A psiquiatra francesa Daniele Canarelli, 58, foi sentenciada a um ano de prisão por ter, segundo juízes, falhado em reconhecer o perigo imposto por Joel Gaillard, seu paciente por quatro anos.
Gaillard, 43, fugiu do hospital de Marselha onde se consultava com Canarelli em fevereiro de 2004 - 20 dias depois, ele usou um machado para matar um homem de 80 anos, parceiro de sua avó, em Gap, na região dos Alpes.
A condenação de Canarelli é o primeiro caso do tipo na França, e causou o protesto de uniões sindicais de psiquiatras. Ela está recorrendo em liberdade.
Representantes da categoria dizem que o veredito põe em risco a profissão, ao transformá-la em bode expiatório de casos complexos.
Segundo sindicatos, Canarelli havia notificado a polícia sobre a fuga do paciente.
Gaillard sofria de um tipo de esquizofrenia paranoica e já tinha sido internado diversas vezes por acidentes. A corte afirma que a psiquiatra deveria tê-lo encaminhado a uma unidade especial ou a um outro grupo médico, como teria sido sugerido a ela.
Fabrice Castoldi, presidente da corte, afirma que a recusa dela constituiu "uma espécie de cegueira" grave.
Advogados de defesa afirmam que a decisão da Justiça francesa poderá ter sérias repercussões no tratamento de enfermidades. Se um psiquiatra tiver de trabalhar sob o temor de ser sentenciado, provavelmente irá tratar seus pacientes com maior rigor.
Michel Trabuc, filho da vítima, espera que o caso abra um precedente. "Não existe uma situação sem risco", afirmou. "Mas eu espero que isso faça a psiquiatria progredir e, acima de tudo, que isso nunca mais aconteça."
Gaillard está atualmente internado em um hospital psiquiátrico.
Via Folha
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