O que em todas as administrações é um mero auxiliar, na capital de MS se transformou no único meio de comunicação com a sociedade, substituindo debates, consultas, reuniões, enfim, os mecanismos que permitem ao administrador municipal interagir, valorizar e ouvir seus munícipes, foram abortados e por consequência o 'diálogo' deixou de existir ou foi reduzido a níveis insignificantes ou estéreis.
Com isso, Campo Grande acostumou-se a receber notícias sobre seu governo não olho no olho, ou pela imprensa que questiona, indaga e disseca seus governantes, mas por meio de uma tela, o que é um monólogo.
Como o uso de cachimbo faz a boca torta, também a equipe do prefeito teve que moldar-se a um estilo único de gestão, na qual nem mesmo seus membros têm acesso fácil ao chefe, o que criou um círculo vicioso, como um gato correndo atrás do próprio rabo, traduzindo, os secretários não tem autonomia para executar nem escutar o prefeito, que evita receber seus assessores e com isso trava seu governo.
As consequências da metodologia de Bernal, que insiste em reinventar o básico, tem resultados que seria redundante citar e perda de tempo enumerar, a cidade já conhece e ela que os julgue.
Na última semana, porém, um episódio talvez tenha sido não o mais sério, mas a maior galhofa a que o prefeito Bernal foi submetido, e foi o mais significativo porque foi uma fratura exposta, impondo ao alcaide o mesmo nível de liturgia com que ele toca seu município, ou seja, quase nenhum.
Seu braço direito, secretário de finanças, companheiro de primeira hora e único membro genuinamente seu no secretariado com envergadura, pediu demissão do cargo. E como o fez? Exatamente como o alcaide faz diariamente, totalmente apartado dos rituais do cargo e utilizando-se do Facebook, que acabou ganhando dimensões de galhofa.
Wanderlei Ben-Hur, fiscal de rendas e ex-presidente do Sindifisco, demitiu-se pelo Facebook, sem direito a reunião, conferência, lavagem de roupa suja, cenários comuns neste tipo de entrevero, provavelmente porque não era sequer recebido por quem deveria fazê-lo.
Bernal teria se irritado, mas coisas tão sérias quanto o desligamento de um secretário influente têm sido tratadas no mesmo ambiente virtual, onde aconteceu o pedido de demissão.
Seria exagero falar que ele provou do mesmo veneno, mas que foi vítima da mesma forma de 'liturgia' com que encara coisas importantes de sua cidade, isso foi.
Ao final de algumas conversas os ânimos se serenaram, e Ben-Hur, que no frigir dos ovos recuou e resolveu permanecer no cargo, talvez tenha feito um grande favor a Campo Grande, que foi mostrar na carne de quem a governa o quanto nos distanciamos dos trilhos, em que as ações podem ser tidas como normais.Reportar Erro
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