Brasil

Polícia explica como metanol saiu dos postos aos bares

O combustível tóxico foi usado para falsificar bebidas e vendido em bares da de cidades de São Paulo

18 OUT 2025 • POR Sarah Chaves, com G1 • 12h31
Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

A Polícia Civil de São Paulo revelou nesta sexta-feira (17) todos os passos do esquema criminoso que levou bebidas adulteradas com metanol aos bares, provocando a morte de pelo menos seis pessoas e deixando dezenas intoxicadas. incluindo um homem que ficou cego.

O metanol usado nas bebidas adulteradas teria sido desviado por empresas químicas, usinas e até terminais marítimos. Em vez de seguir para indústrias autorizadas, o produto era entregue de forma ilegal a alguns postos de combustíveis da Grande São Paulo, especialmente em Santo André e São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.

Esses postos compravam o etanol já contaminado com metanol, provavelmente por meio de notas fiscais falsas que mascaravam o destino real da substância. O metanol é extremamente tóxico e proibido para consumo humano, sendo usado normalmente na indústria.

Dois desses postos do ABC vendiam o etanol contaminado para um grupo criminoso. O combustível era então levado até uma fábrica clandestina em São Bernardo do Campo, que funcionava sem nenhuma autorização sanitária ou fiscal.

Na fábrica, o etanol misturado com metanol era usado para fabricar bebidas falsificadas, como vodca, gin e outras bebidas destiladas. O objetivo era simples, reduzir os custos e aumentar os lucros.

A adulteração era feita por um grupo liderado por Vanessa Maria da Silva, que foi presa. Ela contava com ajuda do ex-marido, do pai e do cunhado, todos diretamente envolvidos na produção, envase e distribuição das bebidas.

As bebidas eram colocadas em garrafas reutilizadas de marcas conhecidas, que davam aparência legítima aos produtos. As garrafas vinham de um fornecedor apelidado de “garrafeiro”, que abastecia um depósito em frente a um dos postos envolvidos. Isso facilitava a logística do crime.

Durante as investigações, a polícia apreendeu mais de mil garrafas em depósitos espalhados por São Paulo e região metropolitana. Muitas eram originais, mas estavam sendo reutilizadas ilegalmente.

Depois de prontas, as bebidas adulteradas eram distribuídas para bares e adegas em várias partes de São Paulo. A polícia já identificou pontos de venda nas seguintes regiões: Mooca, na Zona Leste – onde duas pessoas morreram após consumir as bebidas; Saúde, na Zona Sul – onde um homem ficou cego;

Outros bairros da capital ainda estão em investigação.

A investigação começou no fim de agosto, quando hospitais em São Paulo começaram a registrar casos de intoxicação grave. Em 22 de setembro, as autoridades perceberam que as vítimas não haviam consumido produtos de limpeza ou combustível, mas sim bebidas alcoólicas compradas em bares.

As análises laboratoriais mostraram que o conteúdo das garrafas apresentava níveis altíssimos de metanol — acima de 40%, quando o limite seguro seria praticamente zero. Apenas 0,1% já é perigoso para a saúde.

A operação que fechou a principal fábrica ocorreu em 10 de outubro, e outras ações continuam em andamento, incluindo a Operação Alquimia, que investiga o desvio de metanol desde a origem.

A Secretaria da Fazenda do Estado já suspendeu a inscrição estadual de alguns desses estabelecimentos flagrados vendendo bebidas adulteradas.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, não há ligação direta com facções criminosas como o PCC.