Para população, saúde e buracos são principais problemas
21 FEV 2016 • POR • 10h39Basta andar poucas quadras em Campo Grande para notar a falta de cuidado que a cidade vem sofrendo. Depois do troca-troca de prefeitos, que colocaram a culpa dos problemas sempre no antecessor, quem “paga o pato” é mesmo a população. Pesquisa realizada pela Vale Consultoria apontou que as principais reclamações dos campo-grandenses são saúde, com 45,88% das críticas, e buracos nas ruas, com 41,17%.
Campeã das reclamações, pode-se dizer que a saúde é um problema crônico. No entanto, essa afirmação não é suficiente para a fila de pacientes que busca esse serviço na rede pública. Na última semana, a Unidade de Pronto Atendimento da Vila Almeida estava cheia. Entre as pessoas que esperavam atendimento estava a cuidadora de idosos Simone Lopes da Silva, que levou a filha de 12 anos com infecção de ouvido. “Não tem pediatra aqui e me disseram que um clínico geral não pode atendê-la. Me mandaram ligar numa central, para saber em qual unidade posso levá-la, mas o único lugar com pediatra é o Coronel Antonino e eu moro no Jardim Carioca. É uma viagem daqui até lá de ônibus. Acho que poderiam pelo menos olhar minha filha e ver se realmente não podem fazer nada aqui”, criticou.
A falta de pediatra também foi a reclamação da esteticista Marcela do Carmo, que estava com a filha bebê com vômito havia dois dias. “É complicado! Liguei agora na central e me disseram que pode ser que tenha no Coronel Antonino, mas não é certeza, mas outro médico não pode atender minha filha. Moro no Nova Campo Grande, meu marido emprestou um carro para podermos trazer a bebê aqui e agora vamos ver se conseguimos atendimento”, apontou.
Já a doceira Luciana Pinheiro estava indignada com a falta de atenção à filha com deficiência que caiu e abriu e supercílio. “Ela tem crises convulsivas quando passa nervoso e a cadeira de rodas virou e ela caiu. Foi um susto muito grande e está muito nervosa. Não posso sair de perto dela e só passamos pela triagem há mais de uma hora. Pediram que esperássemos alguém para dar ponto, mas a sala permanece fechada desde então. Não vi ninguém entrar nem ninguém sair. Acho um descaso muito grande!”, reclamou.
Segundo a prefeitura, realmente faltam médicos na rede pública. “Quando a administração Alcides Bernal reassumiu, mais de 300 médicos haviam deixado a rede por questões de atraso e falta de pagamento de salários e plantões. Para solucionar esta questão foram contratados nestes cinco meses cerca de 200 profissionais e regularizada a questão do pagamento dos mesmos”, informou a assessoria de imprensa.
Além da contratação de médicos, o Executivo municipal destacou a abertura de unidades básicas em horário estendido e a reativação da equipe móvel como forma de diminuir as filas de espera nos postos e upas.
Buracos
Com relação aos buracos asfalto, não existe uma região que não sofra desse mal. O acadêmico Julio Yoshikazu Miyahira sabe bem disso, pois estuda de manhã na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e faz estágio no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ/MS). “Da faculdade para o estágio é um transtorno, principalmente no Carandá Bosque. Além de ter de andar com a velocidade bem abaixo do limite permitido, várias vezes precisamos frear para mudar de faixa ou não estragar o pneu, correndo o risco de causar acidentes”, comentou.
O empresário Victor Arossi comparou as ruas de Campo Grande com uma pista de rally. “As ruas estão péssimas! Parece que estou em uma pista de rally e não em uma via pública pavimentada. Falta manutenção preventiva. Quando fazem as operações para tapar os buracos já abriram outros tantos novos”.
Ele contou que por pouco não sofreu um acidente por conta do problema. “Outro condutor foi desviar de um buraco e jogou o carro para cima do meu. Isso não foi uma nem duas vezes, não. Na Via Morena, em frente ao motel Ipacaraí, eu já ando no limite máximo da faixa da direita, pois tem um buraco imenso na faixa esquerda que os condutores desviam e quase sempre há acidentes. Semana passada num episódio desses atropelaram um cachorro”, contou.
