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Ribeirinhos do baixo Pantanal ainda sofrem com cheia

15 junho 2011 - 09h19Marcelo Fernandes

Na região de Forte Coimbra, parte baixa do Pantanal corumbaense, o Rio Paraguai subiu quase 5 centímetros nos últimos 10 dias. Nesta terça-feira (14) o Serviço de Sinalização Náutica do Oeste da Marinha do Brasil registrou a marca de 4,63 metros no local, ou seja, 3,29 metros acima do nível normal. Toda esta água afeta diretamente o cotidiano dos ribeirinhos, moradores que vivem à margem do rio. Em Coimbra, onde existe um destacamento do Exército Brasileiro, são poucas as famílias que sobrevivem diretamente da pesca, mas em comunidades próximas dali, a atividade é o principal meio de sobrevivência.

Em Porto Esperança, apenas algumas residências não estão parcialmente ou completamente em baixo d'água. "Eu estava cuidando a enchente. Mas uma noite, de repente, acordei com a água entrando em minha cozinha. Ai rodou panela, fogão, tudo. Deu tempo de tirar poucas coisas", contou a diarista Ana Maria Benevides, 50 anos. Há 15 anos instalada em uma residência de madeira bem próxima ao leito do rio, hoje ela está abrigada num pequeno quarto na sede da Associação de Moradores de Porto Esperança.

Morador do bairro Alto, localidade mais elevada de Porto Esperança, Gilson Pereira Mendes, 43, também está com parte da casa alagada. "Moro aqui desde 1997 e nunca tinha visto subir tanto assim", narrou o ribeirinho. Segundo ele, os peixes ficam mais difíceis de serem encontrados neste período de cheia, o que acaba refletindo no fluxo de turistas. "Este ano só fiz uma viagem até gora. Estamos vivendo de vender algum peixe que a gente consegue pescar, iscas e de pequenos fretes aqui por perto", relatou.

Com 84 anos, a aposentada Fermosina da Silva chegou na região em agosto de 1954. "Há vários anos não via o rio subir assim", disse a senhora, que hoje vive com um casal de filhos, ambos nascidos ali mesmo. Em Porto Morrinho, onde o número de famílias ribeirinhas é ainda maior, as dificuldades são as mesmas. "Desde o começo do ano estou entrando em casa pela janela. Escorei a porta, fiz um jirau e subi tudo o que deu", contou o piloteiro Januário de Barros, 56 anos.

Com a elevação do piso, a distância do chão para o teto ficou com menos de 1,50 metros. "Aqui dentro a gente só anda abaixado", revelou dona Rosana, esposa de Januário. Até a pequena criação de porco que o casal mantém está confinada em cima de tábuas. Praticamente todas as 49 famílias que vivem no local atravessam a mesma dificuldade. "Eu e meu marido criávamos galinhas, mas quase todas já foram comidas por sucuris", explicou Patrícia Rodrigues Bezerra, 27 anos, casada com José Amilton, 44.

O aparecimento de animais peçonhentos é uma das grandes preocupações do casal Carmelindo e Júlia Mendes. Eles moram num local conhecido como Acurizal junto com um filho de 12 anos e uma neta de 4. Sem condições de se manter na casa, tomada quase toda pela água, eles montaram um acampamento no quintal. Duas barracas, montadas sob um enorme pé de manga, abrigam as quatro pessoas da família. Em cima da árvore, estão as poucas galinhas que restam aos ribeirinhos. Já os cachorros dividem um pequeno espaço de menos de 2 metros quadrados.

"É difícil, mas é o que a gente tem", desabafou Seu Carmelindo. No Porto da Manga e no Formigueiro, subindo um pouco mais o rio, a situação é a mesma. Na Manga, todo o trecho da Estrada Parque, cortado pelo Rio Paraguai, está submerso. Conforme os moradores, somente bem longe da margem é possível trafegar em terra firme. No Formigueiro, a casa de Nicola da Costa Soares é uma das poucas que estão acima do nível do rio. "Antes de subir, fizemos algumas escoras para segurar as ondas. Quando passam as balsas, água quase entra em casa", contou.

Apesar de precavido, Nicola, a mulher e o filho estão completamente ilhados. Só a casa e um pequeno mangueiro, onde resistem poucas vacas leiteiras, estão secos. Os pés de banana estão com água pela metade. "O resto dos animais levei para o lugar mais alto. Ficou caro, mas é o que deu para fazer", relatou o pantaneiro, que complementou: "Fazia tempo que não enchia assim".

Estas famílias da parte baixa do Pantanal foram as beneficiadas pela 9ª edição do Programa Social Povo das Águas, realizada entre os dias 8 e 11 de junho. Composta por médicos, dentistas, vacinadoras, assistentes sociais, educadores e outros profissionais do Município, a equipe prestou serviços médico-sociais a mais de 220 famílias em situação de vulnerabilidade por causa da cheia. Cestas básicas, kits de alimentos, lonas, agasalhos e cobertores ajudaram a amenizar as dificuldades afetadas pelos ribeirinhos. "Esses alimentos vão ajudar demais", afirmou Ana Maria Benevides.

"Estes produtos chegaram em boa hora", completou Gilson Pereira Mendes. Para Fermosina da Silva, a consulta ao médico foi motivo de comemoração. "Para ir a cidade é difícil. É longe demais. A chegada de vocês aqui foi uma benção". Julia Souza Mendes demonstrou alegria semelhante. "Graças a Deus que existe esta ação", agradeceu. O Povo das Águas é coordenado pela Secretaria Especial de Integração das Políticas Sociais e integra as secretarias de Saúde, Assistência e Cidadania, Educação, Fundação de Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário e Defesa Civil.

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