Opinião

OPINIÃO - O CENTRO DA CIDADE TEM SALVAÇÃO

Não quero aqui apontar o dedo e procurar culpados, mas fazer reflexão para uma solução

31 MAR 2023 • POR Fayez Rizk • 14h27

Infelizmente, o outrora vibrante local, hoje está quase um deserto, com portas cerradas e placas de aluga-se ou vende-se como sinalizadoras dessa triste situação.

Mas tenho esperança que de, com boa vontade política e participação da sociedade, podemos recuperar essa parte da cidade.

Porque chegamos nessa situação?

Como em acidentes de aviação, não há uma única causa ou responsabilidade e, no caso, houve uma série de equívocos, tanto por parte da iniciativa privada como por parte do poder público.

Não quero aqui apontar o dedo e procurar culpados, mas fazer uma reflexão para uma solução.

A maior causa dessa situação, mas não a única, é a mobilidade urbana, ou melhor, a deficiência do planejamento e da operação da mobilidade em toda a cidade.

Quando falo em mobilidade, trato de uma série de fatores, desde históricos, passando pelo comportamento típico de nossa população, evolução sócio econômica, histórico de planejamento urbano, controle de tráfego, sistemas de transporte, tamanho da área urbana, etc...

Para compreensão do problema temos que necessariamente olharmos para o passado, a começar pelo plano urbanístico elaborado pelo Arquiteto e Urbanista Jaime Lerner, na década de 70 e que desenhou fundamentalmente a cidade atual, mesmo passado quase cinco décadas.

Naquele Plano, a cidade era dividida- e ainda o é- em regiões periféricas ao Centro, ligadas por eixos de crescimento e ligação, nas saídas para Cuiabá, São Paulo, Três Lagoas, Sidrolândia, Aquidauana e Rochedo.

Na lógica desse Plano, nas periferias urbanas (da época!) Situavam-se os terminais de transporte por ônibus, que seriam alimentados por linhas auxiliares nesses bairros, também por linhas circulares e pelo sistema de ciclovias nos bairros, este sequer esboçado.

Esses terminais eram ligados a um terminal central – a antiga rodoviária -por linhas expressas de grande capacidade, conforto e velocidade, através de corredores exclusivos ou preferenciais.

A partir desse terminal central as pessoas se deslocariam a pé, com conforto, por calçadas de qualidade, acessíveis, arborizadas, limpas, seguras, em direção ao centro de então, ou por ônibus menores e com a mesmo bilhete para regiões um pouco mais distantes desse terminal.

Infelizmente esse terminal central foi desativado, provocando uma desestruturação de todo o sistema e encarecendo a passagem.

Como resultado desse equívoco, o deslocamento das pessoas rumo ao centro, sejam trabalhadores ou usuários do comércio ou serviços, ficou muitas vezes inviável. Isso produziu um aumento no número de veículos, especialmente motocicletas, com impacto em acidentes – e custo de saúde pública - e principalmente, o surgimento dos “centros” nos bairros, como exemplos, a Ruas e avenidas da Divisão, Souto Maior, Cel. Antonino, Jerônimo de Albuquerque e tantas outras.

Hoje é este o cenário: temos um sistema de transporte coletivo totalmente desestruturado e inviável economicamente. Como uma roda perversa, mais linhas de ônibus sem planejamento coordenado, custos maiores, passagens mais caras e por consequência, menor número de usuários, realimentando (elevando) os custos do sistema e consequente desorganização.

Isso sem falar sobre a elaboração de um Plano de Mobilidade Urbana consistente, abordando novas formas de transporte, como por exemplo, com veículos elétricos ou mesmo o VLT.

Por falar nisso, no começo da década de 90, participei como consultor da elaboração de um sistema de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) totalmente viável na época, mas misteriosamente “sumido” (não há outra expressão...)

Em próximos textos, abordarei outras causas e propostas de solução.