Após a notícia que tomou conta das manchetes dos noticiários não apenas nacionais mas também da imprensa internacional, de que uma adolescente de 16 anos foi vítima de um estupro coletivo, o estupro veio levantar debates e pôs a sociedade brasileira à refletir sobre este crime tão mal-visto mas ainda tão comum no Brasil. A jovem foi abusada por 33 homens, que filmaram o crime e divulgaram em redes sociais, em uma comunidade do Rio de Janeiro.
No Mato Grosso do Sul, segundo o sistema de estatísticas da polícia do estado, 96 ocorrências de estupros foram registradas apenas durante o mês de maio, sendo que destas, 66 ocorreram no interior do Estado e 30 na Capital, Campo Grande.
O número, à primeira vista, parece assustar já que se trata de, em média, 3 ocorrências de estupro por dia que aconteceram no Estado. A prática deste crime, entretanto,tem um número ainda maior. Segundo uma pesquisa realizada em 2014 pelo projeto "Bem me Quer", 90% das vítimas de estupro não denunciam o agressor. Entre os motivos para a omissão do caso, medo, vergonha e humilhação são os mais comuns.
Para a psicóloga Branca Paperetti, coordenadora da Casa Eliane de Grammont, que também atende vítimas de violência, estupro e abusos também são subnotificados quando o agressor é um conhecido da vítima, principalmente quando ela tem (ou teve) um envolvimento afetivo ou amoroso com ele. De acordo com especialistas, o abuso sexual por parceiros, conhecidos ou ex-companheiros é mais comum do que por desconhecidos. E o fato da vítima conhecer a pessoa pode gerar uma naturalização do problema, em que a abusada é convencida de que aquilo é normal.
O preconceito é também um dos maiores fatores que levam à omissão do abuso. A ideia errônea de que a vítima se conduziu até a situação do abuso é um preconceito que existe e bem exemplificado pela notícia do estupro coletivo, onde a adolescente abusada ainda sofreu repúdio, ameaças e até mesmo intimidações por denunciar o crime. A sociedade tem o costume de naturalizar, através da justificação de pequenas ou grandes ações, um crime hediondo.
Hoje, o caso que se tornou manchete vem, mais uma vez, para nos fazer refletir sobre o que se fazer para evitar este tipo de abuso. A castração química, defendida por parte da população brasileira e também por alguns de seus representantes políticos, não é a solução. Segundo a psiquiatra, Sahika Yuksel, em entrevista ao canal de notícias de BBC, declaro que "É completamente errado supor que homens estupram por causa de necessidades hormonais. O estupro não é um ato sexual. É um ataque. Trata-se de vencer, de conseguir um objeto – e a mulher é objetificada neste caso. Trata-se de poder. E há também pessoas que sentem prazer com isso", relata.
Em uma sociedade defensora de valores que pregam a predominância do homem sobre a mulher desde a infância, não é de se espantar tais estatísticas. O problema, portanto, deve ser tratado pela raíz: mudar uma cultura que não vê problemas em objetificar mulheres constantemente, dentro de casa ou mídia. Enquanto isso, casos que chocam o Brasil vêm e nos mostram mais uma vez que, para diminuir o número de agressores, necessitamos de mudanças concretas.
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