Cultura

Documentário proibido dos Rolling Stones feito em 1972 segue sendo visto e vendido

31 JUL 2013 • POR Via Folha • 12h02
Keith Richards prepara heroína em cena de 'Cocksucker Blues'. (Imagem: Divulgação)
Ainda na ressaca da comemoração do cinquentenário da banda, os Rolling Stones atravessam agora o 51º ano de vida em turnê festejada.

Em comparação com seus shows de 1972, as músicas são quase as mesmas - o grupo não fez muita coisa boa de lá para cá -, mas fora do palco as coisas devem ter mudado.

Aos 70 anos, completados na última sexta-feira, Mick Jagger não deve ter mais fôlego para encarar a maratona de sexo, drogas e rock and roll na qual a turnê americana de 1972 estava inserida.

Ele, Keith Richards e Charlie Watts talvez queiram esquecer a fase de devassidão, mas há um fantasma que não permite enterrar essas memórias: o documentário "Cocksucker Blues", hoje presente em vendas on-line ilegais.

Dirigido por Robert Frank, o filme sobre os bastidores da excursão foi encomendado pela banda e, posteriormente, proibido por ela.

Em 1977, o diretor ganhou na Justiça o direito de fazer uma exibição pública anual da obra, desde que ele próprio esteja presente. Frank, 88, compareceu em novembro ao MoMA (Museu de Arte Moderna) de Nova York, que incluiu o documentário em um festival. Jagger registrou um protesto oficial contra a exibição.

Durante anos, pessoas levavam câmeras para filmar o que aparecia na tela nessas sessões. Versões assim circulavam no Brasil, no início dos anos 1980, com a chegada das fitas VHS. A qualidade de imagem era sofrível e várias vezes era possível ver na parte de baixo da tela as cabecinhas das pessoas na plateia.

Atualmente essas sessões não são tão concorridas. A cada ano, o avanço da pirataria espalha mais cópias de "Cocksucker Blues". Para fúria de Jagger, versões com mais qualidade circulam na internet em vídeos compartilhados ou na venda de DVDs "físicos", com capa e ficha técnica.

Até a respeitável loja eletrônica Amazon é usada pelos piratas; volta e meia surge na seção de usados do site uma cópia do filme - na semana passada, um DVD de "Cocksucker Blues" estava à venda por cerca de R$ 330.

O filme entra e sai do YouTube. Raramente completo, é habitualmente colocado em trechos. Depois de horas ou dias no ar, é excluído pela política de direitos autorais do YouTube. Na última segunda-feira, cinco arquivos com trechos eram encontrados ali.

Mas, afinal, o que perturba tanto em "Cocksucker Blues"?

Para começar, o título, algo como "O blues do chupador de pau", tirado do título de uma polêmica canção da banda.

Depois, cenas explícitas de consumo de drogas e outras quase explícitas de sexo grupal. Na maior parte, protagonizadas por funcionários e amigos dos Stones.

Mas Jagger aparece com a mão dentro da calça, se masturbando, e cheirando cocaína. Richards prepara e consome heroína, além de beber galões de destilados.

Sexo no avião
Em uma cena que não aparece em todas as versões piratas, amigos fazem farra no avião da banda com várias tietes nuas e drogadas, enquanto os integrantes da banda batucam e aplaudem. Richards percebe que Frank está filmando e pede que ele pare.

Um dos maiores fotógrafos do século 20, o suíço radicado na América foi contratado pelos Stones, que admiravam suas fotos, notadamente "The Americans", livro de 1958.

Sua intenção de registrar sem censura o mundo dos Stones é atraente e melancólica. Jagger e Richards aparecem fragilizados em sua condição de ídolos paparicados.

Deuses do rock também são criaturas mundanas.