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OPINIÃO: Um Gigante da Cultura acordou - impressões da 1ª Bienal do Pantanal

06 outubro 2025 - 08h29Sérgio Carvalho    atualizado em 06/10/2025 às 08h37

Eu estive lá na abertura, no dia 4 de outubro de 2025.

Logo na entrada do Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, no Parque do Prosa, livros gigantes davam as boas-vindas e anunciavam: sim, um gigante da cultura acordou. O cheiro de livro novo se misturava ao burburinho de crianças, professores, escritores, leitores e visitantes de todas as idades. A sensação foi imediata: um gigante da cultura acordou de verdade.

E não é exagero — Mato Grosso do Sul acaba de realizar algo histórico. A Bienal do Pantanal nasceu grande, viva, aberta, múltipla.

São 200 editoras, 24 estandes, 20 mil títulos e uma programação que ultrapassa cento e vinte atividades em nove dias de evento.

Mas mais do que os números — que impressionam — há algo de simbólico no ar. É como se o músico Pedro Ortale, coordenador-geral e idealizador da Bienal, tivesse transformado sua sensibilidade artística em uma imensa partitura coletiva.

Ele, que há anos domina a arte de organizar grandes espetáculos, parece ter convocado a cidade inteira para um novo despertar cultural.

“A Bienal é o encontro de todos os sons e vozes que formam Mato Grosso do Sul.
A música, a literatura, o pensamento — tudo se mistura aqui, porque cultura é convivência”,
disse Pedro Ortale na abertura, visivelmente emocionado.
E ele tem razão.

A Bienal soa como uma sinfonia: cada estande é um instrumento, cada leitor uma nota, cada autor uma melodia que compõe a harmonia de um Estado que se redescobre criativo.
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Literatura e meio ambiente: o livro como território
Caminhei por cada estande ao lado do professor doutor Wagner Abdu Assen, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

Professor, obrigado pela companhia — que privilégio receber orientação direta de um especialista tão sensível.

Entre outros títulos, Abdu Assen me indicou um autor que eu nunca havia lido: Mario Sérgio Cortella.
Comprei Não Espere pelo Epitáfio e li à noite, quando cheguei em casa — leitura rápida, dinâmica e reflexiva.
Mas buscávamos um eixo: o livro ambiental, aquele que pensa o Pantanal, o Cerrado, o clima, a terra.
E sim, eles estavam lá — discretos, mas firmes como raízes.
No Espaço Documental Pantanal, nos agarramos quase ao mesmo tempo ao mesmo título: Memórias de um Pantanal – Histórias de Homens e Mulheres que Desvendaram a Região de Rio Negro (pesquisa e texto de Teté Martinho).

Outro espaço que é um sonho é o da Editora Taschen, referência mundial em edições de arte e natureza.
No meio do mar de letras, essas duas ilhas editoriais lembravam que falar de cultura em Mato Grosso do Sul é também falar de ambiente, de biomas e de resistência natural.
E talvez esteja aí uma das vocações da Bienal: unir literatura e ecologia, palavra e paisagem, arte e ciência.
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Os nomes que nos visitam — e um diálogo com Itamar Vieira Jr.
E se a Bienal é um lugar de descoberta, é também um palco de encontros.
A programação de autores impressiona: Itamar Vieira Jr., Ana Maria Gonçalves, Vera Iaconelli, Ana Suy, Caio Zero e Mily Jacombe, Leandro Karnal, entre outros nomes que cruzam fronteiras literárias e temáticas.

No caso de Itamar, autor de Torto Arado, pretendo fazer uma pergunta que carrego desde a última página do livro: “Itamar, por que você “matou” o Severo?” É uma brincadeira — claro —, mas também uma forma de confessar o envolvimento com a narrativa, o amor por aquele sertão baiano que parece falar direto com o nosso Pantanal. Ler Torto Arado foi como ouvir a terra respirar.
Estar na Bienal do Pantanal e poder encontrar seu autor é fechar um ciclo simbólico: a literatura voltando ao chão. Agora saio da Bienal com Salvar o Fogo, também do Itamar. Ansioso para mergulhar neste fogo ardente da literatura.
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Palco Manoel de Barros — onde a palavra ganha som
Ao cair da tarde, a Bienal muda de ritmo.
No Palco Manoel de Barros, a literatura se transforma em música, poesia e encontro.
Entre os destaques da programação, shows de Marcelo Loureiro, Jerry Espíndola, Marlui Miranda, Carlos Colman, Izabella Fogaça e grupos regionais que fazem do palco um espaço de travessia entre a canção e o texto literário.

A abertura das estrelas da música sul-mato-grossense ficou por conta de dois deuses da terra: Paulo Simões e Almir Sater. E para completar essa mágica noite, a performance refinada da intérprete Maria Alice — cantora pesquisadora de altíssimo padrão técnico e estético.
A curadoria é do próprio Pedro Ortale — o que explica a harmonia entre repertório e conceito.
A música funciona como respiro e continuidade: depois das mesas de debate, o público se reúne para cantar, pensar e sentir. É uma Bienal que entende o livro como parte de uma cultura viva — que pulsa, dança e ecoa.
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A Bienal como renascimento
O que vi nesses corredores foi um despertar.
Pelos olhos dos estudantes, pelas vozes dos autores, pelas mesas cheias de ideias — o livro voltou a ser assunto central.

A Bienal do Pantanal é, sem dúvida, o evento cultural nesta expressão artística mais importante realizado em Mato Grosso do Sul, até agora. E é apenas o começo.
Saio de lá com novas leituras nas mãos: Culturas Indígenas no Brasil, a Coleção Harald Schultz e, finalmente, uma dívida que tinha comigo mesmo — O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde.
Que esse gigante recém-desperto não volte a dormir.
Que as próximas edições aprofundem o diálogo entre literatura, meio ambiente e educação.
E que Campo Grande — com toda a sua diversidade — se reconheça também como cidade leitora.

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Serviço — 1ª Bienal do Pantanal 2025
Local: Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo – Parque dos Poderes, Campo Grande (MS)
Período: 4 a 12 de outubro de 2025
Horário: das 9h às 21h – entrada gratuita
Programação: mais de 120 atividades, incluindo debates, palestras, lançamentos, sessões de autógrafos e oficinas literárias.
Palco Manoel de Barros: shows de Almir Sater, Paulo Simões, Marcelo Loureiro, Jerry Espíndola, Marlui Miranda, Maria Alice, Carlos Colman, Izabella Fogaça e artistas regionais.
Convidados literários: Itamar Vieira Jr., Ana Maria Gonçalves, Leandro Karnal, Vera Iaconelli, Ana Suy, entre outros.
Curadoria geral: Pedro Ortale
 

Sérgio Carvalho - Jornalista, roteirista e diretor de documentário

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