As sacolinhas e o retrocesso
16 OUT 2014 • POR Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves • 00h00Quando o assunto parecia resolvido, o Tribunal de Justiça de São Paulo traz de volta a polêmica lei que retira as sacolinhas plásticas dos supermercados. Se não houver outra liminar ou recurso que suspenda a decisão, dentro de 30 dias a embalagem estará proibida e, com certeza, voltará a mentirosa propaganda de que isso é para “salvar o planeta”. Ao mesmo tempo em que acaba com as sacolinhas, a lei nada faz em relação aos outros milhares de produtos embalados com plástico que, mau descartado, pode trazer danos ambientais iguais ou até maiores do que os causados pelas sacolas.O plástico é uma conquista tecnológica. Substituiu com vantagem e maleabilidade os metais, vidros e outras matérias primas de maior custo e difícil produção. Hoje existem no mercado mais de 400 tipos de plásticos, constituindo desde simples embalagens até sofisticadas peças de alta precisão. O perverso no setor é que, apesar de ser produto reciclável, onde de uma peça velha se faz outra nova, não se desenvolveu uma adequada política de descarte e reaproveitamento. As peças que poderiam voltar à indústria processadora são irresponsavelmente lançadas ao lixo ou, pior que isso, jogadas nas galerias de águas pluviais ou no fundo dos córregos e rios, provocando as enchentes que hoje prejudicam a população. Até os mares estão largamente poluídos por milhares de toneladas de plásticos e outros manufaturados, que causam grande impacto ambiental.
Infelizmente, a urbanização, a industrialização e todo o desenvolvimento se dão de forma predatória. As cidades surgiram e por muito tempo jogaram no rio seus dejetos até que, para não chafurdar, começaram a tratá-los, num processo que ainda não se completou. Só recentemente as indústrias foram chamadas a elaborar programas de coleta e reciclagem de seus produtos que perdem a eficiência. No Brasil isso hoje ocorre especialmente no setor eletro-eletrônico. No plástico ainda não há uma política mais agressiva e toda a reciclagem ocorre por puro interesse econômico e social e com pouca preocupação ambiental. Isso precisa mudar.
Se for proibir tudo o que causa poluição e dano ambiental, além das sacolinhas, a sociedade precisa também parar de fabricar pneus, automóveis, eletromésticos, móveis e toda aquela gama de produtos que hoje se encontra facilmente dentro dos rios. Em vez de proibir, é preciso exigir o uso responsável e a reciclagem eficiente. Proibição é puro retrocesso...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)