Um grupo de cardeais liderados pelos representantes brasileiros faz pressão para ter acesso aos documentos secretos da investigação do caso conhecido como Vatileaks antes de entrar no Conclave que vai eleger o substituto de Bento XVI. Eles participam de reuniões preliminares para traçar o perfil do futuro papa e, segundo informa o jornal espanhol El País em reportagem desta terça-feira, querem conhecer o conteúdo da investigação feita por três cardeais e levada ao agora Papa emérito meses antes da renúncia. O relatório, cujo conteúdo não foi revelado, será entregue ao novo líder da Igreja Católica, mas não aos cardeais. “Por que nós, cardeais, não podemos ter acesso a esses documentos?”, questionou o brasileiro Dom Raymundo Damasceno de Assis.
Na primeira reunião preparatória para o Conclave, da qual participaram 142 cardeais, alguns questionaram como escolher um novo papa sem ter conhecimento sobre o misterioso relatório. Damasceno, arcebispo do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, teria sido um dos primeiros a reivindicar o acesso aos documentos, mas não foi o único. Outro cardeal, que tem mais de 80 anos e por isso não tem direito a voto no conclave, disse à agência Reuters que é indispensável conhecer a verdade sobre o que aconteceu na Santa Sé antes de iniciar a escolha. De acordo com versão do caso difundida pela imprensa italiana, o caso 'Vatileaks' teria sido determinante para a renúncia de Bento XVI.
De acordo com a reportagem do El País, os cinco cardeais brasileiros que participarão do conclave pediram explicitamente para conhecer os documentos secretos. “Acredito que é justo e necessário que os cardeais tenham acesso a essa informação antes de escolher o sucessor de Bento XVI”, afirmou Damasceno. Segundo ele, além dos brasileiros, “todos os cardeais querem conhecer esse relatório secreto”.
“Por que não nos entregaram ainda esse documento secreto? Eu quero conhecer seu conteúdo... todos os cardeais querem”, teria também afirmado o arcebispo-emérito da Arquidiocese de Salvador, na Bahia, Geraldo Majella Agnelo.
A fonte da agência Reuters disse que o documento foi tema das discussões matinais, mas não deixou claro se o pedido de acesso às informações foi apresentado formalmente. "Eles querem ser informados sobre o relatório", disse o cardeal, que falou sob anonimato. "Mas é um relatório longuíssimo, e tecnicamente ele é secreto." Os três autores do relatório estão nas congregações gerais, mas não no conclave, por terem mais de 80 anos.
Em entrevistas coletivas nesta segunda-feira, o porta-voz do Vaticano e dois cardeais americanos se recusaram a falar do assunto ou mesmo revelar se alguns cardeais haviam solicitado informações.
O escândalo conhecido como 'Vatileaks' é um dos temas que pairam sobre o processo de escolha do novo pontífice, junto com o problema dos abusos sexuais cometidos por padres contra menores e dos acobertamentos desses crimes por parte da Igreja. Um eleitor do conclave, o cardeal Keith O'Brien, abdicou ao comando da arquidiocese de Edimburgo e desistiu de participar do processo por causa de suspeitas de comportamento indevido com padres e seminaristas no passado. Com isso, o número de participantes do conclave diminuiu para 115, dos quais 12 ainda não chegaram a Roma.
A data exata do conclave só será decidida quando todos os cardeais chegarem, mas o Vaticano já deixou claro que espera que o novo pontífice tome posse antes do Domingo de Ramos, em 24 de março, para que já possa comandar as celebrações da Semana Santa.
Via Terra