Esportes

Má fase dos clubes ainda pesa para que atletas adotem postura política

27 SET 2013 • POR Via Uol • 10h29
"Essa situação do calendário brasileiro tem que mudar" - Léo Moura, lateral do Flamengo. (Foto: Divulgação/Alexandre Vidal/Fla Imagem)
Em um respiro de modernidade, jogadores de todo o país se uniram para lançar um manifesto pela mudança no futebol brasileiro. Nos momentos de crise, porém, velhos preconceitos ainda pesam, e os atletas envolvidos no Bom Senso F.C. encontram dificuldade para comprarem brigas públicas com suas equipes em má fase no Campeonato Brasileiro.

A questão não é central no debate dos atletas, mas todos se preocupam com ela em diferentes medidas. Até agora, as principias manifestações de repúdio ao movimento vieram de cartolas de federações e dos sindicatos, que reclamam por supostamente terem sido alijados do processo. Os clubes, em geral, têm se mantido calados sobre o assunto, com raras exceções de apoio, como Vasco e Atlético-PR.

Nos demais, porém, sobram diretores que internamente torcem o nariz para o Bom Senso F.C. Esse grupo se divide entre os cartolas que não concordam com a iniciativa e preferem manter o sistema atual e aqueles que são indiferentes, ou até propensos ao pleito dos jogadores, mas preferem não se envolver.

É nessa última fatia da cartolagem que o peso da má fase é mais sentido. Os dirigentes usam sequências de derrotas ou ameaças de rebaixamento como uma forma velada de intimidação dos atletas que falam abertamente sobre assuntos como calendário, más condições dos gramados e política esportiva em geral. Em geral, os jogadores não são cobrados diretamente, mas sabem que a exposição na mídia em momentos de crise pode virar uma arma contra si depois de uma falha em um jogo decisivo.

A pressão das arquibancadas também não ajuda. Os atletas que costumam dar entrevistas sobre assuntos mais espinhosos, por exemplo, não por acaso escolhem bem os dias para fazê-lo, já que uma fala mais dura depois de uma derrota pode despertar a acusação de "falta de foco" ou "distração".

Por enquanto, ainda não é possível dizer o quanto esse fenômeno vai afetar como um todo o Bom Senso F.C. coletivamente. Até a publicação do manifesto, dizem os líderes, a pressão da imprensa, dos dirigentes e do público não impediu que até jogadores com perspectiva de participação na seleção assinassem a carta.

Falar sobre o assunto em público, porém, ainda é algo mais fácil para os principais líderes, mais acostumados a críticas do tipo e que até assumem o papel de protetores dos colegas, tomando a frente na discussão. Na próxima segunda, na primeira reunião presencial do grupo, uma das principais iniciativas é a eleição dos porta-vozes, que devem carregar consigo os principais ônus do movimento.