mais chique em Campo Grande. Vamos pedir para o prefeito dar uma olhadinha para nós, após o fim da revitalização do Centro.

Jornal de Domingo – Até aonde vai o espaço do comerciante e do prefeito também não pode ser feita uma parceria?

Omar Aukar – Com certeza, a partir do momento que a prefeitura decidiu revitalizar o Centro, existe a parte do poder público, mas também existe a parte dos lojistas. Eles vão ter que adequar todos os prédios, readequar todas aquelas fachadas, então, se houver um processo de revitalização aqui, pode ter certeza que vai acontecer a mesma coisa. As pessoas vão ter que se adequar. Entre a rua Calógeras e a 14 de Julho subindo pela Barão do Rio Branco já existem quatro ou cinco lojas que já estão adequadas e que vão servir de padrão para os outros olhar e ver como vai ficar o futuro. Por meio de computação gráfica, a prefeitura desenhou como ficará o futuro. Eles nos mostraram na terça-feira e vai ficar muito bonito e chique. Mas o prefeito não deu números de investimentos que devem ser variáveis em cada fase. Agora, quanto o lojista vai gastar vai depender do tamanho da modificação que ele terá que fazer no seu empreendimento.

Jornal de Domingo – Pesquisas apontam que a cada empreendimento aberto, o empresário fechava a porta cinco vezes. O que falta para que pequenos empreendedores permaneçam no negócio e não quebrem?

Omar Aukar – Esse fato continua. Existem algumas variáveis que impactam nesse processo. A variável mais forte é o custo do dinheiro no Brasil. Quando as pessoas tomam algum dinheiro para fazer seus negócios, ele não gira na mesma velocidade do custo do dinheiro. Você nem acabou de receber o primeiro lote e já tem impostos para pagar do segundo lote. Então, para mim o ponto focal é o custo do dinheiro no Brasil, é muito alto. Existem outros aspectos que tenho que citar; hoje, o Sebrae faz um bom trabalho na orientação dos empresários e interessados, que tem algum tipo de coisa para atuar. São feitas pesquisas para que o empresário conheça o tipo de mercado que ele está atuando, para que ele coloque o pé no chão e diga dá para andar por aqui. Muitos não procuram orientação e vão pelo sentimento e dizem a não vou chamar meus amigos e dará tudo certo. Na prática vemos que não bem assim. O que se observa é o seguinte: as pessoas não dedicam parte do seu tempo em se atualizar e quando elas não se atualizam, muitas vezes, estão com um negócio novo fora do mercado.

Então, nem o empresário e nem o funcionário não se atualizaram. Tecnologia, quem atua na área, avança numa velocidade tremenda, e sem a atualização, o dono da loja abre o empreendimento com alguns aparelhos que daqui a pouco estão sendo descartados. Quem mexe com costura, por exemplo, há dois anos atrás tive que comprar duas máquinas para fazer um determinado tipo de costura na minha loja a Bob Store. Porque uma faz um tipo de costura e a outra faz pontos diferentes. Esses dias passei lá na loja para comprar agulhas e vi que as duas máquinas que comprei já foram fundidas em uma só que faz o mesmo trabalho, preserva o meio ambiente e custa mais barato. Se você não se atualiza paga mais caro. Se não estiver atento a essas variáveis você está sujeito a perder o seu negócio. Os funcionários do comércio também devem saber sobre o Código de Defesa do Consumidor já que tem uma relação direta com o cliente, mas muitos perdem oportunidades por falta de atualização. Alguns não sabem o que fala o Código, então, como vão atuar com o cliente?

Alessandra Messias

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