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Mãos e almas sujas de lama, onde promessas descumpridas afetam até quem é mais inocente

11 MAI 2016 • POR Liziane Berrocal • 07h43
O caos atinge do teto ao chão, e traz desespero para quem não tem o que fazer

A “casa” é de chão batido. A chuva, transformou o chão em barro, lama. Os pés e as mãos, além da alma, estão tomadas de sujeira. Não sujeira no sentido pejorativo, mas sujeira da chuva. O pouco que tinha, as famílias perderam. O que deu para salvar, ficou imundo, também no sentido literal. Lavar? Como assim? Saíram de uma favela e foram levados para um lugar, onde a promessa seria a construção de casas. No dia em que a Lama Asfáltica invadiu a mídia, a lama que invadiu as ‘casas’ não teve destaque.

Nem a  chuva que invadiu barracos nos loteamentos para onde foram transferidas as famílias da favela Cidade de Deus, comoveu o prefeito Alcides Bernal ou sua equipe, que comparecereu em peso na Câmara Municipal durante a sessão desta terça-feira (10), aonde foi fazer protestos. O fato indignou os moradores do Bom Retiro, Jardim Canguru e Vespasiano Martins, e até o fechamento desta matéria, nenhum funcionário da prefeitura tinha ido até o local prestar assistência.

“Eles só vieram de manhã, mas nem desceram do carro.  Passaram na frente de casa pedi uma lona pra minha mãe  eles disse que não  tinha”, afirmou Liliane. Aos 24 anos, ela tem dois filhos e um primo que moram com ela, além do marido, que pediu férias para com isso realizar o sonho da casa própria. “Até  agora não  entendemos porque  a remoção  foi assim eles tiveram três anos e meio  e no final fomos jogados aqui. Meu marido pediu férias a toa, porque disseram que iam construir as casas quando todos os moradores estivessem aqui, mas não aconteceu”, conta ela que é diarista e o marido trabalha na empresa concessionária de coleta de lixo da Capital.

Edileuza, conhecida como More, está no loteamento do Jardim Canguru, a indignação toma conta ao falar das promessas que ouviu. “Não cumprem e nem vem aqui, porque não é com eles. São os nossos filhos que vão dormir no molhado e não os deles e isso mesmo que vão fazer “, se indigna. “Pessoal esse povo não estão nem ai para nós,  quando a chuva cai eles estão bem protegidos estão em suas casas vocês acham que vão fazer algo por nós?”, questiona ela, que é uma das mais ativas na “voz da cidade de Deus”.

Liliane, é solidária. No Bom Retiro, o barraco dela não sofreu tantos danos. “Mas o que minha mãe está dormindo sim, a cama dela está  todo molhada hoje vamos dormi  em quatro pessoas numa cama de casal e duas em uma cama de solteiro. Estão  acabando os móveis com a umidade e de duas  camas de casal que tinha só  tenho uma agora, porque a outra molhou e estragou tudo. Hoje (ontem) ninguém foi pra escola porque a rua não  tem como andar”, conta ela.

“O Bernal veio uma vez só  aqui na outra  chuva que teve disse que as casas iriam ficar  prontas em 60 dias não  fizeram nada, nem marcação, vai fazer 15 dias que mudamos, e aí?”, questiona.

Um bebê chora em um “bebê conforto”, usado como berço. Ele não tem o bercinho, a mãe se desespera. Nessas horas, a tecnologia ajuda, a foto chega até nós como um soco no estômago. A criança? Não tem culpa de nada, mas no fundo deve saber que vai enfrentar mais uma noite de chuva, frio e medo, não só dela, mas das várias famílias que ali estão.

A assessoria de imprensa da prefeitura? Melhor nem comentar. Eles não respondem mesmo. Em grupos de whatsapp, assessores do prefeito dizem que “não dá para construir uma casa em dois meses”. Quem entende de engenharia até sabe, mas quem entende apenas de sobreviver, só quer uma coisa: viver dignamente. 

O bebê ainda precisa de um berço, quem puder ajudar é só entrar em contato ou visitar um dos locais.