Economia

Mudança das ações na Bolsa é boa, mas insuficiente, dizem analistas

13 SET 2013 • POR Via Uol • 11h14
(Foto: Alex Almeida/Folhapress)
Especialistas consideram que as mudanças na composição do Ibovespa (principal índice da Bolsa) foram positivas, mas não resolvem todos os problemas que vinham sendo apontados pelo mercado há tempos.

Para Paulo Roberto Esteves, gestor de renda variável da Gradual Investimentos, as mudanças que a Bolsa está fazendo no índice resolvem apenas uma das críticas do mercado, que era a de privilegiar a liquidez, ou seja, a facilidade de compra e venda do papel.

"Agora a ponderação da carteira teórica privilegia o valor de mercado, o que era uma demanda bastante forte. Mas a outra crítica, que é o peso excessivo das commodities no índice, não foi resolvido. Isso implica uma baixa representatividade do Ibovespa em relação à economia brasileira", diz.

Clodoir Vieira, consultor de investimentos da Compliance Comunicação Empresarial, acha que a mudança é bem-vinda. "A nova metodologia vai diminuir o excessivo sobe e desce do índice. Impedir que uma ação que valha menos de R$ 1 faça parte da composição do Ibovespa também é positivo.

Ele dá como exemplo as ações da OGX, de Eike Batista, que valem R$ 0,33 (no dia 12/09). Se essa ação cair R$ 0,05, já perdeu 13% do valor. "É uma tremenda exposição", diz Vieira.

Ibovespa não representa o PIB brasileiro

Para ele, a composição do Ibovespa também deveria levar em consideração o resultado operacional da empresa, e não apenas o número de ações. O resultado operacional mostra o que a empresa ganha com o que ela efetivamente produz, e não ganhos com operações financeiras.

Vieira afirma que o Ibovespa não representa o PIB brasileiro. Segundo ele, há muitas empresas que não são de capital aberto e têm um peso muito grande no mercado, como as montadoras. "O próprio agronegócio tem apenas umas quatro ou cinco empresas na Bolsa. Mas o agronegócio que não está na Bolsa representa 25% das exportações", diz.

Marco Aurélio Barbosa, analista-chefe da Coinvalores, concorda com a análise dos demais. Para ele, a nova composição do índice é melhor, pois deve evitar situações como as que a Bolsa vem enfrentando pelo elevado peso que a OGX, de Eike Batista, tem na composição do índice, sendo que é uma empresa quase não operacional.

"Isso acaba distorcendo muito o índice e pesando no psicológico dos investidores e na estratégia também", diz.

Especialista elogia participação limitada de empresas no novo índice

Para Barbosa, a melhor medida foi a que limita a 20% o peso de uma empresa no Ibovespa. "Isso soou como música aos meus ouvidos".

Ele afirma que essa limitação poderia ser ainda maior, pois uma maior pulverização do índice permitiria mais representatividade de outros setores da economia. "Eu gostaria que o Ibovespa contivesse 50, 80 papéis para evitar o que acontece com Vale e Petrobras".

Ele explica que o grande peso que esses papéis têm no índice é prejudicial até mesmo às empresas, pois quando os grandes investidores querem sair da Bolsa, eles vendem ações dessas empresas mesmo que elas estejam dando bons resultados, e isso acaba prejudicando os pequenos investidores.

"Eu arriscaria dizer que o limite de participação de uma empresa no índice deveria ser de 10%, mas isso é intuição de quem está no mercado há muito tempo."

Exposição a commodities continua sendo um problema

O especialista afirma que a nova metodologia reduz a distorção, mas não sabe se ela irá resolver todos os problemas do indicador, já que a Bolsa continua muito exposta às commodities (matéria-prima como minério de ferro). "A China acaba tendo um peso gigantesco sobre o Ibovespa."

Esteves, da Gradual Investimentos, também critica a grande influência que as commodities exercem no indicador.

"Os setores de mineração, siderurgia, petróleo, papel e celulose e agronegócio ocupam 40% do Ibovespa atual. São segmentos cujos preços são definidos no mercado internacional e têm ciclos de alta e baixa. Ocorre que o Brasil mudou nos últimos anos e as empresas voltadas ao consumo precisam aparecer mais", diz.

Por esse motivo, Esteves conta que a Gradual criou, em 2007, o índice IBG30, que descartou a participação de empresas dos setores citados acima. "Privilegiamos segmentos de consumo, alimentos, finanças, que representam melhor, na nossa opinião, a economia brasileira."

Para Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora, o Ibovespa mede o que se propõe a medir, que são as empresas mais líquidas e mais negociadas. "Se isso representa o mercado brasileiro, é outra discussão."

Outros índices também devem ser apreciados pelo mercado
Ele diz que há vários outros índices na Bolsa (como IBX50), mas que poucos os acompanham. O Ibovespa tem muita importância, mas não se pode deixar de lado os demais índices. Há vários interessantes, que medem o desempenho de small caps (empresas cujas ações têm pouca liquidez) ou ainda índices setoriais, como das empresas elétricas, e esses índices acabam não sendo observados.

Gala aponta que a Bolsa americana tem o Dow Jones, que mede o desempenho da indústria e é o mais famoso. Mas há também o S&P 500, que mede o desempenho das 500 maiores empresas. "Leva um tempo para outros índices se consolidarem", diz.