Menu
Menu
Busca domingo, 14 de dezembro de 2025
Financial Lançamento
Economia

Crise de 2008 resultou em desindustrialização e crise fiscal no Brasil

15 setembro 2018 - 13h17Agência Brasil

A regulação no sistema financeiro que não existia na maioria dos países desenvolvidos inicialmente salvou o Brasil da pior crise financeira global desde a Segunda Grande Guerra. No entanto, a desvalorização do dólar e medidas equivocadas de gestão da economia resultaram em desindustrialização e em rombo nas contas públicas brasileiras.

Professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV) Istvan Kasznar diz que o Brasil adotou um modelo de reação diferente do resto do mundo, na avaliação de especialistas em economia internacional. “Naquela época, o Brasil não foi afetado à primeira vista porque tinha atrasado a desregulação de aplicações econômico-financeiras”, diz. O principal problema, ressalta, ocorreu na introdução de renúncias fiscais enquanto outros países reduziram gastos e buscaram austeridade.

Para tentar manter a economia aquecida em meio à crise que tomou proporções mundiais, o governo brasileiro adotou uma série de medidas, como redução de impostos para estimular o consumo, congelou preços do petróleo, subsidiou as tarifas de energia elétrica e ampliou as desonerações. “Embora tenha havido uma política monetária austera e correta, a política fiscal é uma das piores heranças que temos hoje, decorrente de uma forma equivocada de se interpretar a evolução cíclica da economia”, afirma Kasznar.

Em meio à crise internacional, o governo anunciou a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis, eletrodomésticos e materiais de construção. Diante da escassez de crédito, houve redução dos depósitos compulsórios (dinheiro que os bancos são obrigados a recolher ao Banco Central) e do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), além de estímulo ao crédito por meio de bancos públicos.

Vulnerabilidades

A crise de 2008 desembocou no fim de uma das principais ajudas externas que alavancou o crescimento do Brasil nos anos 2000: o superciclo das commodities. A queda do preço internacional de produtos agrícolas e minerais expôs o país ao que o economista Reinaldo Gonçalves chama de “vulnerabilidade estrutural”. “Nos últimos 20 anos, o Brasil aprofundou o processo de reprimarização da sua economia, tornando-se um país ainda mais dependente [de produtos primários]”, argumenta.

A queda do dólar decorrente das injeções monetárias nos países desenvolvidos complicou o quadro. Com a moeda norte-americana barata, os brasileiros passaram a viajar mais para o exterior e a importar mais, deixando a indústria nacional sem condições de competir com os produtos estrangeiros. O fechamento de fábricas aprofundou a desindustrialização do país e levou à dependência cada vez maior de commodities.

Segundo Gonçalves, isso explica a dificuldade de retomada da economia brasileira, mesmo com a situação internacional mais favorável que há alguns anos. Ele diz que não há solução de curto prazo e defende um projeto de desenvolvimento de longo prazo. Segundo o professor da UFRJ, se o país apostar numa tentativa de ajuste fiscal muito forte e rápida, com cortes de gastos públicos e privatizações de grandes estatais, o cenário econômico pode agravar-se ainda mais nos próximos dois anos.

“A pretexto de querer resolver uma série de problemas que demandam o longo prazo, como a Previdência e o teto de gastos, o que pode ocorrer é um efeito bumerangue, atingindo os segmentos sociais mais vulneráveis. Os ricos estão se protegendo mandando dinheiro para fora, mas as medidas de austeridade vão atingir o pequeno empresário, o burocrata, o trabalhador, o desempregado. Há um risco de aumentar muito mais a tensão social, que já está elevada”, observa Gonçalves.

Diversificação

Professor de macroeconomia e economia internacional da Universidade Federal Fluminense (UFF) André Nassif diz que os impactos da desindustrialização ainda se manifestam sobre o Brasil. Ele reprova a política de desonerações para determinados setores praticada no primeiro governo da ex-presidente Dilma Rousseff, ainda sob pretexto dos estímulos econômicos iniciados em 2009, que reduziu a arrecadação sem resultar em crescimento.

“Esse tipo de política funciona por algum tempo, mas, no longo prazo, gera inflação e baixo crescimento. Não há garantias de que o empresário pegue o dinheiro das desonerações para gerar empregos. A inflação aumenta porque a demanda sobe, sem que a produção acompanhe o crescimento. A solução para o Brasil seria mudar a estrutura da economia, diversificando a produção e recuperando a indústria nacional”, analisa.

Gonçalves, da UFRJ, concorda e acrescenta que a cartelização da economia brasileira prejudica a inovação e os investimentos. “Nenhum grande grupo econômico brasileiro é referência em inovação e tecnologia. Aqui predomina a exploração de recursos naturais e a gestão de carteis, isso vai dos bancos, passando pelos setores do agronegócio, da mineração até pelo mercado imobiliário”, critica.

Reportar Erro
Cartorio - Dez25

Deixe seu Comentário

Leia Também

Varejo brasileiro deve crescer 3,66% em 2026, aponta CNC
Economia
Varejo brasileiro deve crescer 3,66% em 2026, aponta CNC
Aeroporto será vendido
Economia
Anac aprova venda do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão
Bolsa Família
Economia
Caixa paga Bolsa Família a beneficiários com NIS de final 3 nesta sexta
Comércio de rua é um dos mais que abrem no país
Economia
Vendas no comércio voltam a ganhar fôlego e crescem 0,5% em outubro
Auxílio Gás é pago em dezembro
Economia
Beneficiários com NIS final 2 recebem Auxílio Gás nesta quinta-feira
Redução não muda questão salarial
Política
CCJ do Senado aprova fim da escala 6x1 e prevê jornada de 36h semanais
Governo confirma salário mínimo de R$ 1.621 em 2026
Economia
Governo confirma salário mínimo de R$ 1.621 em 2026
Foto: Divulgação
Economia
Brasileiros preferem presentes à transferência bancária, aponta pesquisa
Comércio de rua é um dos mais que abrem no país
Economia
Brasil registra recorde com 4,6 milhões de pequenos negócios em 2025
Valor da cesta básica segue sendo a sexta mais cara do país
Economia
Cesta básica consome 55% do salário mínimo dos campo-grandenses

Mais Lidas

O município recebeu três mil unidades e tem registrado alta procura
Saúde
Capital oferece Implanon gratuito no SUS para mulheres de 18 a 49 anos
Vídeo: Após vídeo com críticas à UPA, médica é exonerada em Campo Grande
Cidade
Vídeo: Após vídeo com críticas à UPA, médica é exonerada em Campo Grande
Homem foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros | Imagem ilustrativa
Polícia
Homem sofre exposição de osso do crânio após ser agredido por pessoas no Los Angeles
Polícia Civil e Científica estão pelo local
Polícia
VÍDEO - AGORA: Caminhoneiro é encontrado morto em pátio de posto de Campo Grande