Saúde

Sequelas graves em pacientes curados de coronavírus preocupam cientistas

Na pesquisa, dos 500 pacientes que participaram do estudo, 70% ainda enfrentam sintomas

5 AGO 2020 • POR Priscilla Porangaba, com informações da CBN • 12h36
Paciente chega a hospital de campanha no Leblon, no Rio - Reprodução/Internet

Pacientes que se recuperaram do coronavírus podem ter sequelas graves de médio e longo prazo é o que indica pesquisa feita por cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Dos 500 pacientes que participaram do estudo, 70% ainda enfrentam sintomas.  As consequências, porém, são mais graves para pessoas que tiveram quadros avançados de coronavírus. A avaliação é que 20% dos contaminados apresentem algum tipo de complicação.

A infectologista do Instituto Emílio Ribas, Elisa Aires, presenciou um cenário crítico ao entrar na equipe de cuidados paliativos, que atende pacientes em recuperação. "Nós temos visto muitos pacientes com fibrose pulmonar, que não conseguem sair da ventilação mecânica. Pacientes que ficam dependentes de diálise por lesão renal. E temos visto também pacientes com problemas cardíacos graves", disse Elisa.

Vítima de complicações causadas pelo coronavírus, a chefe de cozinha Cláudia Kojima ficou 48 dias em coma. Ela acordou sem os movimentos do corpo e hoje faz reabilitação.

Outro problema que tem aparecido é a trombose, como a que levou à morte o jornalista, escritor e cantor Rodrigo Rodrigues, que desenvolveu coágulos nos vasos cerebrais. No caso do empresário Felipe Zillo, de 36 anos, houve uma tromboembolia pulmonar, com inflamação na artéria que leva sangue do coração ao pulmão. Ele não tinha comorbidades anteriores e agora tem dificuldades de voltar a fazer exercícios.

Estudos alemães publicados nesta semana na revista Jama Cardiology alertam que, mesmo após a cura, a Covid-19 pode afetar o tecido do coração. Cerca de 60% dos pacientes que participaram das pesquisas tinham complicações cardíacas mesmo após a cura do coronavírus.

O presidente do Conselho Diretor do InCor, cardiologista Roberto Kalil Filho, explica que quadros como esse também estão presentes em fases iniciais.

Para o diretor-científico da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Fernando Bacal, os resultados dos estudos são um alerta para que médicos investiguem outros riscos do coronavírus.

"Também não é para gerar um alarde, mas é justamente para o clínico, o cardiologista, o médico infectologista que cuidou desse paciente durante a internação tenha ideia de que tem que fazer um eletro, um ecocardiograma mais tardiamente, da mesma forma que se faz exame de imagem no pulmão, para ver se o paciente passou pela Covid-19 sem uma agressão que vai gerar um dano pra frente, que vai precisar de algum tratamento", afirmou.

Outras sequelas mais brandas podem permanecer no médio e longo prazo. É o que explica a médica hematologista Indianara Brandão. "Há pacientes que tiveram dor de cabeça que não cessa, uma fadiga, aquela indisposição no corpo. Antes conseguia fazer atividade física normalmente e hoje não consegue retomar as atividades por conta de dor no corpo, dores articulares", destacou Indianara.

A Organização Mundial da Saúde alerta que a chance de sequelas aumenta em pacientes que tiveram permanência longa em Unidades de Terapia Intensiva e usaram aparelhos respiratórios.