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Cinco anos após ser escolhido sede, Brasil muda planos e organiza Copa com verba pública

30 OUT 2012 • POR Jorge Araújo/Folha Imagem • 10h37
Fifa oficializa o Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, em cerimônia em Zurique, na Suíça, em 2007.

O dia 30 de outubro de 2007 foi histórico para o futebol brasileiro. Há exatos cinco anos, a Fifa anunciava o Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014. Quase 60 anos depois receber o Mundial de 1950, o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, finalmente conseguia usar de seu prestígio e trazer novamente para o país o maior torneio de futebol do mundo.

Apoiado por ex-jogadores como Romário e pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Teixeira alcançou naquela data um de seus maiores objetivos. Tomou frente da organização do Mundial e prometeu realizá-lo usando “prioritariamente recursos privados”.

Cinco anos depois, entretanto, muita coisa mudou. Teixeira deixou a presidência da CBF e do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo (COL). O governo assumiu responsabilidades na organização do torneio. Hoje, ele toca e, principalmente, paga a maior parte dos preparativos.

Em cinco anos, o projeto de Copa do Mundo do Brasil já não é mais o mesmo. Confira abaixo algumas das principais mudanças ocorridas desde o dia em que o país foi eleito sede.

Ricardo Teixeira deixa CBF e Comitê Organizador da Copa
Há cinco anos
Quando o Brasil foi confirmado como sede da Copa de 2014, o presidente da CBF ainda era Ricardo Teixeira. O ex-mandatário da confederação assumiu também a presidência do Comitê Organizador Local do Mundial (COL) e trouxe para o órgão pessoas de sua confiança.

Como está hoje
Teixeira deixou a presidência da CBF e do COL. José Maria Marin assumiu as duas funções e manteve a linha de comando. Mudanças do COL, porém, foram inevitáveis. Pessoas ligadas a Marin, como o vice-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, ganharam um cargo do comitê do Copa.

Governo Federal ganha espaço na organização
Há cinco anos
A Copa do Mundo que Ricardo Teixeira idealizou mantinha o governo em segundo plano na organização do torneio. O ex-presidente da CBF queria um Mundial da iniciativa privada e manteve o COL isolado da influência governamental enquanto presidiu o órgão.

Como está hoje
O governo federal tem hoje papel central na preparação do Brasil para a Copa do Mundo. Coordena todos os projetos de infraestrutura para o torneio e ainda mantém um representante no COL, que trata diretamente com a Fifa e a CBF de detalhes da organização do torneio.

Copa privada dá lugar a investimento público
Há cinco anos
Enquanto o Brasil fazia campanha para ser sede da Copa do Mundo, o então presidente da CBF Ricardo Teixeira dizia que o Mundial de 2014 seria organizado “prioritariamente com recursos privados”. Segundo ele, empresas teriam condições de arcar com boa parte dos investimentos necessários para depois lucrarem com o torneio.

Como está hoje
Em cinco anos de preparação do Brasil para a Copa do Mundo, o dinheiro público assumiu um papel fundamental no pagamento dos investimentos necessários para o torneio. Segundo o relatório do TCU divulgado em agosto, 85% dos custos da preparação do país estão sendo pagos diretamente pelo governo ou com financiamentos de bancos públicos.

Custo das obras dos estádios da Copa triplica
Há cinco anos
Quando o Brasil ainda era candidato à sede da Copa, a CBF informava que algumas reformas e adequações em estádios nacionais os deixariam prontos para receber os jogos do Mundial. Por isso, em 2007, a entidade divulgou que 1,1 bilhão de dólares (cerca de R$ 2,35 bilhões) seriam suficientes para preparar as arenas para o torneio.

Como está hoje
Cinco anos depois do Brasil ser confirmado como sede da Copa do Mundo de 2014, o custo para preparar os estádios para o Mundial praticamente triplicou. De acordo com a última previsão oficial divulgada pelo governo no final de setembro, as 12 arenas do torneio vão consumir investimentos de R$ 6,7 bilhões. Desse valor, menos de 10% será pago com dinheiro privado

Projetos de mobilidade ficam pelo caminho
Há cinco anos
A Copa foi vista por governantes como uma forma de acelerar investimentos no transporte. Logo que o Brasil foi confirmado como sede, projetos foram anunciados e prometidos para o torneio. O trem-bala São Paulo-Rio de Janeiro foi um desses projetos. O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) de Brasília chegou a ir para a lista oficial de obras

Como está hoje
Em cinco anos de preparação, alguns projetos de mobilidade urbana foram modificados e outros esquecidos. O trem-bala, por exemplo, não chegou a sair do papel. Já o VLT de Brasília chegou a ser iniciado, mas foi paralisado por irregularidades na sua contratação. O trem urbano da capital federal foi oficialmente retirado da lista de obras da Copa no início deste mês

Embaixador da Copa vira crítico do torneio
Há cinco anos
Entre os membros da comitiva brasileira enviada à Zurique, na Suíça, para a cerimônia de escolha da sede da Copa do Mundo de 2014, estava o ex-jogador Romário. Naquela época, o Baixinho era um dos embaixadores do Mundial do Brasil e fazia campanha a favor do torneio

Como está hoje
Eleito deputado federal em 2010, o ex-jogador Romário assumiu na Câmara uma postura crítica quanto à realização da Copa do Mundo no Brasil. O ex-jogador é atualmente um dos maiores opositores do torneio por achar que seu benefício à população será pequeno.

Via Uol