Marcelo Turine é o novo reitor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Ele é professor e pesquisador da Faculdade de Computação da UFMS, com mestrado e doutorado em ciência da computação pela USP e pós-doutorado em políticas públicas pela PUC-SP. Em entrevista ao JD, reforça que sua gestão será inovadora, pautada em muita cooperação e parceria. Turine também destaca que vai trabalhar para melhorar os cursos da UFMS e que quer que a universidade tenha a longo prazo um padrão de Harvard. Confira:
Jornal de Domingo - Quais motivações o levaram a concorrer a reitor da UFMS?
Marcelo Turine - A principal motivação é ser apaixonado por educação, pela política de educação no Brasil, pela ciência, tecnologia e inovação. E a UFMS tem um potencial imenso para se destacar no cenário nacional e internacional. Nisso, vamos trabalhar com nossos jovens. Hoje, o mundo precisa de grandes talentos, grandes profissionais e essa é a oportunidade de estar junto com a educação, com a UFMS e com os jovens para que isso aconteça em Mato Grosso do Sul. Queremos formar profissionais de qualidade, construir parcerias institucionais. A UFMS tem uma riqueza imensa de conhecimento, de quadro de professores. Temos 1.500 professores, 2 mil técnicos, 20 mil alunos em 2016 e o que queremos é colocar todo esse time em prol do desenvolvimento de Mato Grosso do Sul, trabalhando junto com as federações, com os governos municipais, governo estadual.
Jornal de Domingo - Qual sua primeira providência como reitor da UFMS?
Marcelo Turine - A nossa gestão começou dia 8 de novembro. São vários encaminhamentos, várias providências. Todos os pró-reitores já foram nomeados, então o time do primeiro escalão já estava definido, então não perdemos tempo para definir a equipe. Demos prioridade para os nossos jovens, atenção para ouvir os estudantes e para isso criamos uma Assessoria Especial de Assuntos Estudantis, que vai lidar com todos os acadêmicos, CAs (Centros Acadêmicos), DCE (Diretório Central dos Estudantes) tanto aqui no campus de Campo Grande como no interior. Essa assessoria já foi criada e publicada no Diário Oficial. Como não podemos mexer na estrutura da universidade ainda, essa assessoria ficou vinculada diretamente à reitoria. Outro encaminhamento que é prioridade é a questão da Agência de Desenvolvimento e Internacionalização da universidade, que vai fazer as parcerias com as nossas instituições aqui do Estado e do mundo também. Tudo vai passar por essa agência para podermos motivar pautas importantes para a universidade, para a ciência e para a inovação. Outro ponto importante é a comunicação interna e externa, os grandes projetos da universidade devem ser divulgados e essa relação com a imprensa é fundamental para a universidade. A proposta é criar uma secretaria de comunicação, vinculada à reitoria, com todos os meios, estratégias e ferramentas: rádio, TV, redes sociais, jornal impresso, editora. Com isso, vamos empoderar a comunicação da UFMS com relação à imprensa.
Jornal de Domingo - O senhor foi apoiado pela gestão anterior, da professora Célia. Consegue identificar pontos que ficaram em aberto e serão prioridade na sua agenda?
Marcelo Turine - Houve um apoio pela gestão que findou o mandato na universidade. O que estou colocando muito é que vamos olhar para frente, respeitando o passado. Esse é o papel da gestão pública no Brasil e a grande diferença entre as gestões são o estilo do gestor. O meu estilo é um estilo de gestão inovadora, pautada em muita cooperação e parceria. Não podemos brincar de fazer gestão. Gestão pública precisa ser eficiente, temos de olhar a universidade sem a cultura de dar um jeitinho para cada área e cada setor, num grande combate à corrupção. Este é um pouco do nosso patamar. Temos desafios, principalmente a questão do calendário acadêmico, que a gestão anterior não teve como solucionar por conta do movimento de greves e nós vamos tentar corrigir isso, para que consigamos começar o ano letivo em fevereiro. Claro que não vamos conseguir já o ano que vem, mas que consigamos terminar tudo no ano que vem para não prejudicarmos nossos alunos. Temos de melhorar muito a qualidade dos nossos cursos de graduação e pós-graduação.
