Os ventos da primavera trouxeram uma boa notícia: o fogo deu uma trégua em Mato Grosso do Sul. Segundo o monitoramento do governo estadual, as áreas queimadas caíram 79,6% no Cerrado e 98% no Pantanal entre janeiro e setembro de 2025, comparadas ao mesmo período do ano passado. É uma vitória que merece ser celebrada — mas também compreendida com cuidado.
A redução das queimadas não significa que estamos fora de perigo. O Cerrado sul-mato-grossense, berço de rios e nascentes que alimentam o Pantanal, o Paraná e até a Amazônia, está reduzido a apenas 25% da sua cobertura original, segundo o MapBiomas. Em outras palavras: apagamos o fogo, mas ainda precisamos curar a ferida.
Os números refletem avanços reais — mais vigilância por satélite, ações coordenadas de brigadistas, campanhas educativas e o efeito das chuvas mais regulares. Mas também apontam uma questão estrutural: quando o bioma perde sua vegetação nativa, o ciclo natural da água, do solo e do ar se desorganiza. O fogo, muitas vezes, é só o sintoma visível de um desequilíbrio mais profundo.
E esse desequilíbrio já chega às cidades.
Quando o Cerrado se esvai, a umidade do ar cai, os rios secam, o calor urbano aumenta e a qualidade da água que chega às torneiras piora. Cada árvore perdida nas cabeceiras é uma gota a menos no futuro. Cada hectare devastado é um silêncio imposto à biodiversidade que sustenta nossa própria existência.
O desafio agora é manter a atenção.
O mesmo esforço que apagou as chamas precisa ser estendido à preservação das áreas remanescentes, ao controle do desmatamento e à responsabilização de quem polui ou degrada. Iniciativas como a “Semana da Pauta Verde” do Tribunal de Justiça de MS — com quase 400 audiências ambientais — mostram que a Justiça e a sociedade estão começando a agir em uníssono.
Apagar incêndios é urgente.
Mas reacender o amor pelo Cerrado é essencial.
Porque é desse chão que brotam os rios, as chuvas e a esperança.
E se há algo que o Pantanal nos ensina, é que a natureza sabe renascer — desde que a deixemos respirar.
Sérgio Carvalho – jornalista, roteirista e diretor de documentários
Reportar ErroDeixe seu Comentário
Leia Também

Opinião: 'O Agente Secreto' e a sensação de 'já acabou?'

OPINIÃO - MS Cannabis: ciência, futuro e oportunidade

Opinião - COP30: Um chamado global que começa em cada gesto nosso

VÍDEO: Motorista atropela duas crianças e foge sem prestar socorro em Três Lagoas

Justiça de Sidrolândia será a primeira a usar novo sistema eproc do TJMS

OPINIÃO: O novo desafio da educação

Defensoria do RJ aciona o STF após ser impedida de acompanhar perícias de mortos

OPINIÃO: Fidelidade partidária e os novos contornos para 2026

Santa Casa: Descumprimento de contrato e dívida mensal de R$ 12 mi ameaçam assistência


Queimadas em Mato Grosso do Sul caem mais de 90% no Pantanal (Foto: Divulgação/CBMMS )



