O desenvolvimento exige mão-de-obra qualificada
24 JUN 2010 • POR Zeca Dirceu • 00h00 O Brasil encontra-se em claro e inquestionável processo de desenvolvimento
econômico. O crescimento é constante desde 2003, mas atingiu agora um
ritmo
acelerado. As previsões falam num incremento do Produto Interno Bruto
(PIB)
de mais de 8% em 2010. O jornal "O Globo" fala no risco de
superaquecimento
da economia, um "problema" que o Brasil não enfrentava há décadas.
O desenvolvimento é um fato, e somos felizes por viver num momento como
teste. Há obstáculos, porém. Um deles, e o mais frequentemente apontado
pelos meios de comunicação e pelos analistas econômicos, é o da condição
insuficiente e precária da nossa infraestrutura.
De fato, este costuma ser um gargalo que freia o desenvolvimento
econômico.
A falta ou as más condições de estradas, portos, aeroportos, usinas
hidrelétricas, ferrovias, hidrovias e redes de prestação de serviços
essenciais básicos pode impedir ou retardar consideravelmente o
crescimento.
Felizmente, uma parte considerável dos recursos federais, que aumentaram
nos últimos anos devido ao crescimento do PIB, vem sendo investida na
melhoria e ampliação da nossa infraestrutura, e esses investimentos tendem
a ser cada vez maiores.
O outro obstáculo, ao qual tende-se a se dar menos atenção, é o da falta
de
mão-de-obra qualificada, nos mais diferentes setores da economia. Este é
um
problema sentido na maior parte dos países. Contraditoriamente, porém, ele
é mais grave nos países que mais crescem.
Nesse sentido, a crise econômico-financeira pela qual o mundo passou a
partir do final de 2008 (e que ainda não terminou completamente) atenuou o
problema da falta de mão-de-obra qualificada nos países mais atingidos
(como EUA e as nações da Europa). No Brasil e em outros países menos
afetados, no entanto, o problema se agravou.
Segundo a empresa de consultoria internacional de recursos humanos
Manpower, quase dois terços dos empregadores brasileiros têm dificuldades
de encontrar trabalhadores qualificados para preencher cargos disponíveis.
O IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) prevê escassez de
mão-de-obra qualificada em quatro setores da economia neste ano: comércio
e
reparação (menos 187.580 trabalhadores), educação, saúde e serviços
sociais
(-50.086), alojamento e alimentação (-45.191) e construção (-38.403).
Também este é um problema que há muito o Brasil não conhecia. Ou, nas
palavras do presidente do IPEA, Márcio Pochmann, "é um problema bom".
Significa, contudo, que o Brasil deve assumir como prioridade a tarefa de
formar e qualificar profissionais para poder continuar crescendo. Não
basta
infraestrutura, crédito e energia, precisamos também de cérebros, formação
técnica e acadêmica e desenvolvimento tecnológico e científico.
Chegamos a uma situação na qual o desemprego está sendo combatido com
sucesso e os salários estão tendo ganho real. Isto é ótimo, desde que
também consigamos formar profissionais para preencher os postos de
trabalho
ofertados por uma economia em pleno crescimento.
O governo brasileiro está atento a este desafio. Obviamente, a questão
começa na educação, em todos os níveis, e neste sentido o Brasil avançou
consideravelmente nos últimos anos.
O presidente Lula ressalta, com razão, a importância dos investimentos em
educação, como a expansão das universidades federais, a criação dos Ifets
(Institutos Federais de Educação Tecnológica) e a abertura de escolas
técnicas, cujo número deve chegar a mais de 350 entregues por este governo
até o final do presente ano.
Por outro lado, o incentivo dado pelo governo à implantação de empresas de
alta tecnologia é notável. Foi inaugurada em Porto Alegre, por exemplo, a
primeira fábrica de chips eletrônicos da América Latina, com investimentos
de R$ 400 milhões do Ministério de Ciência e Tecnologia. Com isso, cerca
de
100 engenheiros que estavam no exterior por falta de colocação no mercado
de trabalho interno puderam voltar ao Brasil.
Durante os mais de cinco anos em que fui prefeito de Cruzeiro do Oeste,
consegui adotar diversas medidas combinando educação básica, formação e
qualificação de mão-de-obra e desenvolvimento econômico. Investimos muito
na educação em período integral.
Criamos o programa Fábrica de Mão-de-Obra, que qualificou profissionais
para os mais diferentes setores da economia do município. Iniciamos a
construção da nova sede da Universidade Aberta do Brasil (UAB), pólo
regional de Cruzeiro do Oeste. A UAB forma principalmente profissionais na
área da educação, que atendem a toda a região.
O resultado dessas iniciativas foi incentivar os empreendimentos
econômicos, tanto os do próprio município quanto as empresas de fora que
lá
acabaram se instalando, porque passaram a dispor de mão-de-obra
qualificada. Cruzeiro do Oeste se desenvolveu, e o prêmio Prefeito
Empreendedor concedido pelo Sebrae foi um reconhecimento deste trabalho.
O Brasil vai crescer de forma acelerada e consistente, porque tomou
consciência de que precisa criar a principal base para este crescimento:
investimentos pesados em educação, formação profissional, desenvolvimento
científico e tecnológico.
*Zeca Dirceu, 31 anos, ex-prefeito de Cruzeiro do Oeste, é secretário de Relações Institucionais do PT do Paraná