Opinião

O "mistério" dos ônibus de Campo Grande

A opinião de um especialista sobre o nó do transporte público na Capital

29 NOV 2021 • POR Fayez Feiz José Rizk • 13h17
Fayez Risk - Reprodução

Volta e meia leio por aí, as discussões, audiências públicas, pesquisas e que tais sobre os ônibus de Campo Grande.

Minha experiência profissional na área está completando 45 anos, acompanho essa questão (aqui) desde 1.978, quando participei de uma reunião com Jaime Lerner, explanando seu (ótimo) plano urbanístico e de mobilidade urbana.

Ajudei o prefeito Juvêncio César da Fonseca a transformar o antigo DSV em Departamento de Transporte e Trânsito, atual AGETRAN.

Nesse período, ótimos profissionais passaram ou ainda estão na Prefeitura, como secretários ou técnicos, e cito, sem demérito dos demais, Jurandir Nogueira, Rudel Trindade, Aroldo Figueiró, Elidio Pinheiro, Paulo Kinoshita, Janine Bruno, Luiz Carlos Alencar, Sidinei Oshiro, Mauro Alves Chaves, e tantos outros e, no entanto, o sistema continua ruim, em ritmo acelerado para a sua inviabilidade, para prejuízo de todos, inclusive do consórcio que opera o sistema.

Na minha opinião o cerne do problema é um só: o sistema foi concebido pelo Lerner – e implantado pelo Jurandir Nogueira e equipe - quando a estrutura urbana da cidade era outra e a população muito menor!

Nesse período, várias avenidas surgiram e que podem servir perfeitamente como eixos de transporte, como por exemplo, a avenida Ernesto Geisel ( Norte- Sul), a do Sóter, a Ludio Coelho, apenas para citar estas, e não são utilizadas para esse fim!

O sistema continua “amarrado” aos terminais projetados em 1.978, mas nem por isso inúteis, o terminal central foi desativado e com isso, desorganizando o sistema.

Cito como exemplo, a Rui Barbosa, que no Sistema Integrado de Transportes (SIT)  funcionaria para quatro ou cinco linhas troncais, de alta capacidade  e hoje dá passagem a um ônibus a cada trinta segundos, alguns lotados e outros com baixa ocupação.

Essa desorganização, levou ao surgimento de vários sub centros em bairros, levando a uma queda de passageiros, aumentando o custo das passagens, criando um círculo vicioso: menos passageiros, mais caras as passagens, mais motocicletas (e acidentes!), mais carros, mais poluição...

Nesse período outros projetos viáveis, como o do VLT -do qual participei da elaboração - foram abandonados.

Mesmo o sistema de ciclovias, previstas pelo Lerner, essencialmente nos bairros, servindo como alimentadoras dos terminais foi completamente abandonado e hoje temos ciclovias que tem função “paralela” (e inadequada!) ao sistema de transporte de massa, e que elas não poderão nunca substituírem.

Tem solução? Sim, não se trata de achar “culpados”, mas é necessário uma visão mais avançada, moderna, sem amarras, como a implantação de um novo sistema integrado, com novos modais de transporte, modernos sistemas de controle, utilizando toda a malha viária disponível, principalmente as avenidas como grandes eixos de capacidade, com novos terminais e estações de transbordo para integração de linhas e outras providências. 

Senão, até quando ficaremos discutindo o arcaico sistema de ônibus, caros e ineficientes?