Para Victor, colocar a culpa nas chuvas não justifica. “É o asfalto de péssima qualidade que colocam. Na Europa chove durante seis meses do ano e não se vê ruas esburacadas ou remendadas. Os carros aqui ficam parecendo carroças barulhentas, pois a suspensão não aguenta e estoura. O meu está assim”, acrescentou.
Já a publicitária Patrícia Manfré recentemente teve o carro danificado por conta de um buraco. “Não lembro o nome da rua, mas era próximo à Uniderp Agrárias. Estava de noite e chovendo muito. Como a visibilidade estava ruim, acabei caindo no buraco. Meu pneu estourou e a lateral e a frente do meu carro ficaram comprometidas, pois o buraco era muito fundo. Para o conserto, fiquei nove dias sem carro, que é meu instrumento de trabalho”, recordou.
Explicações
Segundo o engenheiro civil e professor universitário João Virgilio Merighi, um dos maiores especialistas em pavimentação no Brasil, um pavimento bem projetado deve durar, no mínimo, 30 anos. “Falar que chuva e calor destroem o asfalto é asneira. Essas são condições previstas em projeto e este é um mito que deve ser derrubado. Então, se um pavimento cede ou cria buracos, é porque não foi bem projetado. Existem pavimentos feitos para durar 50 anos, e outros para durar 50 dias, até acabarem as eleições. Desgaste prematuro está muitas vezes ligado à corrupção”, analisa.
Conforme o engenheiro, a solução seria cobrar, nos projetos de engenharia e estudo técnico que são feitos antes das pavimentações, durabilidade mínima do asfalto. “Com isso, a prefeitura e o governo poderiam exigir que o asfalto dure 30 anos. Se existir algum buraco na via antes disso, é obrigação da empresa fazer o tapa-buraco, ou o recapeamento. Muito dinheiro público seria poupado”.
Para fazer um asfalto com durabilidade e qualidade necessárias para durar 30 anos, o engenheiro afirma que o acréscimo seria, grosseiramente, de 20 a 30% no preço. “Basta fazer bem feito. Tem que selecionar solo e fazer obra com engenharia. Pavimento é para se pensar de 40 a 50 anos. Mas a conversa começa em pelo menos 20 anos. É só controlar a obra”.
A prefeitura também respondeu as queixas sobre os buracos por meio de sua assessoria de imprensa, afirmando que “quando reassumiu a administração, o prefeito Alcides Bernal encontrou um grande rombo no caixa da prefeitura e várias denúncias contra as empresas que realizavam o tapa buracos, sendo assim determinou que todos os contratos fossem reavaliados e só fossem utilizados após a consulta ao Ministério Público Estadual. No dia 11 de novembro deu-se início ao plano de recuperação das ruas de Campo Grande, utilizando o contrato com cinco empresas, excluindo as duas que estão diretamente ligadas na operação Lama Asfáltica, realizada pela Polícia Federal, que são a LD e a Proteco. Em três meses de operação, o plano de recuperação das ruas já tapou 40.226 mil buracos. Somente em janeiro deste ano, mesmo com as chuvas torrenciais que caíram na primeira quinzena do mês, a prefeitura tapou 8.226 buracos em 66 ruas, utilizando 955,19 toneladas de CBUQ”.
Com relação aos buracos que são abertos logo depois dos serviços de tapa-buraco, a prefeitura informou que “na verdade, os buracos que são tapados não abrem novamente. Devido à péssima qualidade do asfalto da cidade, novos buracos são abertos”. Além disso, nenhum serviço de tapa-buraco é feito sem a fiscalização da prefeitura.
Demais problemas
Em terceiro lugar entre as reclamações dos campo-grandenses está a segurança pública. No entanto, a prefeitura informou que essa área é responsabilidade do Governo do Estado.
Já os itens “limpeza pública” e “coleta de lixo e entulhos” ocupam a quarta e quinta posição entre os principais problemas de Campo Grande, seguidos por “brigas políticas” e “desemprego”.
Metodologia
A pesquisa foi realizada pela Vale Consultoria, contratada pela Rádio Mega 94,3 FM Comunicação e registrada no TSE com o número 05718/2016. Foram ouvidas 850 pessoas. Para um intervalo de confiança de 95%, a margem de erro é de 3,36 pontos percentuais, para mais ou para menos.