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Entrevista A

Mário Rosa, o Wolverine: “Eu saí da UTI”

“Senti a dor daqueles que eu atendia”

25 março 2018 - 10h14Da redação com Leandro Mazzini, com Walmor Parente e Maciel Neves

Mário Rosa virou personagem na Operação Acrônimo, da Polícia Federal, por suspeitas de recebimentos irregulares em contratos. Sua vida de aventuras virou um filme de terror.   Sofreu busca e apreensão em casa, e a PF apareceu na casa de mais 20 dos principais (e grandes) clientes. Seu casamento acabou, passou aperto nas contas, perdeu contratos, virou um leproso – refugiou-se 16 meses num quarto de hotel. Mas voltou a circular.

Você que lida com o bastidor do Poder – de dentro – o que há de mais instigante? Você acabou virando personagem. O que ficou de tudo desse momento?

Acho que eu tive um privilégio. Existe uma figura, uma velha lenda que é o Triângulo das Bermudas. É um lugar no Caribe onde somem homens, somem navios. Eu acho que eu vi o Triângulo das Bermudas dos escândalos. Primeiro, como jornalista, eu era produtor de escândalos, produzia escândalos para os outros. Depois eu tive uma encarnação, segundo vértice desse escândalo onde eu era cuidador de escândalo; fui enfermeiro do escândalo dos outros. Me faltava a terceira página desse escândalo que era ser alvo de um escândalo e nesse Triângulo do escândalo, onde somem as reputações, as glórias, somem as carreiras. Eu vivenciei esses três lados. Me faltava isso, eu sentir e não apenas eu lidar sobre a dor, eu fui alvo de uma operação da PF (Acrônimo) em junho de 2015, fui acusado de receber propinas.

Fui acusado de tanta coisa durante o processo junto ao BNDES porque eu contratei a futura esposa do governador de Minas Gerais Fernando Pimentel, na época uma jornalista. Eu a contratei (Carolina Pimentel) para que ela fosse minha assistente no caso da briga entre o Casino (grupo francês) versus Abílio Diniz. Ela estava fora do Governo, namorada do então ministro Fernando Pimentel. Nós precisávamos de uma pessoa que tivesse muito acesso com a imprensa e ela estava fora da imprensa, ela era jornalista. Eu sugeri o nome dela um ano depois de já ter sido contratado, ela foi avaliada pelos meus clientes e eles falaram “tudo bem, beleza, coloca ela no seu contrato”. Trabalhou 30 meses comigo, em outubro de 2014 terminou o contrato, ela estava fora do governo. Ela foi um dos 30 contratos que eu tive no período de 5 anos. Nesse período eu trabalhei para OAS, para a CBF, para a FIFA, para gente muito mais polêmica. Nunca imaginei que eu ia ter um problema.

E no que deu?

A coisa foi evoluindo, houve as delações. Meu casamento acabou terminando por causa disso, acabei sofrendo a vergonha da exposição pública, 20 clientes meus sofreram buscas e apreensões, tive minha vida devastada no ponto de vista tributário. Não sofri nenhuma multa da Receita, tive a sorte, não foi uma escolha minha não. E aí quando isso aconteceu, o que sobrou o que para me acusar? Sobrou que eu tinha contratado legalmente uma jornalista e depois Fernando Pimentel (seu marido) foi escolhido pelo PT para ser candidato (e eleito). Essa moça vira sucessora da Sarah Kubitschek e da Risoleta Neves, e eu vivo uma experiência maravilhosa de viver a vergonha de ver a suspeição, de ter contratos suspensos, de ter a minha vida toda transformada de uma hora para outra. Ficar 16 meses em um quarto de hotel, sair de casa, ter um litígio conjugal, ter tido problemas de todas as formas inclusive econômicos e tal.

Teve problemas de saúde?

Não, graças a Deus. Da mesma maneira que as pessoas vão percorrer lá o caminho de Santiago e elas pegam tudo que precisam na vida e reduzem a uma mochila,  você vê o que realmente é essencial na sua vida. Tem excessos que realmente você diminui e vai para o que é essencial. Isso aconteceu comigo e eu não considero nenhuma dessas coisas que eu tive uma perda, eu considero um aumento da minha eficiência.

No livro “Entre a Glória e a Vergonha”, você diz que todos somos públicos, a pessoa comum acabou. Cita que ‘nunca nossos erros tiveram tão perto do rosto por causa dessa conexão digital’. Se essa sua crise se passasse anos atrás, sem esse poder de mídia online e redes sociais, você escreveria esse livro?

Não. Eu me senti forçado a escrever justamente por isso. Eu vejo o mundo no celular, eu vejo o mundo na televisão e tem a contramão da interatividade que é aquela coisa bacana, eu estou mais próximo do mundo, o mundo todo está mais próximo de mim. Então, tudo que está mais próximo fica maior, então a escala do erro mudou porque tá tudo mais próximo do outro e tudo que ta mais próximo, e fica necessariamente maior. A pequena falha virou a enorme contradição dentro desta proximidade.

