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Em Aquidauana, 16 fazendas estão invadidas por índios

Só na semana passada, oito propriedades foram ocupadas

17 MAI 2016 • POR Flávia Melo • 14h38
Fazenda Esperança foi invadida em 2013 - Reprodução

Grupos de índios invadiram na semana passada oito fazendas na região de Aquidauana, próximo ao distrito de Taunay. A informação é do Sindicato Rural do município, que afirmou que já havia oito áreas já invadidas, totalizando 16.

Segundo o presidente do Sindicato, Frederico Borges Stella, a situação é de insegurança. “A presidente Dilma Rousseff publicou agora em maio várias portarias declarando terras como indígenas. Foi por isso que na semana passada os índios começaram a invadir as fazendas aqui da região”, explicou.

Ainda conforme Frederico, as propriedades invadidas são: Ipanema, Pé de Cedro, Nova Bahia, Touro, Funil, Capão das Araras, Santa Fé e Água Branca.

Tereza Cristina da Costa é proprietária das fazendas Ipanema e Pé de Cedro e afirma ter sido pega desprevenida. “Na verdade existia essa ameaça de invasão há algum tempo, quando várias áreas foram invadidas. Então eu retirei o gado e vendi as 2.200 cabeças de gado que tinha. Foi um prejuízo de cerca de R$ 2 milhões. Há um ano, voltamos a produzir na região, temos liminar que impede a invasão, mas não adiantou. Fui informada na madrugada da última quarta-feira que teria poucas horas para retirar meu gado”, conta.

A produtora rural ainda tentou negociar com os indígenas. “Eu fui junto com o meu marido, Dionaldo Venturelli, e conseguimos alguns dias para retirar o gado. Na fazenda Pé de Cedro tínhamos apenas 500 cabeças, então foi mais fácil. Já na Ipanema pedimos mais tempo, porque são mais de 2 mil cabeças, e eles concordaram. O problema é que eu registrei Boletim de Ocorrência e entrei com pedido de reintegração de posse. Quando os índios souberam disso, me proibiram de entrar na fazenda, então ainda tenho 1.500 cabeças de gado presas ali, sem ter o que fazer, esperando a Justiça”, relata.

Segundo Tereza Cristina, na fazenda Pé de Cedro havia cerca de 30 índios acampados, a maioria de idosos. Já na Ipanema, eram aproximadamente 80 indígenas e a maioria era composta por jovens. “Mas todo dia isso muda, porque a aldeia é muito próxima e são várias fazendas invadidas ali perto, então eles mudam. No dia da invasão mesmo, quando eu fui conversar, a cada hora ia chegando mais gente, então não dá para saber a real situação”, explica.

Imagens registradas na Fazenda Touro, ocupada pelos índios

Denise Vargas da Rocha é proprietária da fazenda Touro e também está com a propriedade invadida. “Foi possível retirar os animais porque fizemos um acordo com os índios e foram entregues duas cabeças de gado e 15 galinhas. Além de ocuparem uma terra que é nossa, eles ainda fazem exigências e nós acabamos impotentes diante dessa situação. A minha fazenda eu arrendo e o produtor teve de sair de lá com seus animais e aglomerar as cabeças de gado numa outra terra que ele já arrenda também. Minha renda acabou e eu não posso sem cortar a energia da fazenda porque preciso da última conta, que está na propriedade invadida e eu não posso nem entrar lá. Agora estamos aguardando a reintegração de posse, mas a Fazenda Esperança espera há três anos. Na semana passada teve a decisão, mas a reintegração de fato ainda não ocorreu”, conta.

Fazenda Esperança

Na última quarta-feira (11), o Órgão Especial do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (SP e MS) deu provimento ao agravo interno que pedia a manutenção da liminar de reintegração de posse da Fazenda Esperança, em Aquidauana, a 143 quilômetros de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, em sessão ordinária. A propriedade estava ocupada desde 2013.

Segundo a proprietária Mirian Correa, a fazenda foi depredada, saqueada e seus animais assassinados. “Voltamos lá 45 dias depois da invasão com um acordo que poderíamos tirar nosso gado de lá. Encontramos um cenário de guerra. Sacrificaram animais que estavam amamentando. Levaram vacas, mataram e deixaram bezerros, perdi uns sete. Eles não têm nem bom senso de cuidar deles. Eles amarraram um dos animais e o deixaram assim por dias”, lembra.

Funai

A Funai informou que as terras não foram invadidas, mas “retomadas pelos índios”, já que em maio foi publicada Portaria do Ministério da Justiça declarando como terra indígena uma área de 33,9 mil hectares no município de Aquidauana, a 131 quilômetros de Campo Grande, ampliando a área da reserva Taunay-Ipegue.

Nota

Diante da situação, o Sindicato Rural de Aquidauana emitiu uma nota de repúdio às invasões. Confira abaixo:

NOTA DE REPÚDIO

O Sindicato Rural de Aquidauana, representado por sua diretoria e associados, vem a público repudiar veementemente as recentes invasões de áreas legalmente tituladas promovidas por indígenas na região do distrito de Taunay.

Tais invasões afrontam o Estado Democrático e de Direito e as leis que regem nosso país, cujo ordenamento garante o direito à propriedade privada, conforme prevê a Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XXII.

Esse constante desrespeito às leis, que em verdade vem ocorrendo há tempos em nossa região e estado, já resultou em mais de 100 áreas invadidas, gerando insegurança jurídica, desordenamento da produção e prejuízos irreparáveis a produtores rurais.

Este sindicato e seus associados esperam que as autoridades competentes possam compreender a urgência necessária à solução desse impasse, que até o momento só trouxe consequências danosas à sociedade.