48 anos: Constituinte moldou legislativo e traçou ascensão de MS
Primeiro presidente da Assembleia, Londres Machado, destaca fortalecimento das instituições
11 OUT 2025 • POR Sarah Chaves • 07h30A Assembleia Constituinte teve um papel crucial na criação e consolidação do Estado de Mato Grosso do Sul, pois foi responsável por estabelecer a estrutura política e administrativa do novo estado, que se desmembrou de Mato Grosso em 1977. Foi responsável por elaborar e promulgar a Constituição de Mato Grosso do Sul em 13 de junho de 1979, passo fundamental para a consolidação do novo estado.
A Assembleia Constituinte elegeu os deputados responsáveis pela elaboração da Constituição e pela criação das leis estaduais. A instalação da Assembleia, no início de 1979, marcou o início da efetiva organização do estado e a transição do período de gestão provisória para a formalização da estrutura política de Mato Grosso do Sul.
A Assembleia teve um papel fundamental no processo de transição de governo. Após a exoneração do governador Harry Amorim Costa em 12 de junho de 1979, e com a vacância do cargo de vice-governador, a Assembleia Legislativa, sob a presidência de Londres Machado, assumiu interinamente o governo do estado, garantindo a continuidade administrativa até a nomeação do novo governador, Marcelo Miranda Soares em 30 de junho de 1979.
Ao JD1, o veterano, deputado Londres Machado, governador do estado por duas oportunidades falou da vocação do estado para o Progresso. Ele viu Mato Grosso do Sul ser criado com 55 municípios e passado para os atuais 79, e falou da experiência compartilhada com os novos parlamentares em 13 mandatos. "Sempre tive como lema o fortalecimento das instituições democráticas, valorizando e respeitando os demais poderes, lutando pela inclusão social, o respeito à cidadania", falou.
Presidente da Assembleia Constituinte, em 1979, o qual promulgou Londres machado foi quem assumiu a Governadoria por duas semanas assumiu temporariamente o Governo do Estado e, novamente, em outubro de 1980 na transição do governo do Marcelo Mirando para Pedro Pedrossian. "Sou fruto do Legislativo. Comecei meu trabalho, graças a confiança da população, como vereador e depois deputado estadual, ainda no Mato Grosso uno. Assumi o compromisso de representar com dedicação as famílias, o que sempre fiz nesses meus 13 mandatos, como parlamentar e tendo, portanto, o reconhecimento dos sul-mato-grossenses. Tive a honra, também, de ser eleito sete vezes como presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Quando Mato Grosso do Sul foi criado, em 1977, a população estimada era de 1,4 milhão de habitantes e nesses 48 anos temos mais de 2,9 milhões de habitantes. Como não poderia deixar de ser, muita coisa mudou e as exigências para o bem-estar comum tornaram-se mais frequentes, devido a esse crescimento do Estado. Ao longo desses anos, como parlamentar, procurei agir de maneira a contribuir com um Estado que cuidasse de sua gente".
Londres luta pelo fortalecimento das instituições democráticas nos mais de 50 anos de vida pública. Hoje, com 13 mandatos e ainda atuante, ele fala que a experiência não pode estar dissociada das novas gerações e vice-versa, as novas gerações de parlamentares devem se espelhar naqueles benefícios implementados no passado pelos homens públicos para melhorá-los e adaptá-los à exigência do presente." Quando iniciei minha vida parlamentar, tudo era muito difícil pois não havia essa evolução tecnológica que temos hoje. Isso, porém, não desestimulava quem tinha interesse na caminhada em direção ao futuro. A certeza era de que seria algo melhor do que se vivia à época. E assim foi. O mundo está conectado. As novas gerações criam e impulsionam a tecnologia para as gerações mais antigas usufruam também. A evolução tem sido constante e o usufruto do que surge é de todos. Por isso digo que experiência não pode se dissociada das novas gerações. Também é assim na vida pública', frisou.
Para o decano trabalhar em prol do estado foi uma oportunidade. "O meu trabalho é o exemplo que procuro transmitir as novas gerações de políticos para que, cada um, busque agigantar o nosso querido Mato Grosso do Sul e colocá-lo em lugar de destaque nesse nosso imenso e querido Brasil".
Representatividade feminina: Deputadas destacam avanços, desafios e a luta por mais representatividade
As primeiras deputadas estaduais de Mato Grosso do Sul foram eleitas em 1986, para a 3ª Legislatura, que ocorreu entre 1987 e 1991, foram Marilú Segatto e Marilene Coimbra. Apenas na segunda eleição após o fim desse mandato uma nova mulher voltou à Assembleia Legislativa, Celina Jallad, que se tornou a primeira deputada a ser reeleita. Ela exerceu mandato durante a 5ª e a 6ª Legislaturas, entre 1995 e 2003, e também foi conselheira do Tribunal de Contas do Estado.
