A expectativa de alta no preço da gasolina, confirmada na noite da última sexta-feira (29) – e consequentemente também no etanol – está levando os consumidores de volta ao GNV. Em outubro, o número de conversões, segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), foi recorde no ano. Foram 3.087 conversões, 16% a mais que o melhor mês do ano, maio. "A expectativa de alta da gasolina já vinha influenciando bastante as conversões", diz R. Fernandes, coordenador do comitê de GNV do IBP. Até outubro, a frota total de veículos adaptados ao GNV era de 1,764 milhão de veículos.
No estado de São Paulo, é a primeira vez em anos que as conversões voltam a crescer. Segundo a Comgás, distribuidora de gás em São Paulo, o número de conversões subiu, em outubro, 7% na área de concessão da empresa. Em setembro, o primeiro mês em que o mercado cresceu nesses cinco anos, o total de conversões cresceu 27%.
A aceleração ainda é tímida em números absolutos, mas Vallejo tem esperança que essa seja uma virada do mercado. Ainda mais agora que o reajuste do preço da gasolina foi autorizado pela presidente Dilma Rousseff. “A gasolina prende o preço de todos os combustíveis, principalmente do álcool”, diz Ricardo Vallejo, coordenador de GNV da Comgás.
Simões Jr foi um dos que aproveitou a moda do gás natural, já que no começo dos anos 2000, o acesso a esse tipo de combustível transformou o GNV em uma febre. Em 2006, foram nada menos que 275 mil conversões de veículos – em geral taxistas e frotistas.
O problema veio no ano seguinte. Em 2007, a crise política com a Bolívia criou pânico no mercado e o debate sobre um possível racionamento de gás desencorajou quem pensava em converter os seus veículos e, desde então, os competidores desse mercado vêm acumulando perdas. “O mercado desandou por medo de uma crise que nunca aconteceu”, afirma Vallejo. Na época, o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, chegou a desaconselhar o uso do GNV.
Jorge Mathui, diretor comercial da Mat Cilindros, fabricantes de kits de gás natural do Rio de Janeiro, lembra bem dessa crise. "Muitos fabricantes acabaram saindo do mercado, convertedoras fecharam", conta. Agora, ele diz fazer parte de um "exército de brancaleone", dos que viam potencial no longo prazo. "Vejo uma perspectiva positiva para nós no próximo ano, principalmente com essa expectativa de aumento do etanol, já que ele é que é a maior concorrência", diz.
O executivo afirma estar animado, principalmente porque o número de desinstalações do kit parece estar caindo. "Na crise, veio o fenômeno das desinstalações. O mercado paralelo de kits usados gerou um impacto grande no nosso resultado", diz. "Só precisamos de uma faísca."
A alternativa também perde competitividade
Ao passo que o preço do GNV está estável, segundo o coordenador da Comgás, o mesmo não acontece com o etanol, que anda de mãos dadas com a gasolina nas oscilações de preço.
Se o preço da gasolina estiver realmente pressionado, como se diz, o consumidor deve esperar uma alta de até 6% no preço do “combustível completão”, como diz no slogan da campanha encampada pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) para estimular o consumo do setor.
A diferença deve crescer ainda mais com a chegada da entressafra da cana-de-açúcar em novembro, quando o preço do etanol, tradicionalmente, sobe. O período sem produção se estende até meados de abril. Nessa época, a média nacional de alta nos preços do etanol é de 7,3% – no entanto, a diferença chega a 25% em alguns estados, como no Paraná, segundo dados da Unica.
Mirian Bachi, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq), não espera uma aceleração de preços acima da média. “A exportação está baixa e estamos trabalhando com preço dentro da média histórica”, explica. “O etanol não deve subir mais que o de costume.”
No entanto, essa suposta pressão no preço da gasolina, somada à carga tributária do setor, tem deixado os usineiros bastante insatisfeitos com o mercado brasileiro. “Algumas usinas já estão trabalhando com resultado negativo”, afirma Mirian. “Esse ajuste precisa acontecer para que a indústria sucroenergética continue rodando. O custo de produção subiu demais, mas o preço do combustível não acompanhou.”
Mirian lembra que grandes grupos já tem buscado outras alternativas para compensar os resultados ruins do açúcar. “A Raízen, por exemplo, que começou exclusivamente nesse mercado, já está ampliando portfólio por isso”, diz, ressaltando que quanto maior a empresa, melhores suas capacidades de autofinanciamento. “Estamos contando com a produtividade dessa safra para garantir a receita das usinas.”Reportar Erro
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