Jornal de Domingo - Como melhorar os cursos?
Marcelo Turine - Vamos fazer um grande diagnóstico de cada curso de graduação, mestrado e doutorado. Já estamos iniciando parcerias para ter avaliação externa do curso, que analisa os indicadores, taxa de evasão, qualidade. Além disso, teremos uma avaliação interna, com valores dos professores, acadêmicos e técnicos. Essa é uma proposta que estamos estudando para na reitoria consigamos ter uma Secretaria de Avaliação Institucional, que é transversal a toda instituição. Com esse diagnóstico, também vamos ver as demandas e ofertas de cada curso. Hoje nós temos uma evasão de aproximadamente 5 mil alunos no total, juntando todos os cursos. Poderíamos ter 24 mil alunos, temos 20 mil. Então nossa proposta é realmente estudar quais os motivos dessa desvinculação, dessa desmotivação do aluno na universidade para poder atacar com ações.
Jornal de Domingo - Qual o grau de atualização de nossa Universidade Federal?
Marcelo Turine - A universidade é o berço da ciência. Todo o conhecimento que existe no mundo, os nossos professores e pesquisadores têm em mãos. Muitas vezes o que precisamos fazer é capacitar os professores para este novo momento das tecnologias, que é diferente de dez anos atrás. Quando eu me formei na graduação, não tinha internet. Os professores usavam o quadro negro. Depois as tecnologias foram surgindo e às vezes as instituições não empoderam isso para sua equipe técnica. Precisamos dar condições para que nossos professores se atualizem na metodologia de ensino, nas dinâmicas de aula.
Jornal de Domingo - E a estrutura hoje?
Marcelo Turine - A UFMS cresceu muito na última gestão, que teve um grande avanço na questão de espaços físicos. A universidade hoje não tem problema de espaço físico, mas temos de otimizar o uso desses espaços. Uma coisa é ter o espaço, mas às vezes não ter sala de aula naquele horário. Vamos ter de fazer um ajuste na otimização dos espaços físicos para que consigamos ter a sala adequada para cada turma.
Jornal de Domingo - Quais são hoje as referências de modelos de gestão universitária que o senhor tem observado? O senhor pretende adotar algum modelo bem sucedido usado em outra universidade?
Marcelo Turine - Quem trabalha com modelos pedagógicos tem várias referências. Uma coisa é ter o modelo pedagógico e outra é na prática ter as condições de implementar o modelo pedagógico no Brasil. Mas três universidades são referências para nós: UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), que são universidades com bom indicadores no ranking das universidades brasileiras e que têm condições parecidas com as nossas, como ser multicampi. Esse é o modelo nacional. Já as referências internacionais são várias, porque queremos ser uma Harvard da vida, um MIT da vida, com a possibilidade de os alunos fazerem parcerias, com uma universidade aberta às empresas para poder inserir nosso aluno já no último ano no mercado de trabalho, em um doutorado poder criar startups e empresas de inovação... Isso é o que queremos, abrir a universidade para atender os grandes desafios da sociedade.
Jornal de Domingo - Existe hoje uma discussão sobre uma nova greve na UFMS e ainda um movimento “antigreve”. Como lidará com greves na sua gestão?
Marcelo Turine - Com muito diálogo. Já tive uma reunião com a Adufms [(Associação dos Docentes da Universidades Federal de Mato Grosso do Sul], me apresentei ao grupo, me apresentei à diretoria. Basicamente a nossa mensagem é que diálogo, transparência, uma gestão eficiente serão a pauta da nossa administração. O movimento no Brasil inteiro, nas universidades como um todo, está em estado de greve e temos de respeitar isso, porque faz parte da liberdade de expressão e a universidade é um espaço democrático, de discussão. Vamos analisar o contexto nacional e ter muito diálogo tanto com os professores e técnicos, como com os alunos, para conseguirmos que a universidade consiga manter seu calendário acadêmico para que não haja outro prejuízo futuramente.
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