Polícia

Feminicídios em MS foram brutais e escancaram o desafio de romper o ciclo da violência em 2025

Ao todo, 39 mulheres foram assassinadas no estado; o governo ampliou as políticas publicas para atender as vítimas

21 DEZ 2025 • POR Brenda Assis • 09h13

O ano de 2025 foi marcado por uma sequência de feminicídios de extrema crueldade em Mato Grosso do Sul, casos que expuseram não apenas a violência contra mulheres, mas também a dor deixada em famílias destruídas e crianças que passaram a crescer sem as mães. Mesmo com avanços significativos nas políticas públicas de proteção, o Estado ainda enfrenta um cenário alarmante, no qual a violência doméstica segue resultando em mortes evitáveis.

Até o momento, os 39 crimes chocaram a sociedade, no entanto alguns deles marcaram as pessoas pela brutalidade, outros pela frieza dos autores e pela previsibilidade das tragédias.

O caso que comoveu até investigadores experientes

O crime que mais causou comoção entre policiais, autoridades e a população foi o assassinato de Vanessa Eugênia Medeiros, de 23 anos, e de sua filha, a bebê Sophie Eugênia Borges, de apenas 10 meses. Mãe e filha foram estranguladas e, em seguida, queimadas juntas, na região do Indubrasil, em Campo Grande.

O autor foi João Augusto Borges, de 21 anos, marido de Vanessa e pai da criança. De acordo com a investigação, o crime foi premeditado. João chegou a comentar com pessoas próximas que cometeria o assassinato, pesquisou na internet como agir e, após matar as vítimas, simulou desespero diante dos familiares.

Durante o depoimento, o nível de frieza demonstrado pelo autor, ao relatar com detalhes como matou a esposa e a filha, fez investigadores com mais de 30 anos de carreira chorarem. O casal tinha uma filha, que se tornou símbolo de uma das maiores tragédias familiares já registradas no Estado.

Jornalista morta após procurar ajuda da polícia

Outro caso que repercutiu em todo o país foi o feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, assassinada a facadas no dia 12 de fevereiro. Pouco antes do crime, ela havia saído da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), onde registrou um boletim de ocorrência contra o ex-noivo, o músico Caio Cesar Nascimento Pereira.

Vanessa retornou à casa onde o casal morava, no bairro São Francisco, para buscar pertences pessoais, acompanhada de um amigo. No local, foi atacada pelo ex-companheiro. Mesmo socorrida e levada à Santa Casa de Campo Grande, não resistiu.

Vanessa não tinha filhos, mas deixou familiares, amigos e colegas de profissão em luto. O autor foi preso e responde por feminicídio.

Enterrada viva e queimada no Jardim Aero Rancho

No dia 1º de março, a violência atingiu níveis extremos com o assassinato de Giseli Cristina Olikowiski. A vítima foi espancada com tijolos, enterrada em um poço raso e teve o corpo queimado, no bairro Jardim Aero Rancho, em Campo Grande.

O autor foi o companheiro, Jeferson Nunes Ramos, preso após a descoberta do crime. Giseli tinha filhos, que agora crescem órfãos de mãe. O caso escancarou a brutalidade sofrida por mulheres que, além de humilhadas em vida, são submetidas à violência até o último instante.

Feminicídio motivado por ciúmes termina em confissão

A jovem Gabrielli Oliveira dos Santos, de 25 anos, foi estrangulada até a morte pelo companheiro Diovani Alfredo Dique de Oliveira, de 31 anos. Após cometer o crime, Diovani ligou para a mãe da vítima e disse, com desdém: "Acabei de matar sua filha, vai lá ver ela."

Em seguida, ele se entregou à polícia e confessou o assassinato, alegando uma crise de ciúmes. Gabrielli tinha filhos, que agora ficam sob os cuidados de familiares.

Além dos crimes que ganharam maior repercussão, outros feminicídios marcaram o ano, veja todas as vítimas:

Avanços no combate à violência contra a mulher

Diante desse cenário, o Governo de Mato Grosso do Sul intensificou, em 2025, ações para fortalecer a rede de proteção às mulheres. A Polícia Civil, por meio da DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), avançou na celeridade das investigações e na estruturação dos atendimentos.

Durante coletiva realizada na terça-feira (16), autoridades destacaram os resultados obtidos ao longo do ano. A secretária de Estado da Cidadania, Viviane Luiza, ressaltou que a prevenção depende da união da sociedade:

"Lamentamos cada perda, mas precisamos da participação de todos. Não romperemos o ciclo da violência sem união."

O vice-governador José Carlos Barbosa, o Barbosinha, destacou que 90% das vítimas de feminicídio em 2025 não possuíam medidas protetivas, reforçando a importância desse instrumento para salvar vidas.

Estrutura ampliada e tecnologia como aliada

Atualmente, o Estado conta com 12 delegacias especializadas de atendimento à mulher, 57 Salas Lilás (10 inauguradas em 2025), 2 núcleos integrados de atendimento à mulher.

Contando ainda com a digitalização das medidas protetivas, integração com o Tribunal de Justiça, gravação de oitivas e autos de prisão em flagrante em vídeo trouxeram mais agilidade e segurança às vítimas.

Somente em Campo Grande, a DEAM registrou mais de 8,3 mil boletins de ocorrência em 2025, com 6,2 mil inquéritos instaurados.

Apesar dos avanços estruturais, tecnológicos e operacionais, os números de feminicídios mostram que o desafio ainda é enorme. Cada mulher assassinada representa não apenas uma vida perdida, mas famílias destruídas e filhos marcados para sempre pela violência.

Como crimes acontecem todos os dias, até o fechamento desta matéria os números totais de feminicídios em Mato Grosso do Sul ficaram em 39 vidas perdidas. No entanto, infelizmente, os números podem aumentar até o último dia de 2025.