Saúde

Imunoterapia para combate ao câncer de mama aguarda aprovação no Brasil

Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica pede celeridade às autoridades regulatórias no país

24 MAR 2019 • POR Da redação com assessoria • 15h15
Nova terapia pode ser liberada no Brasil - Divulgação

Depois que o FDA, agência norte-americana que regulariza medicamentos, concedeu em 8 de março a aprovação ao atezolizumabe em combinação com nab-paclitaxel para pacientes com câncer de mama triplo negativo, a comunidade médica brasileira segue na mesma missão. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) quer celeridade na aprovação da combinação terapêutica que trata eficientemente um dos subtipos mais graves dos cânceres de mama.

A eficácia da medicação contra a doença metastática foi apresentada em Munique, Alemanha, no Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia (ESMO Congress 2018), principal evento voltado à oncologia clínica do mundo. O IMpassion 130, foi o primeiro estudo de fase 3 a documentar benefício significativo de imunoterapia em câncer de mama metastático.

"A denominação "triplo-negativo" é utilizada em casos em que o tumor não conta com nenhum dos três biomarcadores relacionados à classificação do câncer de mama: receptor de estrógeno, receptor de progesterona e proteína HER-2", explica o oncologista Daniel Gimenes, do Centro Paulista de Oncologia ( CPO) – unidade de São Paulo do Grupo Oncoclínicas.

Segundo o especialista, o câncer de mama triplo-negativo tem maiores chance de recorrência e em muitos casos acaba promovendo uma sobrevida menor em comparação a outros subtipos de tumores mamários.

Por isso, a possibilidade de sucesso com a imunoterapia é animadora e abre novas frentes para o enfrentamento desta doença. "Para esses casos de câncer especificamente houve poucos progressos terapêuticos nos últimos anos. Por isso, os estudos internacionais preliminarmente divulgados na ASCO são animadores por indicarem um novo caminho para tratar esse tipo de câncer de mama", afirma o oncologista.

Entenda a Imunoterapia

Na última década, a imunoterapia passou de um tratamento teórico promissor para um padrão de cuidados que está contribuindo para respostas positivas de pacientes oncológicos. Desde 2011, o FDA aprovou 15 novas drogas imunoterápicas para o tratamento do câncer, sendo cinco só no ano passado. No Brasil, a imunoterapia tem aprovação da Anvisa para uso em casos de melanoma, câncer de rim , câncer de pulmão e câncer de bexiga.

De forma simplificada, o nosso sistema imunológico é programado para combater quaisquer sinais que representem ameaças à saúde. Porém, para manter um equilíbrio que assegure plenamente o nosso bem estar, o mecanismo de defesa do corpo também tem freios que impedem uma ação exagerada nesta resposta – caso contrário, ele pode desencadear as chamadas doenças auto-imunes, como lúpus, esclerose múltipla e artrite reumatoide.

Quando, contudo, ocorre uma falha nesse processo de combate ao inimigo e, em consequência, o surgimento de um tumor, a medicação imunoterápica pode ser adotada para inibir a ação desses freios e provocar a resposta necessária para combater as células malignas. "A imunoterapia cria uma memória imunológica no paciente contra o tumor. A concepção é gerar uma resposta imunológica exacerbada no paciente. Ao fazer isso, o sistema imunológico volta a reconhecer o tumor como um agente externo", explica.

Quando a imunoterapia é a melhor opção?

Apesar dos avanços promissores, o especialista explica que ainda é cedo para afirmar que a imunoterapia seria a chave para a cura do câncer de mama. Todavia, os passos já trilhados são observados com otimismo e lançam boas perspectivas para tratamentos do câncer de mama triplo-negativo metastático e que não responde às medicações convencionalmente indicadas, tais como quimioterápicos e drogas alvo-moleculares.

O que tem se observado de forma global no tratamento do câncer é que nos casos onde o médico pode optar pela imunoterapia, a resposta dos pacientes têm sido satisfatórias.

"Ela [a imunoterapia] tem alguns efeitos colaterais, porém o paciente tem melhor qualidade de vida. É um tratamento mais sustentável para a saúde do paciente, pois ataca diretamente o tumor. Uma das principais vantagens da adoção destes imunoterápicos de nova geração é que, mesmo após o fim do tratamento, a imunidade desse indivíduo pode continuar respondendo a células tumorais, diminuindo a recidiva de tumores e aumentando o tempo livre de progressão da doença", conclui o médico.