Brasil

Câmara deve iniciar hoje votação de projeto sobre divisão dos royalties do petróleo

6 NOV 2012 • POR Eraldo Peres/AP • 10h22
Funcionária da Petrobras exibe amostra de petróleo extraído da camada pré-sal, na plataforma marítima P34, em Vitória (ES).

Depois de muita discussão e adiamentos, os deputados prometem, nesta terça-feira (06), iniciar a discussão, análise e votação do projeto que trata da distribuição dos royalties do petróleo. Os royalties são a compensação ou parte do lucro paga ao detentor de um direito – nesse caso, o direito à exploração do petróleo.

Até a semana passada, não havia consenso em torno do texto substitutivo do relator do projeto, deputado Carlos Zarattini (PT-SP).

O parlamentar petista rejeitou o pedido dos estados produtores de petróleo de preservar os critérios de distribuição dos royalties pagos pela exploração dos postos em concessão já licitados. O pedido foi reiterado pelo Palácio do Planalto, mas novamente negado pelo deputado. A nova distribuição dos royalties, se aprovada como quer Zarattini, valerá para tanto para contratos regidos pelo regime de concessão como os de partilha.

A principal diferença entre o regime de partilha e o de concessão é que, na partilha, o Estado fica com uma parcela da produção física em cada campo petrolífero, enquanto na concessão as empresas ficam com todo o petróleo, pagando taxas que variam conforme o volume da produção e os preços internacionais do produto.

O novo regime de partilha proposto pelo governo deve ser adotado nos campos de petróleo da camada do pré-sal e em novas regiões que a União julgar estratégicas. Onde o petróleo já é produzido, os chamados blocos exploratórios, mantém-se o regime de concessão.

A proposta de Zarattini teve o apoio de representantes da maioria dos estados brasileiros, os chamados estados não confrontantes (não produtores), porque receberão uma parcela maior dos royalties já a partir de 2013, quando a lei entraria em vigor.

Por outro lado, em favor dos estados e municípios confrontantes (produtores), Zarattini incluiu em seu texto um dispositivo que garante os ganhos deles até 2020 com valores, no mínimo, idênticos aos recebidos em 2011.

Os governos dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, onde está localizada a maioria dos municípios produtores, são as principais vozes contra um projeto que reduza o ganho deles com a exploração de petróleo e gás em seus territórios. Eles necessitarão de compensação financeira pela exploração e pelos riscos que os territórios sofrem decorrentes do impacto das atividades, pagas por meio dos royalties.

Para Zarattini, a alteração nas regras de distribuição de royalties não representa quebra de contratos de exploração. O deputado argumenta que o contrato entre a empresa exploradora e a União é mantido, o que muda é como a União irá distribuir o recurso recebido. Se houver uma enxurrada de processos na Justiça contra o caso será por parte dos estados e municípios, não das empresas, segundo o deputado. Um dos temores do governo, que tem retardado a aprovação do assunto no Congresso, é justamente a judicialização.

Os estados e produtores reclamam que contavam com o que recebiam até então para pagamento de dívidas internas e outros investimentos em áreas como saúde e educação, por exemplo.

A pressão pela votação foi bancada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), que tinha decidido na semana passada colocar o projeto na pauta do plenário para votação, com ou sem acordo.

Já que o parecer de Zarattini altera o texto que veio do Senado, ao ser aprovado no plenário da Câmara, ele retorna ao Senado para ser votado novamente antes de seguir para sanção presidencial. No Senado, os parlamentares poderão aprovar de forma integral ou parcial a versão dos deputados ou ainda rejeitá-la por completo e retomar a proposta anterior.

Educação e nova proposta
Outro assunto que poderá gerar polêmica na elaboração final do texto é a destinação de recursos dos royalties do petróleo referentes a 100% da parcela dos  fundos especiais, ou seja, os fundos de participação dos estados e municípios, para a educação.

Os estados e municípios deverão tentar desvincular a obrigatoriedade da destinação do recurso ou ainda tentar diminuir a porcentagem para a educação, com objetivo de continuar a utilizar parte do dinheiro em outros fins como saúde pública e pagamento de dívidas. Para fortalecer esta proposta, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, chegou a ir ao Congresso para convencer os parlamentares da importância da medida.

Além do substitutivo de Zarattini, o deputado Alceu Moreira (PMDB-RS) deve apresentar outro texto para tentar ser votado em plenário, em nome da Frente Parlamentar em Defesa da Distribuição Justa dos Royalties do Petróleo, com uma nova proposta de divisão dos royalties.

Moreira defende que “se congele o valor dos atuais privilegiados e distribua o restante” - a mesma regra valeria para o produto extraído tanto da camada pós-sal como da pré-sal, para os campos já explorados e para os que serão licitados.

Via Uol