Saúde

Anticoncepcional masculino: cientistas anunciam pílula com 99% de eficácia em animais

Segundo cientistas, as pesquisas com o medicamento em humanos devem começar ainda neste ano

24 MAR 2022 • POR Brenda Leitte, com G1 Notícias • 13h51
Pílula anticoncepcional masculina atinge 99% de eficácia em camundongos - Foto: Unsplash

Nesta quarta-feira, uma equipe de cientistas anunciou ter desenvolvido uma pílula anticoncepcional masculina que demonstrou ser 99% eficaz em camundongos, um avanço aguardado há anos na medicina. As pesquisas com o medicamento em humanos, que não teve efeitos colaterais nos animais, devem começar ainda neste ano, e os responsáveis acreditam que a pílula pode estar disponível no mercado até 2027.

As descobertas sobre o novo contraceptivo serão apresentadas durante a reunião de primavera da American Chemical Society e representam um marco na oferta de métodos de controle de natalidade para o público masculino. Desde que a pílula anticoncepcional para mulheres foi aprovada, na década de 1960, utilizada hoje por mais de 214 milhões de mulheres no mundo, os pesquisadores têm trabalhado em busca de um equivalente masculino.

"Vários estudos mostram que os homens estão interessados em compartilhar a responsabilidade contraceptiva com suas parceiras" afirmou o doutor Abdullah Al Noman, graduado da Universidade de Minnesota, responsável por apresentar a pesquisa.

Como funciona a pílula

No caso das mulheres, a pílula feminina usa hormônios que alteram o ciclo menstrual, uma combinação do estrogênio e da progesterona. Seguindo a mesma lógica, os esforços para desenvolver a versão masculina costumavam se concentrar no hormônio da testosterona.

O problema com essa abordagem, no entanto,  é que ela apresentou efeitos colaterais graves nos testes, como ganho de peso, depressão e aumento dos níveis de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL), o que consequentemente aumenta o risco de doença cardíaca, além de baixa efetividade. Uma pílula que funcionaria com esse mecanismo para os homens, o DMAU, enfrenta dificuldades em avançar nos testes justamente por esses motivos.

O novo modelo, por outro lado, utiliza um método não hormonal, concentrado em uma proteína chamada receptor de ácido retinoico RAR-alfa. Isso porque o ácido retinoico desempenha um papel importante no crescimento celular, na formação de espermatozoides e no desenvolvimento embrionário. Mas, ele precisa interagir com o RAR-alfa para desenvolver essas funções, e os experimentos de laboratório mostraram que camundongos sem o gene criado pelo receptor RAR-alfa são estéreis.

Os cientistas desenvolveram então um composto chamado YCT529 que bloqueia a ação do RAR-alfa. Ele foi projetado para atuar especificamente com o receptor RAR-alfa, e não com outros receptores relacionados, como RAR-beta e RAR-gama, a fim de evitar ao máximo possíveis efeitos colaterais.

Os testes em animais foram um sucesso. Quando administrado oralmente a camundongos por quatro semanas, o YCT529 reduziu drasticamente a contagem de espermatozoides do animal e foi 99% eficaz na prevenção da gravidez sem efeitos adversos observáveis. Após a interrupção do medicamento, os camundongos levaram entre 4 e 6 semanas para recuperar a fertilidade.