O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, afirmou que os Estados do Pará, Rondônia e Mato Grosso --nessa ordem-- são as áreas mais críticas do país quando o assunto é a violência no campo. Os três Estados, que estão localizados nas bordas da Floresta Amazônica, foram as últimas fronteiras agrícolas do país e sofrem com a ação de madeireiros e altos índices de desmatamento.
De acordo com dados da ouvidoria, no Pará, há cerca de 170 inquéritos referentes a homicídios de trabalhadores na zona rural. O Estado é disparado o campeão de violência no campo. Em segundo lugar está Rondônia, com cerca de 70 inquéritos, seguido pelo Mato Grosso, com 50 inquéritos. “A principal causa dessas mortes é a disputa pela terra. Em geral, os latifundiários se apropriam de grandes áreas públicas, os sem-terra descobrem e fazem ocupações nesses locais”, afirma Gercino.
O ouvidor aponta a regularização fundiária como a grande medida para reduzir a violência na região, mas admite que o orçamento do governo federal não permite a realização de uma ampla reforma agrária. “A reforma agrária acontece, porém não na velocidade que os trabalhadores rurais desejam e esperam. O governo federal se defende dizendo que está fazendo a reforma dentro daquilo que o orçamento possibilita”, diz.
Segundo Silva Filho, os crimes no campo são cometidos, via de regra, por madeireiros ilegais e grileiros (falsificadores) de terras públicas, e as vítimas são os trabalhadores rurais. “Os madeireiros e grileiros pegam empregados e jagunços para expulsar os trabalhadores das áreas. Também pressionam a polícia para retirar os acampados sem ordem judicial. É comum eles destruírem os barracos e os bens dos trabalhadores. Nos casos mais extremados, mandam até matar. Uns 98% dos mortos são sem-terra”, afirma.
O superintendente do Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária) em Marabá (PA), Edson Luiz Bonete, também avalia que os madeireiros são os principais responsáveis pelas mortes na campo. “Hoje o grande problema é a disputa pela madeira. No passado era entre o fazendeiro e o sem-terra, que antes faziam a disputa no corpo a corpo e hoje fazem na Justiça. Hoje a briga é entre o madeireiro e os pequenos produtores, os assentados”, diz.
Segundo Bonete, só na região de Carajás, que concentra as mais altas taxas de homicídios do país, há entre 10 e 12 mil famílias acampadas aguardando serem assentadas. Atualmente, de acordo com ele, há 500 assentamentos na região, no qual vivem quase 70 mil famílias, assentadas pelo Incra desde a década de 70.
O superintendente do Incra aponta três frentes de atuação para enfrentar a violência no meio rural: “é preciso melhorar a infraestrutura dos órgãos públicos, avançar com os programas de regularização fundiária e regularizar o corte da madeira e os processos ambientais”, afirma.
Bonete avalia positivamente a proposta de criação do Estado de Carajás, que será submetida a um plebiscito no segundo semestre deste ano. “Tem sido muito questionado a ausência do Estado. Com a criação de Carajás ficaria muito mais fácil o controle dos conflitos e a presença do poder público seria maior.”
Onda de mortes
Cinco camponeses foram mortos na região norte em menos de dez dias, quatro deles no sudeste paraense. O última morte foi de Marcos Gomes da Silva, 33, natural do Maranhão, assassinado em Eldorado dos Carajás no quarta-feira (1º).Na semana passada, três mortes ocorreram em Nova Ipixuna, também no sudeste do Pará: o casal de castanheiros José Cláudio Ribeiro da Silva, 52, e Maria do Espírito Santo da Silva, 50, ativistas que denunciavam a ação ilegal de madeireiros, foi executado na terça-feira (24); no domingo (29), foi encontrado o corpo de Eremilton Pereira dos Santos, 25, que morava no mesmo assentamento do casal.
Na sexta-feira (27), a vítima foi Adelino Ramos, o Dinho, liderança do Movimento Camponês Corumbiara (MCC), assassinado enquanto vendia verduras em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho (RO). Dinho foi um dos sobreviventes do massacre de Corumbiara --ocorrido em agosto de 1995, no qual pelo menos 12 pessoas morreram nas mãos de pistoleiros e PMs-- e também denunciava a atuação de madeireiros.
Ninguém foi preso pelos crimes ocorridos no Pará. Em Rondônia, o suspeito Ozias Vicente, que atuava na extração ilegal de madeira, foi detido na segunda-feira (30). A polícia investiga a participação de outras pessoas no crime.
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