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Trabalho remoto foi mais recorrente para quem tinha curso superior

Pesquisa do Ipea foi elaborada com dados da Pnad Covid-19

24 OUT 2021 • POR Da redação, com Agência Brasil • 17h22
No ranking do teletrabalho, o Brasil está na 45ª posição entre 87 países - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O estudo Um Panorama do Trabalho Remoto no Brasil e nos Estados Brasileiros durante a Pandemia da Covid-10, elaborado pelos pesquisadores do  Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Geraldo Góes, Felipe Martins e José Antônio Nascimento, concluiu que profissionais com nível superior completo têm 23% mais chances de estarem em trabalho remoto do que trabalhadores com nível fundamental incompleto.

O estudo analisa dados mensais sobre gênero, raça/cor, escolaridade, idade, setor de atividade, percentual da massa de rendimentos por atividade econômica para o Brasil e em cada um dos estados brasileiros, que foram registrados de maio a novembro de 2020, no período em que Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Covid-19.

“Poucos países no mundo, que a gente tem notícia, como Inglaterra e Índia, fizeram esta pesquisa durante a pandemia. Então, podemos calcular aquelas pessoas que efetivamente estavam exercendo trabalho remoto e não apenas do ponto de vista potencial”, disse o pesquisador Geraldo Góes, em entrevista à Agência Brasil.

A análise do Ipea apontou que 7,3 milhões de pessoas trabalharam de forma remota no Brasil, de maio a novembro de 2020. O número representa 9,2% da população ocupada e não afastada, sendo responsável por 17,4% da massa de rendimentos gerada via trabalho.

O perfil médio dos trabalhadores em home office em novembro de 2020 é, na maioria, formada por mulheres (57,8%), pessoas que se declaram brancas (65,3%), com escolaridade de nível superior completo (76%), na faixa de 30 a 39 anos (31,9%) e, por fim, empregados no setor privado (61,1%).

Na avaliação dos pesquisadores, ser mulher aumenta as chances de trabalhar de forma remota em 1,5% na comparação com os homens. Na análise por raça/cor, ser branco eleva as chances de homeoffice em 2,3% em relação a negros. Se a pessoa trabalhar no serviço público, as chances de estar em remoto aumentam em 14% na comparação com as pessoas empregadas na atividade agrícola. Os trabalhadores com vínculo informal têm 0,8% menos chances de fazer teletrabalho do que os que exercem o ofício formalmente.

Para os pesquisadores, vale observar que trabalhadores em atividades de menor qualificação, como os agrícolas, artesãos, operadores de máquinas, vendedores e do comércio, praticamente não exerceram trabalho de forma remota. O mesmo ocorre com membros das Forças Armadas, policiais militares e bombeiros militares. “Esses não têm como. É muito pouca a possibilidade de realizar trabalho remoto. O setor que menos pode ter é a agricultura. Tem que estar lá lidando com a terra”, contou.

Regiões

Em um recorte regional, a pesquisa revelou que quem reside no Sudeste possui 5,6% mais chance de estar trabalhando de casa do que os moradores do Norte do país. Os pesquisadores notaram ainda que, nos fatores individuais, laborais e regionais, as mulheres, brancas, com escolaridade de nível superior completo, trabalhando no setor público, com vínculo formal e na região Sudeste chegam a ter 47,2% a mais chance de trabalharem à distância do que homens, negros, com escolaridade de nível fundamental incompleto, trabalhando na agricultura, com vínculo informal e residentes no Norte do país.

“Nós percebemos que para os estados brasileiros, aqueles com maior renda per capita eram os que tinham o maior percentual de possibilidade de trabalho remoto”, disse o pesquisador.

O estudo apresentou um dado inédito referente à massa de rendimentos por atividade econômica em cada estado brasileiro. No Distrito Federal (DF), o maior percentual de pessoas ocupadas em home office (20%), foram responsáveis por 32,7% da massa de rendimentos total efetivamente recebida pelas pessoas ocupadas no DF.

Na outra ponta, no Pará, que teve o menor percentual de população ocupada trabalhando remotamente (3,1%), essas pessoas foram responsáveis por 6,9% da massa de rendimentos total efetivamente recebida por quem estava com ocupação no estado. “Basicamente a economia do estado do Pará é minério de ferro, que é uma atividade com pouca possibilidade de exercer trabalho remoto”, disse Góes.

Os pesquisadores entendem que esses resultados deixam evidente a disparidade no trabalho remoto entre os estados brasileiros. “O tipo de emprego formal é o que tem mais capacidade de fornecer ao trabalhador um computador, uma máquina, serviços de informática, o que permite o trabalho remoto”, informou.

Na visão de Geraldo Góes, apesar de cerca de um quinto dos trabalhadores estarem em ocupações passíveis de serem realizadas à distância, apenas pouco menos de 10% efetivamente trabalharam de forma remota em novembro de 2020, conforme o último dado disponível pela Pnad Covid-19.

Ainda assim, de acordo com ele, o Brasil não está mal no ranking dos 87 países que têm potencial para realizar teletrabalho. “Comparado a outros países, a posição do Brasil não é muito ruim, não. São características do teletrabalho. No ranking o Brasil está na 45ª posição entre 87 países”, completou.

Permanência

O pesquisador acrescentou que o número de pessoas em trabalho remoto deve diminuir com o avanço da flexibilização e da vacinação e a diminuição do distanciamento social, mas ele não acredita que voltará a níveis como ocorria antes da pandemia.

“Estudos mostram claramente que vão diminuindo, mas a gente acredita que não vai cair para o nível pré-pandemia. A experiência mostrou que há uma série de fatores que podem influenciar as empresas a continuar com o teletrabalho, por exemplo, a redução de custos com aluguel de máquinas e do espaço físico, do transporte do trabalhadores, em alguns casos aumenta a produtividade, então, por isso a gente acredita que o número vai diminuir mas não chegar ao nível pré-pandemia”, observou.

Pesquisa

Góes defendeu que Pnad Contínua possa incorporar em seu questionário perguntas que possam avaliar, de alguma forma, esta nova modalidade de trabalho: “seria relevante que a Pnad Contínua tivesse esse tipo de pesquisa”, disse ao lembrar que a Pnad Covid-19 também foi executada de maneira distinta, coletando os dados de forma remota.