Com tabela SUS congelada desde 2008, Santa Casa opera acima do limite e vê dívida crescer
Sem reajuste contratual, defasagem de R$ 1 bilhão e R$ 91 milhões em dívidas, crise financeira e superlotação agravam situação
15 OUT 2025 • POR Sarah Chaves • 09h52A Santa Casa de Campo Grande enfrenta uma crise que não tem fim. A dívida do hospital, que em março era de cerca de R$ 70 milhões, chega a R$ 91 milhões em outubro, segundo a presidente da instituição, Alir Terra. Em entrevista ao JD1, ela conta que o aumento está diretamente ligado à defasagem da tabela do Sistema Único de Saúde (SUS), à falta de equilíbrio econômico-financeiro dos contratos e à crescente demanda por atendimentos que leva o pronto-socorro a operar acima do limite em praticamente todos os setores.
“Deixamos de fazer pagamentos de folha médica, OPMEs, contratos de serviços, fornecedores e medicamentos. Esse valor de R$ 91 milhões é o passivo imediato que precisamos enfrentar”, explicou Alir Terra.
A dirigente lembrou que o problema não é exclusivo da Santa Casa de Campo Grande. “A tabela SUS é nacional e está congelada desde 2008. Em média, ela cobre apenas 70% dos custos hospitalares. Todas as filantrópicas do país estão em situação de calamidade”, afirmou.
Segundo Alir, o subfinanciamento da saúde pública é o principal motivo da crise. Em agosto, representantes das Santas Casas de todo o Brasil participaram de uma reunião nacional para cobrar do governo federal a atualização da tabela. “O governo informou que está estudando a questão, mas ainda não há previsão de mudança. E isso depende exclusivamente da União”, completou.
A presidente também lembrou que há uma ação judicial em andamento na Justiça Federal, movida contra o Município, o Estado e a União. A ação, iniciada em 2018 e julgada em 2024, apontou que a Santa Casa já tinha, à época, uma defasagem geral de R$ 257 milhões. “O juiz deu ganho de causa para a Santa Casa, mas os entes recorreram. Hoje, com os cálculos atualizados, esse valor ultrapassa R$ 1 bilhão”, destacou.
Mesmo com o aumento dos custos e da inflação médica, o contrato da Santa Casa com a Prefeitura de Campo Grande segue sem reajuste há dois anos e meio. “Estamos desde agosto de 2023 sem equilíbrio econômico-financeiro. Operamos com 2,6 tabelas SUS, mas precisaríamos de pelo menos quatro para manter as contas equilibradas”, explicou.
“Há hospitais que trabalham com até 8,6 tabelas. A diferença é gigantesca". Além da crise financeira, o hospital enfrenta superlotação. De acordo com boletim divulgado na manhã desta quarta-feira (15), o pronto-socorro adulto está com 133% de ocupação na área vermelha e 658% na área verde (7 leitos contratados e 48 ocupados). No setor pediátrico, a área vermelha opera com 66% da capacidade e a verde, 71%. O centro obstétrico também está sobrecarregado, com 260% de ocupação. Ao todo, 630 pacientes estão internados via SUS e outros 42 aguardam atendimento na pré-ortopedia. Todos os atendimentos são regulados pela Secretaria Municipal de Saúde.
“Estamos trabalhando no limite da estrutura física, financeira e humana. Então a previsão geral era vinte e seis pacientes ontem, num lugar onde cabia seis. Hoje, nesse mesmo lugar que cabia seis, estou com dezoito. É um cenário que preocupa e exige respostas urgentes”, resumiu Alir Terra.