Diz que o Renan Calheiros, que é um amigo seu, foi o seu maior aprendizado, pelos altos e baixos que ele passou e você conferiu de perto. Os seus clientes políticos também amadureceram?

Durante muitos anos houve um ‘fora Sarney’, como se você falasse assim: eu odeio todos os políticos. O Sarney era a cara da política tradicional. Durante algum tempo o Renan virou ‘fora Renan’, você podia pichar de Manaus até Porto Alegre que todo mundo ia entender isso como um desagravo da política. Você veja o que aconteceu com ele depois da queda da presidenta Dilma Rousseff: ele foi se tornando um crítico. Saiu (do Governo Temer). Não tem nenhum cargo no Governo, virou um cidadão de baixo clero, crítico do partido mais contestado (seu próprio partido, o MDB). Então este é uma metamorfose ambulante, então isso aí é uma beleza de aula como política.

Tem dedo do Mário Rosa nessa guinada do Renan?

 Não, acho que tem dedo do desespero da destituição política dele, de sobreviver. Assim como nós vamos lutar até o último segundo se tivermos dentro de um naufrágio para buscar a vida, o político tenta de tudo para não morrer. Ele é guiado pela intuição.

Já ventilou-se na praça que o consultor seria um amigo para um cliente político, quando este não tem apoio de ninguém.

O consultor assim... São 50 tons de consultor, não existe O Consultor. Para cada cliente você exerce um papel. Por exemplo, eu trabalho agora para o grupo JBS no caso dos irmãos Batista (Joesley e Wesley) da JBS, algo que muito honra. O que eu devo fazer? O que nós devemos fazer no ponto de vista de comunicação? Nada, absolutamente nada. Se fizermos qualquer coisa na área de comunicação nós estaremos prejudicando a área jurídica. Então devemos aguardar o encaminhamento jurídico e fazer absolutamente nenhuma marola. A empresa está funcionando muito bem, a defesa técnica jurídica tem que fluir. Qualquer coisa que nós fizermos na comunicação será algo que poderá causar prejuízo para a condução do processo. Então você veja que coisa difícil.

Evidentemente há angustia do cliente, às vezes: ‘puxa, será que nós podíamos fazer alguma coisa’; e eu quando sou consultado: ‘olha eu acho que devemos ficar quietos porque qualquer ruído que façamos pode ser prejudicial’. Então eu sou pago para dizer para o meu cliente que nós não devemos fazer nada. Se um dia eu for procurado pelo Ministério Público para comprovação do meu serviço, a comprovação do meu serviço vai ser um nada. Você ta entendendo, neste caso... o que você fez lá? Eu fiz nada. Em outros casos você tem uma produção muito ativa, uma produção muito grande de documentos, uma produção muito grande de textos e de teorias e de discursos e de notas e de e de respostas e tudo mais. Muitas vezes você é um trio elétrico na produção de conteúdo e muitas vezes você é um Bossa Nova, uma nota só, um banquinho, um violão, uma coisinha muito discreta. Depende de cada caso

E os clientes políticos?

Nunca atendi políticos profissionalmente, mas o político muitas das vezes está em uma situação... Por exemplo, a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), que é minha amiga. Estava lá naquele enrosco com o Ministério (do Trabalho, para o qual foi indicada, mas não tomou posse) e tivemos uma conversa sobre o caso. A minha preocupação com ela era o seguinte: se a senhora virar ministra? Ajudei ela a elaborar uma série de linhas de discurso e tudo mais e coisas que ele ia fazer. Mas evidente que tinham dois traços ali que eram claros, que estavam claros que estavam impedindo ela que não era ela. Primeiro uma vingança contra o pai dela, uma vingança ideológica contra o pai dela pelo fato dele ter denunciado o PT. Havia um ranço e isso é algo que ela devia de alguma maneira, em algum momento expressar. Em segundo lugar, o episodio da lancha, onde apareciam aqueles homens. Aqueles eram amigos de infância. Mulher não pode ter uma lancha? Quer dizer que se ela estivesse dentro da cozinha ou lavando roupa e falasse aquela mesma coisa, homens com bata, batina aí não tinha problema nenhum...

Você falou sobre a importância do Jurídico, que deve ser ouvido antes de decisões de comunicação. Como vivemos uma judicialização da política, isso mexeu com a relação do consultor de imagem com as empresas?

Tudo é a Justiça, então a gente tem que respeitar a questão jurídica. Na batalha de opinião pública, a gente tem que ficar vendo onde isso vai terminar e o alinhamento com o final é o jurídico que decide o que pode ser feito, mas você pode fazer o melhor alinhamento de relações públicas no dia seguinte sem que isso tenha divergência com a melhor estratégia do jurídico daqui a 10 anos. Como há muitos anos eu trabalho com criminalistas, eu tenho uma intuição jurídica. É mais uma questão de empacotar bem uma resposta, de produzir uma evasiva eloqüente, que é uma das funções de um consultor de crise, de maneira que pareça uma responda esclarecedora, mas que não seja uma resposta comprometedora.

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