Opinião

Lição de Onoda

Onoda era um japonês que falava um português “entendível”

5 OUT 2019 • POR Carlos Marun • 11h55
Carlos Marun, advogado, engenheiro e ex-ministro chefe da SEGOV-PR - Reprodução/Internet

Um dia, lá pelo final dos anos 80, passando por Terenos encontrei em uma loja de produtos agrícolas um japonês que “papeava” após fazer algumas compras. Conversa boa. Ele já falava um português “entendível”. Quem o visse assim tranquilo pensaria tratar-se de pessoa comum. 

Todavia, era Hiroo Onoda, uma celebridade, o penúltimo soldado a combater na 2a Guerra Mundial. Localizado nas Selvas Filipinas, só aceitou render-se, em 1974, depois de autorizado pelo seu  comandante dos tempos da guerra, que teve que ir até lá para isto. Após a rendição não se adaptou ao Japão moderno. Alguns parentes haviam emigrado para o Mato Grosso do Sul e ele conheceu e gostou do lugar. Escolheu uma mulher como esposa  e Terenos para viver. Recebeu os salários atrasados e comprou uma fazenda por lá. E naquele momento estava ali, papeando e tomando tereré...

Durante anos Onoda lutou a sua própria guerra, caçando e matando os filipinos(mais de 30)que cruzassem no seu caminho. Até que, informado do fim das hostilidades, voltou a uma vida normal. O que isto tem a ver com a LavaJato? Como Onoda, o Brasil tem que voltar a ter vida normal. Só que, ao contrário do soldado, a Operação não consegue se convencer disto. O país viveu uma convulsão, mas na sequência veio uma eleição limpa e pacífica. Agora é preciso voltar a normalidade, com a corrupção e os outros crimes sendo combatidos com vigor, mas dentro da legalidade.

No Japão muitos queriam que Onoda continuasse matando gente nas Filipinas. A mesma coisa acontece por aqui com os LavaJatistas fanáticos que insistem na guerra eterna. Há alguns dias nestas páginas meu amigo Luís Coronel empunhou seu fuzil. Não é um fanático mas pensa como tal ao relativisar a necessidade de a Lava Jato se adequar a legalidade.

A fase dos tiros acabou e a Operaçao, que prestou serviços relevantes ao país, tem que aceitar respeitar a Lei, o Devido Processo Legal, a Presunção de Inocência, o Sigilo dos Processos, os Direitos Individuais, a Ampla Defesa, a Voluntariedade das Delações e a Honra e a Reputação das pessoas. Estas coisas simples, mas que definem o Estado Democrático de Direito. 

Resumindo: Ou a Lava Jato aceita, como Onoda aceitou, voltar a normalidade e passar a combater o crime sem praticar crimes ou então tem que realmente acabar. 
É o que penso!

Carlos Marun
Advogado e Engenheiro
Ex-Ministro Chefe da SEGOV/PR