Opinião

O Líbano de meus olhos

O presidente da OAB/MS, Mansour Elias Karmouche, opina sobre a megaexplosão no Líbano

21 AGO 2020 • POR Mansour Elais Karmouche, presidente da OAB/MS • 14h35

A explosão na região portuária da Capital do Líbano, Beirute, no último dia 4 de agosto, cujas causas ainda se encontram em investigação, comoveu o mundo inteiro, criando uma onda de solidariedade entre povos dos mais diversos países. Depois da tragédia, em que morreram e se feriram centenas de pessoas, viu-se o fortalecimento dos laços de amor que unem as famílias libanesas e a solidariedade da população mundial.

O Líbano é um País com 6 milhões de habitantes. No Brasil, os descendentes de libaneses ultrapassam 10 milhões de pessoas. Ou seja: trata-se de uma comunidade expressiva que adotou o Brasil como segunda Pátria.

Meus pais nasceram no Líbano e vieram para Campo Grande na década de 50. Aqui se estabeleceram e fincaram raízes. Quando completei 5 anos, em 1974, morei em Beirute durante 1 ano. Era criança. Minhas lembranças sobre esse período, portanto, são tênues.

Na verdade, essa foi uma experiência que ficou em minha memória afetiva. Lembro-me de Beirute como um lugar alegre, com muitas festas, uma cidade belíssima, também chamada na época de a “Paris do Oriente Médio”, considerada berço da civilização, com mais de 7 mil anos de história, banhada pelo mar azul do mediterrâneo, e abençoada pelas montanhas nevadas do leste, chamadas Montes Líbanos ou “Montes Brancos”.

Todos os que visitam o Líbano ficam impressionados. Saíamos da praia, com 40 graus e, uma hora depois, podíamos esquiar na neve, desfrutando de paisagens maravilhosas. Assim é o Líbano. E por isso ele fascina, pelas suas cores vívidas, pela exuberância de sua natureza e pela cultura e diversidade de seus povos.  

Nossa terra é um País de contrastes. Somos uma Nação pequena no tamanho (10 mil quilômetros quadrados), mas temos um coração imenso: aprendemos a conviver com as diferenças, sempre fomos abertos ao mundo, produzimos riquezas minerais e pedras preciosas, mantendo um intercâmbio permanente com outros povos, ponto de passagem entre a Europa e a Ásia.

Saímos – grande parte de minha família - do Líbano quando Israel e Síria começaram uma guerra no território Libanês. A partir daí nossa população espalhou-se: Brasil, EUA, Canadá, Europa. Hoje os libaneses são cidadãos do mundo. Em dois séculos, com os conflitos sucessivos, com poucos intervalos de paz e prosperidade, foram deixadas marcas profundas no Líbano. Os acontecimentos trágicos do começo deste mês agravaram um quadro difícil, aprofundando a crise política e econômica do País.

Mesmo assim, temos fé de que vamos reverter esse quadro, melhorar nossa democracia, reduzir a corrupção, encontrar a prosperidade e a felicidade. O povo Libanês é resiliente, tenaz e esperançoso.

Recentemente, uma comitiva brasileira visitou o Líbano capitaneado pelo ex-Presidente Michel Temer e pelo Senador Nelsinho Trad, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, e o que todos trouxeram de lá foi uma mensagem de otimismo. Nosso povo é grato. Tenho certeza que voltaremos em pouco tempo a ser o que éramos. Tudo depende de uma palavra pequena, mas ampla de significado: paz.   

Mansour Karmouche, presidente da OAB/MS