Clima

Fogo no Pantanal impacta berço das araras-azuis

O local é a principal região das araras-azuis no Estado do Mato Grosso e responsável por 15% da espécie na natureza

18 SET 2020 • POR Matheus Rondon e Marcos Tenório • 15h45
Araras azuis no Instituto - Luciano Candisani

A maior reserva do mundo de araras está sendo destruída pelas queimadas no pantanal, nesta sexta-feira (18) a Presidente Drª Neiva Guedes conversou com a equipe do JD1 Noticias sobre os impactos que as queimadas representam a reserva.

O projeto arara azul existe há 30 anos, com a responsabilidade de cuidar e preservar as araras azuis, Anualmente, mais de 1600 monitoramentos são realizados no Pantanal sul-mato-grossense e mato-grossense, onde a população das arara azuis é de aproximadamente 5 mil indivíduos.

A presidente do Instituto arara azul, Profª. Dra. Neiva Guedes, conta que “a consequência é muito grave, o impacto muito grande na população de fauna em geral, para as araras azul em especial, por que nesse momento  elas estão começando o período reprodutivo tende-se diretamente a perda de ninho, ovos e filhotes recém nascidos”, lamenta.

A Drª Neiva explica que apesar das araras adultas conseguirem voar, o problema é que o ambiente delas está sendo atingido, e como a espécie é muito especializada na alimentação e em locais de reprodução, elas acabam  perdendo o habitat, “então o impacto é muito grande, nós estamos muito tristes, na próxima semana nós estamos indo para a região para fazer uma avaliação da dimensão desse impacto na área”, explica.

A área que foi devastada pelo fogo fica na Fazenda São Francisco do Perigara, localizada no Pantanal de Barão de Melgaço no Estado de Mato Grosso, as margens do Rio São Lourenço, fazendo divisa com a Reserva Indígena Perigara, da etnia Bororo, a propriedade de 25 mil hectares, contava com 30 ninhos naturais e mais 20 artificiais, totalizando 50 ninhos, porém a região concentrava 15% da população da natureza, que chegava até 1mil da espécie que se reunia para dormir.

O dormitório não foi queimado, porém em torno da região falta alimentos e água, por que todo o resto foi queimado.

Questionada sobre como estão procedendo em relação á alimentação e distribuição de água para as araras, a professora explica que os proprietários estão fazendo acero, poços e refazendo os poços artesianos na região para poder suprir essa falta de água até chova. “Em relação a alimentação a gente vai avaliar o que é possível fazer, inclusive buscando frutos da natureza de outras áreas pra colocar lá a disposição das araras”, explica.

Sobre a arara azul

A arara azul (Anodorhynchus hyacinthinus) Latham (1790), maior representante da família dos psitacídeos, saiu do Livro Vermelho de Espécies Ameaçadas de Extinção do Brasil em dezembro de 2014, mas continua como vulnerável na IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza). Ela é uma espécie social, que vive em família ou grupos, conspícua, residente e com certa fidelidade aos sítios de nidificação. No Pantanal as araras utilizam ocos em troncos de manduvi (Sterculia apetala) para reproduzir, espécie-chave para esta população, uma vez que 94% dos ninhos desta ave são abrigados em cavidades existentes nesta árvore. Logo, a situação é preocupante, pois este é mais um desafio para as araras, que vêm sofrendo com a descaracterização do habitat, o tráfico de animais silvestres, e outras consequências das alterações climáticas, como o aumento da perda e predação dos filhotes.