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Seguir acordo ortográfico à risca não é prioridade, diz secretário da CPLP

18 OUT 2016 • POR Agência Brasil • 12h46
Reprodução/ Agência Brasil

O secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Murade Murargy, afirmou, em Lisboa, que a organização deve traçar, para a próxima década, políticas de cooperação entre os países nas áreas de educação, agricultura, energia e turismo. Na opinião do moçambicano, seguir à risca a aplicação do acordo ortográfico não é uma prioridade.

“A língua é muito importante, não há dúvida nenhuma, e é nossa obrigação difundi-la, promovê-la, internacionalizá-la. Mas não podemos ficar apenas agarrados à nostalgia da língua. A língua é um meio de transmissão de conhecimento, de negócios, do comércio, do investimento. Eu, por exemplo, não me preocupo se estou a aplicar [o acordo ortográfico] ou não. Se as pessoas me entendem, vamos em frente”, disse ontem (17) Murargy, em entrevista.

omunidade enfrenta é na área da educação e do desenvolvimento humano. “Os países, sobretudo da África, ainda têm um grande deficit na área de educação, inclusive na educação de base, e é preciso eliminar o analfabetismo para que não haja um cidadão que não saiba ler, escrever, fazer contas”.

A respeito do Brasil, Murargy disse que o país está buscando o equilíbrio entre as prioridades internas e o compromisso que tem com as comunidades, como a CPLP e as Nações Unidas.

“É preciso ter em conta que o Brasil é um vasto continente e, apesar de ter muitos recursos, é um país em desenvolvimento. Um país que luta para resolver seus problemas de base, como pobreza, educação, saúde, habitação. Então o Brasil interessa-se [pela CPLP] na medida do que é possível. Assim como outros países, como Angola e Moçambique, dá prioridade obviamente a resolução dos problemas internos. Os problemas da Comunidade ficam sempre em segundo ou terceiro plano”.

Acordo Ortográfico

“Quanto ao acordo ortográfico, muita gente não está de acordo, há muitos intelectuais, jornalistas, que não aplicam pois acham que não traz vantagens. Não há uma unanimidade sobre se valeu a pena ou não o tanto de dinheiro que se gastou. As implicações financeiras da aplicação do acordo são grandes. A alteração dos manuais escolares, por exemplo, sobretudo nos países africanos, que não têm capacidade financeira para mandar alterar tudo. Acredito que devemos concentrar-nos no que é fundamental para permitir que os outros [países-membros] possam se desenvolver”.

Futuro da CPLP

“Eu gostaria que a CPLP resolvesse um grande problema, que é a questão da mobilidade do cidadão no espaço da Comunidade. Sobretudo em grupos identificados, que são os empresários, jornalistas, artistas, desportistas, estudantes, investigadores, pesquisadores. A este grupo podíamos começar a dar uma porta de saída para circular no espaço, enquanto os países se organizam, para que a abertura seja total para os outros cidadãos. Isso seria um grande avanço nos próximos dez anos. E isso tem implicações na questão da educação, dos intercâmbios de conhecimento entre estudantes de Portugal, Brasil, Moçambique... Porque esses são os cidadãos que vão transmitir a imagem do que é a CPLP, deste sentimento de pertença à CPLP”.

“Eu vejo que, se houver vontade política, e espero que em Brasília os chefes de estado reafirmem a sua decisão de que a CPLP é uma organização para todos os nossos povos, é possível dar um impulso para que continue a crescer cada vez mais. Eu acredito que é um grande instrumento que temos para nos posicionarmos a nível internacional. Hoje já somos incontornáveis, mas podemos ser mais se mostrarmos um empenho em que essa organização cresça”, afirmou o secretário executivo.