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Opinião

A perigosa Democracia que proíbe sua comunicação

09 maio 2016 - 10h46Fábio Marchi

Se existe algo tão valioso quanto a vida, é a liberdade - afinal de contas para que viver, senão livre? E a Democracia é o sistema que possibilita que a liberdade seja algo muito mais do que uma palavra de nove letras e assuma “de facto” o seu real significado.

Me sinto um privilegiado por viver em um país cujo regime político é democrático. Países como Cuba, Venezuela, Coréia do Norte ou China não possuem a mesma sorte que o nosso - pois não há nem como comparar a liberdade de escolhas e de expressão que temos, com estes países.

Em Cuba, até os anos 80 as pessoas que questionavam ou eram contra o regime comunista implantado na ilha pelos irmãos Castro eram fuzilados en el paredón. Hoje isso mudou: por este delito, as pessoas são presas e obrigadas a realizar trabalhos forçados, nos campos estatais de tabaco - para produzir os famosos charutos cubanos, tão apreciados no mercado internacional de tabacaria.

Na Venezuela, jornais, rádios e emissoras de TV perderam suas licenças e alvarás de funcionamento apenas porque questionavam os desmandos de Hugo Chávez - papel que hoje é feito pelo fantoche Maduro. O povo venezuelano só pode ler coisas bacanas e legais do governo, ainda que tudo seja uma grande mentira. 

Na China não se pode usar WhatsApp. Isso porque o Governo não possui controle sobre as mensagens que são trocadas dentro do aplicativo. Os cidadãos chineses só podem acessar aplicativos de trocas de mensagens que o Partido Comunista Chinês aprovou: ou seja, programas que eles podem ter acesso à sua privacidade. Acessar o Facebook? Tente burlar o filtro que o Governo Chinês colocou em toda a sua rede e arrisque a passar até 3 anos de prisão com trabalhos forçados, apenas por acessar o site de Mr. Zuckerberg.

E na Coréia do Norte, nem acessar a internet os cidadãos podem (se bem que eu acho que 99% dos norte-coreanos nunca viram um computador na vida).

Olhando por esse lado nossa Democracia é maravilhosa, não é mesmo? Mas essa nossa liberdade de livre comunicação e de expressão incomoda muito, principalmente quem tem o poder.

Vejam bem: uma das grandes premissas de quem tem o poder é controlar o acesso à informação, filtrando e mostrando apenas aquilo que é de interesse para quem está no controle. E nunca esse acesso foi tão anárquico, descontrolado e eficiente - sim, eficiente, porque atinge seus objetivos: mostrar o que está acontecendo, de verdade.

Hoje qualquer pessoa de posse de um celular filma, fotografa, escreve e posta - seja em redes sociais ou em blogs - e todo o resto do mundo fica sabendo, muitas vezes antes mesmo dos veículos de comunicação especializados em produzir conteúdo jornalístico. Pessoas comuns estão “pautando” grandes emissoras e jornais.

Para quem está no poder, isso é perigosíssimo - pois é o descontrole total da informação, é o caos absoluto. Para o povo, isso é ótimo, porque ele passa a ter um poder de controle maior sobre seus governantes. Qual é a figura pública ou política que gostaria de ser ridicularizado ou achincalhado nas redes sociais hoje em dia?

É por isso que eu me arrepio, quando vejo uma decisão absurda como a do juiz sergipano que bloqueou o WhatsApp em todo país, apenas porque “descumpriu” uma ordem judicial que a empresa não tinha condições de realizar. Para que vocês tenham noção do quão imbecil foi essa decisão, seria como se um juiz paralisasse todo o serviço de entrega de SEDEX e correspondências do Correios em todo o país, apenas porque eles se recusaram a mostrar o que tinha dentro de um determinado pacote que um bandido mandou para outro bandido. Existem muitas formas de se obrigar uma empresa a cumprir uma decisão judicial: multas diárias, por exemplo - são as mais comuns. Colocar bloqueadores de comunicação que funcionam, dentro dos presídios seria muito mais eficiente para combater o crime organizado do que minar a comunicação do país todo por 72 horas.

Mas eventos como esse mostram o quanto nosso sistema político-jurídico pode atentar facilmente a nossa frágil, delicada e jovem democracia. E pior, “dão idéias” para malucos ditadores travestidos de políticos para controlarem a nossa privacidade e liberdade de expressão. Já existem projetos de lei nesse sentido e temos que ficar sempre atentos para que não avancem, jamais. Como diria Thomas Jefferson, célebre presidente estadunidense: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”.

Para nossa sorte, o brasileiro sabe mobilizar-se rapidamente para continuar comunicando-se. Em poucas horas, praticamente todos os usuários do WhatsApp já estavam usando comunicadores instantâneos alternativos.

Mas que o episódio sirva de lição, para nos deixar mais atentos sobre o perigo que ronda sobre a nossa liberdade de comunicação e de expressão - de longe, o legado mais valioso da Democracia.

Agora vou indo, porque eu tenho um monte de mensagens aqui para responder! Até a próxima! 

 

(*) Fábio Marchi é jornalista

Estação Criança

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