Esportes

No PSG, David Beckham torna-se o craque dos sonhos fora dos campos

23 FEV 2013 • POR Philippe Wojazer/Reuters • 17h14
No dia 31 de janeiro de 2013, Beckham apresentou sua nova camisa do PSG logo após uma coletiva de imprensa.

Desde que os dois clubes voltaram a disputar o campeonato francês em alto nível, nesta década, os clássicos entre Paris Saint-Germain (PSG) e seu maior rival, o Olympique de Marselha, foram alçados a um novo grau de interesse na França. Mas o derby das 21 horas deste domingo (19h de Brasília) tende a ser um dos primeiros a ultrapassar as fronteiras e atrair aqueles que não gostam do futebol francês, mas que  apreciam o esporte como um espetáculo. Tudo porque, aos 37 anos, o ex-galático David Beckham pisará no gramado do Parque dos Príncipes pela primeira vez. Trata-se da aguardada estreia do ídolo inglês no PSG, de Lucas, frente à sua torcida, depois das passagens do ídolo por Manchester United, Real Madrid e Milan, além de do Los Angeles Galaxy.

O jogo, válido pela 26ª rodada da Liga Francesa, pode tanto fazer o PSG disparar na liderança, quanto relançar o Olympique na disputa pelo título. Daí o entusiasmo manifestado pelo craque quando questionado pela PSG TV – a única para a qual ele tem concedido entrevistas. “Eu disputei muitos clássicos na minha carreira, como o choque entre Milan e Inter, United e City, Real e Barcelona ou ainda Galaxy e Chivas. É muito excitante ter a oportunidade de descobrir um novo derby. É sempre um jogo muito particular”, disse o inglês.

Apesar da disposição e do empenho do galáctico, é difícil imaginar que o atleta David Beckham ainda tenha a saúde física que os grandes clássicos exigem. Perto dos 38 anos, que completará em maio, o jogador desperta mais dúvidas do que certezas entre analistas na França e na Europa. Isso porque nos últimos quatro anos o ex-capitão da Inglaterra atuou na MLS, a Liga Americana de Soccer, um campeonato ainda considerado de baixa intensidade e qualidade. Mesmo que mantenha um preparo físico impecável, a incerteza paira sobre seu ritmo de jogo e sua capacidade de ainda surpreender no futebol francês.

Há quem ainda acredite no seu potencial, alegando que Beckham sempre foi um grande profissional, elogiado por colegas e por todos os seus treinadores. Prova disso é que Carlo Ancelotti, treinador do PSG, avalizou sem colocar obstáculos a contratação de seu ex-pupilo no Milan. Outro argumento em seu favor é de que o astro inglês pode ser um grande exemplo para os jovens do clube, como Sakho, Verratti, Matuidi e mesmo Lucas, a nova estrela da constelação parisiense.

Jogada de marketing
Mas, diante de tudo que o ídolo representa fora de campo, seu protagonismo no time parece ser o que menos importa em Paris. Beckham é, sobretudo, uma grande jogada de marketing do PSG. Com uma das mais barulhentas contratações do mercado de inverno na Europa, o diretor técnico Leonardo e o proprietário do clube, Nasser Al-Khelaif, conseguiram ainda mais projeção mundial para a marca.

E não é apenas com venda das camisas de 80 euros que o craque ajudar o PSG a pagar o seu salário. Trata-se de toda uma engrenagem administrativa que será movimentada pela contratação. Especialistas em marketing esportivo consultados pelo jornal Estado veem em Beckham um interesse midiático muito superior ao esportivo. Com grifes no campo de futebol, o PSG poderá aumentar os preços dos ingressos no Parque dos Príncipes, atrair mais associados e incrementar a receita do clube com visitantes, turistas e fãs por todo o mundo – o que significa dinheiro e prestígio.

Todo esse esforço tem como objetivo deixar para trás a época em que o PSG era só mais um clube francês situado na Porte de Saint-Cloud, em uma periferia chique, para transformá-lo em uma marca mundial. O objetivo teve mais uma etapa na sexta-feira, quando o clube lançou seu novo distintivo, que destaca a palavra Paris e a Torre Eiffel, uma forma de associar o time a uma cidade global.

Mas o redesenho é quase um detalhe. No futebol, para ganhar destaque, é preciso reunir grandes nomes, como Zlatan Ibrahimovic e, claro, Beckham, dizem os experts do marketing. “O PSG quer fazer de sua equipe a mais competitiva possível. Beckham não se enquadra nesse projeto, porque não é mais nem capaz de jogar 90 minutos em alto nível. Ele foi um dos maiores jogadores do mundo. Não o é mais”, diz Romain Regnard, diretor do gabinete de conselho esportivo Sixieme Homme, de Paris, ponderando: “Ainda assim, um jogador como Beckham interessaria a qualquer equipe da Liga Francesa ou à maior parte dos clubes do mundo, porque se trata de um fenômeno de marketing.”

Para Arnaud Benoit-Cattan, diretor-geral do gabinete Quarterback, o PSG usa a contratação de estrelas para se tornar o que ele ainda não é: um clube mundialmente reconhecido. “Beckham é uma estratégia de marketing pura. Mas também é muito importante para o futuro esportivo do clube”, entende Benoit-Cattan. “O PSG é muito jovem, foi criado nos anos 1970, e não tem a tradição dos grandes da Europa, que são centenários. Além de tudo, Ibrahimovic, Lucas e sobretudo Beckham são mensagens enviadas ao planeta do futebol: observem do que agora somos capazes.”

Via Estadão