Na década de 80, na elaboração do Plano Diretor de Campo Grande, foi cunhado um lema muito apropriado e ainda muito atual: “Que cidade queremos?”
Essa pergunta deveria ecoar incessantemente na mente de todos os cidadãos, sejam governantes ou governados.
Depois de mais de 45 anos de experiência no serviço público posso afirmar: não temos planejamento estratégico em nenhum nível de governo, não sabemos que Nação, que Estado ou que cidade queremos ser.
Faltam Planos estratégicos, que apontem rumos, metas e desafios, e planos que sejam legitimamente conhecidos e apropriados pela população.
Infelizmente alguns bons instrumentos de planejamento, elaborados tecnicamente, são ignorados pela população e muitas vezes abandonados pelos dirigentes por picuinhas políticas ou mesmo por total desconhecimento.
Aponto três exemplos: o Estatuto da Cidades (Lei 10.257/2001), que é um conjunto de regras notáveis para o desenvolvimento das cidades, ignorada por Prefeitos e Vereadores, o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE), Lei Nº 3.839/2009 que instituiu o Programa de Gestão Territorial do Estado de Mato Grosso do Sul e a Lei Municipal 6.407 / 20 que instituiu o ZEE de Campo Grande.
Esses instrumentos deveriam ser parte de um Plano Estratégico que não só faz falta a nosso Estado, mas também para o Brasil!
Vejamos aqui: estamos implantando a rota Bioceânica, ação louvável e importante.
Mas nos falta exatamente uma visão estratégica de nosso Estado – e cidades – dentro do cenário mundial, de uma disputa que está à vista de todos, principalmente entre a China e os Estados Unidos.
Praticamente abandonamos a opção de uma rota Bioceânica pelo modal misto de ferrovia/fluvial, que durante alguns anos foi estudado pelo Estado, através da integração da ferrovia Noroeste do Brasil, devidamente modernizada e das ferrovias bolivianas e argentinas, fazendo o trajeto Corumbá – Santa Cruz de La Sierra – Salta, na Argentina, e de lá até o porto de Antofagasta (Tren a las Nubes) no Chile. Ressalte-se: todas essas ferrovias foram “misteriosamente” desativadas ou ficaram em condições precárias.
A outra rota possível é a fluvial, com o Porto de Morrinhos e, via Paraguai- Paraná até Rosário, na Argentina, que se liga por ferrovia a Salta e Antofagasta.
Ora, é indiscutível que a solução ferroviária ou a fluvial/ferroviária tem vantagens econômicas sobre a solução rodoviária, maior capacidade de carga e custo menor sem, no entanto, prescindir do transporte rodoviário, este de caráter alimentador, com percursos menores e mais frequentes.
Essas soluções deveriam ser abrangidas no planejamento estratégico do país, e ainda mais, do Estado de Mato Grosso do Sul.
Deveríamos estar em estado de alerta com a construção da ferrovia – financiada pela China – entre Cuiabá e o Peru, muito mais longa e com impactos ambientais. Evidentemente, se não for feita a ligação ferroviária entre Campo Grande e Cuiabá, ligando toda a “costa” leste do Pantanal ou a anunciada ligação ferroviária entre Ribas do Rio Pardo e Cassilândia, também por ferrovia, corremos o risco de Mato Grosso do Sul ficar escanteado no desenvolvimento regional.
Nunca é tarde para lembrar que já perdemos a importância do Aeroporto Internacional de Campo Grande, outrora “hub” de ligação com toda a região Norte do país, embora seja o melhor aeroporto do país, levando em conta a sua localização e estrutura de pistas. Infelizmente, não foi dada a atenção devida, e a ocupação urbana em seu entorno pode inviabilizar – se já não aconteceu – a expansão e modernização desse inigualável – no Brasil – equipamento de logística.
Precisamos pensar Mato Grosso do Sul e suas cidades com visão contemporânea e inseridos no cenário geopolítico mundial.
Antes que seja tarde.
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