Política

Maduro e Capriles abrem disputa da presidência da Venezuela pós-Chávez

11 MAR 2013 • POR Reprodução • 10h39

O sucessor de Hugo Chávez, presidente interino Nicolás Maduro, e o candidato da oposição, Henrique Capriles, iniciaram de maneira dura no domingo a disputa para as eleições venezuelanas de 14 de abril, e devem oficializar suas candidaturas nesta segunda (11).

Capriles, um advogado de 40 anos que perdeu a eleição de outubro do ano passado para Chávez por 11 pontos, anunciou que enfrentará Maduro, em uma entrevista na qual acusou o candidato oficialista de "mentir" sobre a morte do presidente e de usá-la para fazer campanha política.

"Vou lutar com vocês, com todos vocês. Nicolás, não vou deixar o caminho livre para você, companheiro. Você terá que me derrotar com votos", provocou Capriles durante uma entrevista coletiva, acrescentando que, na tarde desta segunda-feira, irá formalizar sua candidatura ante o Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

Capriles é governador do estado de Miranda (norte) e já foi prefeito do município de de Baruta.

Capriles criticou duramente o governo por sua forma de lidar com a doença de Chávez.

"Quem sabe quando morreu o presidente Chávez? Vocês tinham tudo calculado (...) Agora vocês utilizam o corpo do presidente para fazer campanha política", afirmou Capriles, depois de acusar "Nicolás e seu combo" de estarem "doentes de poder".

De maneira imediata e com uma foto de Chávez atrás, Maduro, um ex-motorista de ônibus e ex-sindicalista de 50 anos, chamou Capriles de "fascista de rosto nauseabundo", "miserável" e o acusou de "sujar" a memória do "comandante supremo da revolução".

"Cai a máscara e se vê o rosto nauseabundo do fascista que é. Seu objetivo é provocar o povo da Venezuela, é um irresponsável. Está buscando que o povo da Venezuela saia da via e vá pelos caminhos da violência", disse.

"Está buscando a violência para romper o tabuleiro político venezuelano e então manchar o processo eleitoral (...) e depois justificar sua retirada da campanha pela violência que ele mesmo gerou com suas grandes ofensas ao povo", acrescentou.

A eleição está programada para o dia 14 de abril e analistas apontam que serão difíceis para a oposição, devido ao clima de comoção entre os chavistas após a morte de seu líder, que governou o país por 14 anos.

Depois de atacar o adversário, Maduro, que assumiu o governo como presidente interino na sexta-feira, anunciou que o governo deve propor uma emenda constitucional para levar o corpo de Chávez ao Panteão, onde está o libertador Simón Bolívar, o que deve ser submetido a referendo em 30 dias.

"Se há alguém que ganhou em 200 anos o direito de ir ao Panteão Nacional é o comandante Hugo Chávez, elevado ao grau de redentor dos pobres", afirmou Maduro.

Ele não citou explicitamente a convocação de um referendo, a Constituição estabelece que as emendas da Carta Magna devem ser submetidas à votação popular.

A Constituição estabelece atualmente que devem transcorrer 25 anos do falecimento de um venezuelano para que possa entrar no Panteão.

"O oficialismo estaria fazendo uma jogada interessante: atrelar a emenda às eleições, de forma que estas estariam completamente centradas em Chávez", disse à AFP o presidente do insitituto Datanálisis, Luis Vicente León.

O corpo de Hugo Chávez, exposto na capela ardente na Academia Militar, será levado na próxima sexta-feira para o Museu da Revolução, em Caracas, anunciou Maduro.

O Museu da Revolução é um antigo quartel-general a partir do qual Chávez iniciou, em 4 de fevereiro de 1992, uma tentativa frustrada de golpe de Estado que o tornou conhecido e deu início a sua carreira política.

Os seguidores que permaneciam nas filas para ver o corpo do Chávez não pareciam escutar os slogans e as piadas repetidas desde os alto-falantes. Epítetos para chamar o Capriles de mediocre ou inferior eram utilizados com frequência, seguidos de os slogans da, tácitamente adiantada, campanha eleitoral.

Após cinco horas em pê, Luisa Escalona, de 49 anos, permanecia a mais de dois quilômetros da porta do salão de honra da Academia Militar. Ela achou positiva a participação da aliança opositora na eleição do 14 de abril, mas questionou a escolha de Capriles por ainda estar em funções como governador da província de Miranda.

Nesta segunda, Caracas amanheceu com calma. As escolas devem reabrir as portas, ao tempo que comercios e escritórios públicos voltam ao ritmo normal de trabalho. A lei seca e a proibição de porte de armas seguirá até a quarta-feira (13).

Chávez morreu na terça-feira da semana passada aos 58 anos, vítima de câncer, e seu corpo permanecerá na capela ardente até meia-noite de quinta-feira na Academia Militar, onde milhares de simpatizantes passam horas na fila para a despedida.

Via G1