Em 2003, outra mulher de grande destaque iniciou seu mandato na Assembleia, Simone Tebet, que anos depois ocuparia o cargo de ministra do Planejamento e Orçamento do Brasil.
Mas foi apenas após 2022, na 12ª legislatura, que a Assembleia registrou sua maior bancada feminina, com a presença de Mara Caseiro, veterana na política desde 2004, quando foi prefeita de Eldorado, e que chegou à Assembleia em 2011. Ingressaram na Assembleia naquele ano Lia Nogueira, que foi a mulher mais votada em Dourados, e Gleice Jane, que cumpre seu primeiro mandato legislativo.
É com esse histórico de grandes mulheres que as parlamentares desempenham sua atuação na Assembleia, conforme reafirmado em entrevista ao JD1 Notícias.
Para a deputada Gleice Jane, professora e sindicalista, a política é uma construção coletiva e democrática. "Nossa presença nos espaços de decisão é uma construção histórica e coletiva. A representatividade e os debates precisam ir para além da questão da justiça ou da equidade. A política desde a sala de aula, no sindicato, no movimento estudantil, até chegar ao parlamento, me mostrou que representar mulheres não é só ocupar uma cadeira, é levar voz, pautas e visibilidade para temas que muitas vezes ficam na margem: violência doméstica, trabalho invisível, saúde, educação, participação política, inclusão. É mostrar que lugar de mulher é onde ela quiser, sim, inclusive nos espaços de decisão."
Gleice destaca, porém, que a trajetória feminina ainda é marcada por barreiras estruturais. "O machismo e a violência política de gênero se apresentam de diversas formas, silenciando e impedindo o avanço das mulheres na atuação política. Além disso, há as expectativas sociais de que a mulher cumpra múltiplos papéis e a pouca confiança pública em candidaturas femininas. Nosso mandato tem como base a escuta ativa, dialogando com movimentos de mulheres e organizações de base para transformar essa realidade e propor políticas públicas que facilitem a participação política das mulheres."
Com origem no jornalismo, a deputada Lia Nogueira afirma que sua experiência profissional foi essencial para sua atuação no Legislativo. "Vindo do jornalismo, percebi que trouxe muito esse senso de justiça, esse olhar sensível da pauta diária, das externas, em que a gente relatava os problemas da comunidade e fazia do jornalismo uma ponte entre a população e o poder público. Mais do que noticiar, a gente acabava se envolvendo com as histórias e com a vontade real de resolver, de fazer a diferença. Foi esse olhar de coragem e empatia que levei comigo para a Assembleia Legislativa."
Lia vê na atual legislatura um momento simbólico de protagonismo feminino, mas ressalta que ainda há um longo caminho a percorrer. "Ainda estamos muito aquém do que poderíamos, mesmo sendo maioria da população e do eleitorado. Mas já é um marco termos três mulheres no Parlamento Estadual. Cada uma de nós traz uma bandeira, uma história, mas todas com o mesmo propósito de proteger e fortalecer os direitos das mulheres. Existe uma sensibilidade e uma luta genuína em cada uma para construir um Estado menos machista, mais justo e mais igualitário", explica a deputada.
Já a deputada Mara Caseiro, que acumula uma trajetória pioneira em vários cargos públicos, lembra que a conquista de espaço pelas mulheres é motivo de orgulho, mas também de reflexão. "Tive a honra de ser a primeira mulher a presidir a Câmara de Vereadores, a primeira prefeita de Eldorado e também a primeira líder de governo na Assembleia Legislativa. Esses espaços simbolizam conquistas importantes, mas também mostram o quanto ainda precisamos avançar. Representatividade feminina não é apenas uma questão de justiça, é também uma forma de garantir políticas públicas mais humanas, sensíveis e próximas da realidade da população."
Mara reforça a importância de um desenvolvimento equilibrado e de um futuro com mais oportunidades para as mulheres sul-mato-grossenses. "Quero que nossas meninas cresçam sabendo que podem sonhar em ser vereadoras, prefeitas, deputadas, governadoras, e que nada as impedirá de ocupar esses espaços. O legado que desejo ajudar a construir é de um Estado mais justo, inclusivo e com oportunidades iguais para homens e mulheres. Que Mato Grosso do Sul continue sendo referência nacional, não apenas pela economia, mas também pelo exemplo de participação feminina e de políticas públicas transformadoras", concluiu.
Apesar das diferenças partidárias, as três parlamentares convergem para ampliar a voz feminina e transformar a política em um instrumento de inclusão, igualdade e justiça social.