Opinião

Opinião: Rita, Hebe, Brizola... Eu vi!

10 MAI 2023 • POR Carlos Marun • 09h16
Carlos Marun, ex-ministro da Secretaria de Governo - Reprodução

Tive a oportunidade de em alguns momentos estar com Rita Lee pelos camarins da vida. Normalmente para tietá-la após shows. Porém, uma destas oportunidades foi especial. 

Eu “era” engenheiro e estávamos construindo um Terminal de Engarrafamento de Gás Liquefeito de Petróleo (nome difícil, né?) para a Copagaz em São José dos Campos. Início dos Anos 90. Era uma terça-feira e eu consultei a programação de shows em SP. Se hoje 120 kms não me assustam, imagine há mais de 30 anos.

Folheei um jornal e não achei nada de interessante até bater o olho em um aviso. Brizola estaria naquela noite no Programa da Hebe, que na época acontecia ao vivo, direto de um teatro em um bairro de São Paulo locado pelo SBT para seus programas de auditório. 

Lá fui eu rever o meu Líder de então. Sem convite, credencial ou lenço. Só com meus documentos. 
Cheguei e o programa não havia começado. A plateia mais à frente era composta por contratados, que estavam naquele momento ensaiando movimentos em conformidade com cartazes que eram erguidos por uma pessoa que os coordenava. Mais atrás era “terra de ninguém”, com entrada liberada.

Entrando no Teatro resolvi ir me dirigindo pelas laterais em direção ao palco, abrindo algumas portas que estavam fechadas, mas não trancadas. Abri uma, duas, três portas e bingo. Saí atrás do palco, e quem me recebeu? O Gaúcho da Fronteira que estava lá e faria umas músicas gaúchas em homenagem a participação de Brizola, me viu e me chamou r eu fui e fiquei. De repente chega a Rainha do Rock, Rita Lee. Festa. Desculpe o auê! Daí chegou o Governador Brizola, acompanhado pelo Roberto D’Avila, à época Secretário do Meio Ambiente do RJ. Cumprimentou efusivamente a mim e ao Gaúcho e abraçou carinhosamente Rita Lee. A roqueira perguntou pela amiga Neuzinha, que estava rompida com o pai, ao que Brizola respondeu demonstrando tristeza e com as espessas sobrancelhas arqueadas: “Rita, os jovens são irreverentes”. 
Hebe chegou brilhante e o programa começou quase que imediatamente, com ela e Brizola sentados ao sofá.

No bloco seguinte o Gaúcho foi chamado para fazer umas “das nossas” e o sucesso foi grande. Quase não foi necessário que fosse levantado o cartaz com a palavra “PALMAS” para serem os dois gaúchos muito aplaudidos. Atrás do palco eu observava tudo ao lado de Rita Lee que aguardava a sua vez de “ir ao Ar”.  
Brizola encerrou sua participação e se foi de retorno ao Rio. O Gaúcho também seguiu em frente e eu decidi ficar e assistir o dueto “Rita e Hebe” daquele lugar privilegiado onde me encontrava. 
Começa o bloco com as duas sentadas no sofá. Daí Rita levanta para cantar e dançar. Hebe a acompanha. Rita começa movimentar os joelhos para ambos os lados dobrando-os e se abaixando. E Hebe tenta acompanhá-la. Dançam as duas se abaixando, uma em frente a outra, até que “bum” se escuta o grito de Hebe que cai dobrada quase em posição fetal. São chamados os comerciais.

O programa sai imediatamente do ar. Rita olha meio que constrangida e com jeito de culpada uma Hebe estatelada ao chão ainda dobrada sobre si mesmo. Chega a turma de apoio. Tentam “esticar” Hebe puxando-a pelos pés e pelos braços. Assim que a soltavam ela voltava a posição em “S”. A levaram para o sofá. O programa tinha que recomeçar. Já tinha sido repetido três vezes o comercial dos Produtos Monange. Aí eu comprovei o profissionalismo da apresentadora. Sentaram-na dobrada no sofá de onde, ao lado de Rita, ela, com fortíssimas dores, mas sorridente terminou o programa. 
Passagem desimportante, mas pitoresca. E foi a vez que tive oportunidade de por mais tempo estar junto desta Rainha que hoje nos deixou…Adeus Rita Lee! Vai-se a Artista e ficam a Arte e a Saudade…