Cultura

Escola de Samba de São Paulo homenageia indígenas Guaicurus do Pantanal de MS

O desfile acontece na sexta-feira (17), e contará com mais de 2 mil componentes para contar as histórias homenageadas

8 FEV 2023 • POR Brenda Leitte • 15h40
Desfile da Barroca Zona Sul no carnaval 2022 - Foto: Fábio Tito/g1

Homenagem para lá de especial! A escola de samba Barroca Zona Sul será a terceira agremiação a desfilar no primeiro dia de desfiles do Grupo Especial do Carnaval no Sambódromo do Anhembi, na Zona Norte de São Paulo, na sexta-feira (17). Em 2023, o enredo da escola homenageará os indígenas Guaicurus, etnia que viveu no Pantanal por mais de 300 anos.

Para não deixar a história dos fortes guerreiros que defenderam seu território das tentativas de invasão estrangeira cair no esquecimento, a Barroca Zona Sul vai transformar a guerra em arte e mostrar a força e importância desses indígenas.

A escola conta com mais de 2 mil componentes para contar a histórias dos guaicurus e o desfile está previsto para acontecer às 1h25 da manhã.

O carnavalesco, Rodrigo Meiners, explica que o enredo abordará o contato que os indígenas possuíam com os animais, principalmente com cavalos. "Os guaicurus dominavam muito aquela região, e são conhecidos até hoje como os indígenas cavaleiros, tinham um grande domínio dos animais, principalmente cavalos, na guerra do Paraguai eles ajudaram muito a vencer".

É logo na comissão de frente que a Barroca vai mostrar a agilidade e o espírito guerreiro dos guaicurus. A coreógrafa assistente da comissão de frente, Paula Penteado, conta como está sendo a experiência. "Estamos fazendo um laboratório, um estudo mesmo, para que possamos retratar todo o processo corporal indígena na avenida".

Os remanescentes dos Guaicurus são conhecidos pelo talento para a arte, são habilidosos com a cerâmica, mas o que mais representa são as pinturas corporais, feitas com Jenipapo e Urucum.

O escritor, professor e ativista indígena, Daniel Munduruku, que ajudou a Barroca no processo de criação do enredo deste ano explica que as pinturas carrega informações sobre a própria linhagem dos indígenas. "As pinturas trás informações necessárias para você saber, inclusive dentro da sua própria linhagem, qual o grau de parentesco da pessoa. Seria um livro, um grande livro de identificação escrito no corpo".

Munduruku ainda diz acreditar que por meio da beleza do Carnaval é possível tocar corações para uma causa urgente.

"O carnaval ele tem que servir para educar, combater o preconceito que a sociedade vive, e valorizar o que essa sociedade tem de bonito".

Os descentes dos Guaicurus, os indígenas Kadiwéu, mantém a tradição e continuam acompanhados de cavalos.

Entre as muitas conexões entre o passado dos guaicurus com o presente dos descentes, os indígenas Kadiwéus, está a batalha para a existência, apesar da conquista da reserva indígena em 1984, eles ainda sofrem com ameaças de grileiros, madeireiros ilegais e o fogo.

Entre 2019 e 2020 incêndios destruíram quase a metade do território dos Kadiwéu e o samba da Barroca pede, que o pranto da alma, apague essa chama.

Letra

O pranto da alma apaga essa chama
É luz de Iara, Tupã e Caaporã
Dono da terra é falange Guaicuru
Barroca é resistência por um novo amanhã
É luz de Iara, Tupã e Caaporã
Dono da terra é falange Guaicuru
Barroca é resistência por um novo amanhã

Anoiteceu!
No verde que abriga minha aldeia
Lamento ao esplendor da lua cheia
Raiou a maldade do carcará
Desperta a Fúria M’bayá
Pajé evoca meus ancestrais
Quem ousava destruir a paz
É ventania vinda de além-mar
Ouça… a natureza que se manifesta
O coração é arco, a mente é flecha
Ser livre é a lei do meu lugar
Auê, auê… Guaicuru chama pra guerra
Eu sou o grito que amedronta a floresta
Auê, auê… guaicuru não tem senhor
Cavalgando mata adentro
Enfrentando o invasor

Lágrima escorre do meu rosto
Pintado de dor e de traição
Página da história esquecida
Escondida no olhar de cada irmão
Brasil, meu país menino
O passado não me fez servil
Clamo ao cavaleiro da floresta
Verdadeiro filho dessa pátria mãe gentil
Hei de preservar meu Aracê
Meu povo é sentinela Kadiwéu
No pantanal há de resplandecer
O verde das matas, o azul do céu

Ficha

Fundação: 7/8/1974
Presidente: Ewerton Rodrigo Ramos Sampaio (Cebolinha)
Mestre de Bateria: Fernando Negão
Casal de mestre-sala e porta-bandeira: Marcos Costa e Monalisa Bueno
Direção de Carnaval: Marcos Tibechrani (Marcão)
Direção de Harmonia: Anderson Novaes, Edgard Ramires, Angélica Barbosa, Douglas David e Junior Garcia
Rainha de bateria: Juh Campos
Coreógrafo da Comissão de Frente: Chris Brasil
Colocação em 2020: 10º lugar no Grupo Especial. *Com informações do g1.

 

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