Opinião

Dona Mari, Campo Grande hoje também abraça sua dor...

Uma foto traduz o sentimento de jornalista, diante de notícias que chocam

6 FEV 2017 • POR Liziane Berrocal • 17h11
Um abraço de mãe... - Gerciane Alves

Esse talvez seja um dos abraços mais doloridos que eu já tenha visto. E olha, que em doze anos de profissão eu já vi tantos sofridos. Mas algumas situações fazem com que a gente não consiga simplesmente vestir a roupa de jornalista e ficar alheia aos fatos. O abraço dela, a mãe de um adolescente que está na Santa Casa, com o filho internado após uma brincadeira, daquelas idiotas. E dá para chamar de brincadeira, alguém colocar uma mangueira de compressor de ar no ânus de um garoto de 17 anos, que estava feliz da vida em seu primeiro emprego?

O caso que chocou Campo Grande, aconteceu na última sexta-feira (3), mas os desdobramentos que vieram a seguir, chamaram mais atenção pelo absurdo da história. Ele, 17 anos, tinha uma dívida de gratidão com o Willian, que arrumou o emprego para ele no lava jato do Thiago. Willian tinha 31 anos, era amigo da família, de tomar cafezinho em casa, mesmo todos sabendo que ele não era “lá muito confiável”. Já o dono do Lava Jato, um homem “boa pinta” de 20 anos, tinha vindo de Bela Vista para abrir o negócio.

Thiago e Willian pegaram o rapaz e enfiaram uma mangueira no ânus dele, e isso causou um verdadeiro “estouro” sim, já que o menino perdeu boa parte do intestino e segue internado em estado grave. Ele corre o risco de morrer, mesmo com todo atendimento prestado, e inevitavelmente, terá sequelas por toda vida.

Tudo isso, mas tudo isso é a parte jornalística do negócio. Tudo isso é aquilo que narramos os fatos para espanto e revolta do público, dos leitores, dos telespectadores.

Mas no outro lado, há uma gama de coisas que envolve, desde quem receber o rapazinho, franzino para prestar socorro, até esse abraço, flagrado por nossa repórter Gerciane Alves, que sensível, conseguiu mostrar o que eu, e tantas outras pessoas queríamos estar fazendo nesse momento: abraçando a mãe que vive esse sofrimento.

Dona Mari, a mãe dele, que por ser a vítima, tem o nome preservado. Pelo menos o nome né? Já que a vida dele, e da família, não foi preservada. Ela, é uma mãe. E eu, que em doze anos de profissão já vi tantos abraços de dor, queria estar ali, me juntar nesse abraço da mãe do adolescente, com seu outro filho. Como o dia que comprei uma água e dei para uma mãe que teve o filho assassinado após uma festa e ela chegou bem na hora que eu estava fazendo a matéria.

A dor dela é nítida. A simplicidade e carinho com que fala do filho, o amor, a dor expressa em lágrimas. E quanto é difícil despir-se da frieza que a profissão exige, sim, um abraço vale muito mais.

Dona Mari, mãe, sinta-se abraçada, Campo Grande te abraça hoje, e se compadece da sua dor.